Mostrar código-fonte de Pu Yi

{{Info/Nobre
| imagem = Pu Yi, Qing dynasty, China, Last emperor.jpg
| imagem-tamanho = 250px
| legenda = Retrato de Pu Yi por um fotógrafo desconhecido, {{circa}} Décadas de 1930 a 1940
| nome = Xuantong<br>{{nobold|{{lang|zh-hant|宣統帝}}}}
| título = [[Imperador da China]]
| sucessão = [[Imperador da China|Imperador da Dinastia Qing]]
| reinado = [[2 de dezembro]] de [[1908]]–[[12 de fevereiro]] de [[1912]]
| antecessor = [[Guangxu]]
| sucessor = ''Monarquia abolida''<br>[[Yuan Shikai]] como [[Presidente da República da China]]
| tipo-reg = Regentes
| regente = [[Zaifeng, Príncipe Chun]] <small>(1908–11)</small><br>[[Longyu|Imperatriz Longyu]] <small>(1911–12)</small>
| tipo-reinado2 = Segundo reinado
| reinado2 = [[1 de julho]] de [[1917]]–[[12 de julho]] de [[1917]]{{ref label|a|a}}
| sucessão3 = [[Manchukuo|Imperador de Manchukuo]]
| tipo-reinado3 = Reinado
| reinado3 = [[1 de março]] de [[1934]]–[[17 de agosto]] de [[1945]]
| predecessor3 = ''Ele mesmo'' como [[Manchukuo|Chefe do Executivo de Manchukuo]]
| sucessor3 = ''Cargo abolido''
| sucessão4 = [[Manchukuo|Chefe do Executivo de Manchukuo]]
| tipo-reinado4 = No cargo
| reinado4 = [[18 de fevereiro]] de [[1932]]–[[28 de fevereiro]] de [[1934]]
| predecessor4 = ''Cargo estabelecido''
| sucessor4 = ''Ele mesmo'' como [[Manchukuo|Imperador]]
| tipo-cônjuge = Consortes
| cônjuge = {{ubl|{{nowrap|{{Casamento|[[Wanrong]]|1922|1946|fim=div.}}}}|{{Casamento|[[Wenxiu]]|1922|1931|fim=div.}}|{{nowrap|{{Casamento|[[Tan Yuling]]|1937|1942|fim=m.}}}}|{{Casamento|[[Li Yuqin]]|1943|1957|fim=div.}}|{{Casamento|[[Li Shuxian]]|1962}}}}
| nome era = '''Império Qing'''
*{{nowrap|Xuantong (宣統) 1909–1912; 1917}}<br />
'''Manchukuo'''
* Datong (大同) 1932–1934
* Kangde (康德) 1934–1945
| casa real = [[Aisin Gioro]]
| dinastia = [[Dinastia Qing|Qing]] <small>(1908–1912, 1917)</small><br />[[Manchukuo]] <small>(1932–1945)</small>
| nome completo = Aisin-Gioro Puyi (愛新覺羅 溥儀)<br>[[Língua manchu|Manchu]]: Aisin-Gioro Pu I
| data de nascimento = [[7 de fevereiro]] de [[1906]]
| nascimento_local = [[Mansão do Príncipe Chun]], [[Pequim]], [[Dinastia Qing|Império Qing]]
| morte = [[17 de outubro]] de [[1967]] (61 anos)
| morte_local = Hospital da Faculdade de Medicina da União de Pequim, [[Pequim]], [[República Popular da China]]
| sepultamento = Cemitério Revolucionário de Babaoshan<br>Cemitério Imperial de Hualong <small>(atualmente)</small>
| pai = [[Zaifeng, Príncipe Chun|Zaifeng]], [[Príncipe Chun (醇)|Príncipe Chun de Primeira Classe]]
| mãe = [[Youlan (Gūwalgiya)|Gūwalgiya Youlan]]
| assinatura = Seal of the Kangde Emperor (Henry Puyi) Manchukuo.svg
}}{{Info/Chinês|t=溥儀|s=溥仪|p=Pǔyí|w=P'u-i}}{{Info/Chinês|t=宣統帝|s=宣统帝|p=Xuāntǒng Dì|w=Hsuan1-t'ung3 Ti4|título=Imperador Xuantong}}
O '''Imperador Xuantong''' ([[Pequim]], [[7 de fevereiro]] de [[1906]] – [[Pequim]], [[17 de outubro]] de [[1967]]), mais conhecido por seu [[nome pessoal]] '''Puyi''' (溥儀; também escrito '''Pu Yi'''), [[nome de cortesia]] '''Yaozhi''' (曜之), foi o último [[Imperador da China]] como o décimo primeiro e último monarca da [[Dinastia Qing]]. Mais tarde, ele foi governante do [[Estado-fantoche]] de [[Manchukuo]] sob o [[Império do Japão]] de 1934 a 1945. Tornou-se imperador aos dois anos de idade em 1908, mas foi forçado a abdicar aos seis anos de idade em 1912 durante a [[Revolução Xinhai]]. O nome de sua época como Imperador Qing, Xuantong (Hsuan-t'ung, 宣統), significa "proclamação de unidade".

Puyi foi brevemente [[Restauração Manchu|restaurado ao trono como imperador Qing]] pelo leal general [[Zhang Xun (República da China)|Zhang Xun]] de 1 a 12 de julho de 1917. Ele se casou pela primeira vez com a [[Wanrong|Imperatriz Wanrong]] em 1922 em um casamento arranjado. Em 1924, foi expulso da [[Cidade Proibida]] e encontrou refúgio em [[Tianjin]], onde começou a cortejar tanto os [[Senhores da guerra da China|senhores da guerra]] que lutavam pela hegemonia sobre a [[República da China (1912–1949)|China]] como os japoneses que há muito desejavam o controle da China. Em 1932, após a [[invasão japonesa da Manchúria]], o estado-fantoche de Manchukuo foi estabelecido pelo Japão, e ele foi escolhido para se tornar o chefe executivo do novo estado usando o nome da época de "Datong" (Ta-tung, 大同).

Em 1934, ele foi declarado [[Manchukuo|Imperador de Manchukuo]] com o nome de época "Kangde" (K'ang-te, 康德) e reinou sobre seu novo império até o final da [[Segunda Guerra Sino-Japonesa]] em 1945. Esta terceira passagem como imperador o viu como um fantoche do Japão; ele assinou a maioria dos decretos que os japoneses lhe deram. Durante este período, ele residiu principalmente no Palácio do Imposto do Sal, onde ordenava regularmente que seus servos fossem espancados. O [[Ópio|vício em ópio]] de sua primeira esposa a consumiu durante esses anos, e eles geralmente eram distantes. Ele assumiu inúmeras [[Concubinato|concubinas]], bem como amantes do sexo masculino. Com a [[Rendição do Japão|Queda do Japão]] (e, portanto, de Manchukuo) em 1945, Puyi fugiu da capital e acabou sendo capturado pelos [[Ocupação soviética da Manchúria|soviéticos]]; ele foi extraditado para a [[China|República Popular da China]] em 1950. Após sua captura, ele nunca mais viu sua primeira esposa; ela morreu de fome em uma prisão chinesa em 1946.

Puyi foi réu nos [[Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente|Julgamentos de Tóquio]] e mais tarde foi preso e reeducado como [[Crime de guerra|criminoso de guerra]] por 10 anos. Após sua libertação em 1959, ele escreveu suas memórias (com a ajuda de um escritor fantasma) e tornou-se membro titular da [[Conferência Consultiva Política do Povo Chinês]] e do [[Congresso Nacional do Povo|Congresso Nacional Popular]] da [[República Popular da China]]. O tempo que passou na prisão o mudou muito e ele expressou profundo pesar por suas ações enquanto era imperador. Ele morreu em 1967 e foi enterrado perto dos Túmulos Ocidentais de Qing, em um cemitério comercial.

== Imperador da China (1908–1912) ==
[[Ficheiro:溥儀,_繪畫肖像.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Retrato pintado de Puyi, 1908]]
Escolhido pela [[Cixi|Imperatriz Viúva Cixi]],<ref name="Politics in China: An Introduction2">{{Citar livro|título=Politics in China: An Introduction|ultimo=Joseph|primeiro=William A.|editora=Oxford University Press|ano=2010|isbn=978-0195335316}}</ref> Puyi tornou-se imperador aos 2 anos de idade e 10 meses em dezembro de 1908, depois que o [[Guangxu|Imperador Guangxu]], meio-tio de Puyi, morreu sem filhos em 14 de novembro. Intitulado '''Imperador Xuantong''' ([[Wade–Giles|Wade-Giles]]: '''Imperador Hsuan-t'ung'''), a introdução de Puyi na vida de imperador começou quando funcionários do palácio chegaram à residência de sua família para levá-lo. Na noite de 13 de novembro, sem qualquer aviso prévio, uma procissão de [[Eunuco|eunucos]] e guardas liderados pelo [[Moço de câmara|camareiro]] do palácio deixou a [[Cidade Proibida]] em direção à Mansão do Norte para informar ao [[Zaifeng, Príncipe Chun|Príncipe Chun]] que estavam levando seu filho Puyi, de dois anos, para ser o novo imperador.<ref>Behr (1987), pp.&nbsp;62–63</ref> O pequeno Puyi gritou e resistiu quando os oficiais ordenaram que os atendentes eunucos o pegassem.<ref name="The Last Emperor2">{{Citar livro|título=The Last Emperor|ultimo=Behr|primeiro=Edward|editora=Futura|ano=1998|páginas=63, 80|isbn=978-0708834398}}</ref> Os pais de Puyi não disseram nada quando souberam que estavam perdendo o filho.<ref name="Behr, 1987 p. 63">Behr, 1987 p. 63</ref> Enquanto Pu Yi chorava, gritando que não queria deixar seus pais, ele foi forçado a subir em um [[Liteira|palanquim]] que o levou de volta à Cidade Proibida.<ref name="Behr, 1987 p. 63" /> A [[ama de leite]] de Puyi, [[Wang Lianshou]], era a única pessoa da Mansão do Norte com permissão para ir com ele.<ref name="Behr, 1987 p. 63" /> Ao chegar à Cidade Proibida, Puyi foi levado para ver Cixi.<ref name="Behr, 1987 p. 65">Behr (1987), p.&nbsp;65</ref> Puyi escreveu mais tarde:

<blockquote>Ainda tenho uma vaga lembrança deste encontro, cujo choque deixou uma profunda impressão em minha memória. Lembro-me de me encontrar subitamente rodeado de estranhos, enquanto diante de mim estava pendurada uma cortina monótona através da qual eu podia ver um rosto emaciado e terrível e horrível. Esta era Cixi. Dizem que explodi em uivos altos ao ver isso e comecei a tremer incontrolavelmente. Cixi mandou alguém me dar uns doces, mas eu joguei no chão e gritei “quero babá, quero babá”, para seu grande desgosto. “Que criança travessa”, disse ela. "Leve-o para brincar."<ref name="Behr, 1987 p. 652">Behr (1987), p.&nbsp;65</ref></blockquote>

[[Ficheiro:Chinese_child,_Emperor_PU-YI_LCCN2014686335.jpg|miniaturadaimagem|Puyi com 2 anos, 1908]]
Cixi morreu no dia 15 de novembro, menos de dois dias após a reunião. O pai de Puyi, Príncipe Chun, tornou-se Príncipe Regente (攝政王). Durante a coroação de Puyi no Salão da Harmonia Suprema em 2 de dezembro de 1908, o jovem imperador foi levado ao Trono do Dragão por seu pai.<ref name="Behr, 1987 p. 653">Behr (1987), p.&nbsp;65</ref> Pu Yi ficou assustado com a cena diante dele e com os sons ensurdecedores dos tambores cerimoniais e da música, e começou a chorar. Seu pai não pôde fazer nada a não ser confortá-lo silenciosamente: "Não chore, isso acabará logo".<ref>Behr, 1987 p. 66</ref> Puyi escreveu em sua autobiografia:

<blockquote>Dois dias depois de ter entrado no palácio, Cixi morreu e no dia 2 de Dezembro teve lugar a “Grande Cerimônia de Entronização”, cerimónia que arruinei com as minhas lágrimas.<ref name="Aisin-Gioro, 2007 p. 32">Aisin-Gioro, 2007 p. 32</ref></blockquote>

Puyi não viu sua mãe biológica, a [[Youlan (Gūwalgiya)|Princesa Consorte Chun]], pelos sete anos seguintes. Ele desenvolveu um vínculo especial com Wang e a considerou a única pessoa que poderia controlá-lo. Ela foi mandada embora quando ele tinha oito anos. Depois que Puyi se casou, ele ocasionalmente a levava para a Cidade Proibida, e mais tarde para [[Manchukuo]], para visitá-lo. Após o perdão especial do governo em 1959, ela visitou o filho adotivo e só então ele soube de seus sacrifícios pessoais para ser sua enfermeira.<ref>Pu Yi 1988, pp.&nbsp;70–76</ref> Crescendo quase sem nenhuma lembrança de uma época em que não era mimado e reverenciado, Puyi rapidamente se tornou mimado. Os adultos de sua vida, exceto Wang, eram todos estranhos, remotos, distantes e incapazes de discipliná-lo.<ref name="Behr 1987 p. 74">Behr (1987), p.&nbsp;74</ref> Onde quer que ele fosse, homens adultos se ajoelhavam em uma reverência ritual, desviando os olhos até que ele passasse. Logo ele descobriu o poder absoluto que exercia sobre os eunucos e frequentemente os espancava por pequenas transgressões.<ref name="The Last Emperor3">{{Citar livro|título=The Last Emperor|ultimo=Behr|primeiro=Edward|editora=Futura|ano=1998|páginas=63, 80|isbn=978-0708834398}}</ref> Como imperador, todos os caprichos de Puyi foram atendidos enquanto ninguém lhe dizia não, tornando-o um menino sádico que adorava que seus eunucos fossem açoitados.<ref name="Behr, 1987 pp. 74–75">Behr (1987), pp.&nbsp;74–75</ref> O jornalista anglo-francês Edward Behr escreveu sobre o poder de Puyi como imperador da China, o que lhe permitiu disparar sua arma de ar comprimido contra quem quisesse:

<blockquote>O Imperador era Divino. Ele não poderia ser protestado ou punido. Ele só poderia ser aconselhado com deferência contra maltratar eunucos inocentes e, se decidisse disparar contra eles, essa seria sua prerrogativa. — Edward Behr<ref>Behr (1987), pp. 74–75.</ref></blockquote>

Puyi disse mais tarde: "Açoitar eunucos fazia parte de minha rotina diária. Minha crueldade e meu amor por exercer o poder já estavam firmemente estabelecidos para que a persuasão tivesse qualquer efeito sobre mim".<ref name="Behr 1987 p. 742">Behr (1987), p.&nbsp;74</ref>
[[Ficheiro:HenryPuYi.jpeg|direita|miniaturadaimagem|Imperador Pu Yi 1908]]
Wang era a única pessoa capaz de controlar Puyi; Certa vez, Pu Yi decidiu "recompensar" um eunuco por um show de marionetes bem feito, fazendo um bolo para ele com limalha de ferro, dizendo: "Quero ver como ele fica quando come".<ref name="Behr 1987 p. 743">Behr (1987), p.&nbsp;74</ref> Com muita dificuldade, Wang dissuadiu Puyi desse plano.<ref name="Behr 1987 p. 743" />

Todos os dias, Pu Yi visitava cinco ex-concubinas imperiais, chamadas de "mães", para relatar seu progresso. Ele odiava suas "mães", até porque elas o impediam de ver sua mãe verdadeira até os 13 anos.<ref>Behr, 1987 pp. 75–76</ref> Sua líder era a autocrática [[Longyu|Imperatriz Viúva Longyu]], que conspirou com sucesso para expulsar a amada ama de leite de Puyi, Wang, da Cidade Proibida quando ele tinha 8 anos, alegando que Puyi era velho demais para ser amamentado.<ref name="Behr, 1987 p. 76">Behr, (1987), p.&nbsp;76</ref> Puyi odiava especialmente Longyu por isso.<ref name="Behr, 1987 p. 76" /> Puyi escreveu mais tarde: "Embora eu tivesse muitas mães, nunca conheci nenhum amor maternal."<ref name="Behr, 1987 p. 76" /> A imperatriz viúva Longyu governou com autoridade suprema sobre a corte imperial Qing e, embora não fosse a "regente" de jure, ela era a governante de facto do Império Qing.

Puyi teve uma educação [[Confucionismo|confucionista]] padrão, aprendendo vários [[Textos clássicos chineses|clássicos chineses]] e nada mais.<ref name="Behr, 1987 p. 78">Behr (1987), p.&nbsp;78</ref> Mais tarde, ele escreveu: "Não aprendi nada de matemática, muito menos ciências, e por muito tempo não tinha ideia de onde ficava [[Pequim]]".<ref name="Behr, 1987 p. 78" /> Quando Pu Yi tinha 13 anos, ele conheceu seus pais e irmãos, os quais tiveram que se prostrar diante dele enquanto ele se sentava no Trono do Dragão.<ref name="Behr, 1987 p. 79">Behr (1987), p.&nbsp;79</ref> A essa altura, ele havia esquecido a aparência de sua mãe.<ref name="Behr, 1987 p. 79" /> Tamanho foi o espanto que o imperador sentiu que seu irmão mais novo, Pujie, nunca ouviu seus pais se referirem a Puyi como "seu irmão mais velho", mas apenas como o imperador.<ref name="Behr, 1987 p. 79" /> Pujie disse a Behr que sua imagem de Puyi antes de conhecê-lo era a de "um venerável velho com barba. Não pude acreditar quando vi esse menino com vestes amarelas sentado solenemente no trono".<ref name="Behr, 1987 p. 79" /> Embora Pu Yi pudesse ver sua família, isso raramente acontecia e sempre sob as regras sufocantes da etiqueta imperial. A consequência foi que a relação do imperador com seus pais ficou distante e ele se viu mais apegado à sua enfermeira, a Srta. Wang (que o acompanhou até a Cidade Proibida). Mais tarde, Puyi passou a receber visitas de irmãos e primos, que deram um certo ar de normalidade à sua infância única.<ref name="Aisin-Gioro, 2007 p. 322">Aisin-Gioro, 2007 p. 32</ref>

=== Eunucos e o Departamento Doméstico ===
Separado da família, Puyi viveu a infância em regime de virtual reclusão na Cidade Proibida, cercado por guardas, eunucos e outros servos que o tratavam como um deus. A educação do imperador foi uma mistura de mimos e maus-tratos, pois ele era obrigado a seguir todas as regras do rígido protocolo imperial chinês e era incapaz de se comportar como uma criança normal.<ref>Aisin-Gioro, 2007, pp. 29–74</ref>

Os eunucos eram escravos virtuais que faziam todo o trabalho na Cidade Proibida, como cozinhar, cuidar do jardim, limpar, receber convidados e o trabalho burocrático necessário para governar um vasto império. Eles também serviram como conselheiros do imperador.<ref>Behr, 1987 pp. 72–73</ref> A Cidade Proibida estava cheia de tesouros que os eunucos constantemente roubavam e vendiam no mercado negro.<ref name="Behr, 1987 p. 73">Behr, 1987 p. 73</ref> A tarefa do governo e de sustentar o imperador criou novas oportunidades de corrupção, nas quais praticamente todos os eunucos se envolveram.<ref name="Behr, 1987 p. 73" />

Puyi nunca teve privacidade e teve todas as suas necessidades atendidas em todos os momentos, tendo eunucos abrindo portas para ele, vestindo-o, lavando-o e até soprando ar em sua sopa para esfriá-la.<ref>Behr (1987), pp.&nbsp;72–75</ref> Nas refeições, Pu Yi era sempre presenteado com um enorme bufê contendo todos os pratos imagináveis, a grande maioria dos quais ele não comia, e todos os dias usava roupas novas, já que os imperadores chineses nunca reutilizavam suas roupas.<ref name="Behr, 1987 pp. 77–78">Behr (1987), pp.&nbsp;77–78</ref>

Após seu casamento, Pu Yi começou a assumir o controle do palácio. Ele descreveu "uma orgia de saques" que envolveu "todos, do mais alto ao mais baixo". Segundo Pu Yi, ao final da cerimônia de casamento, as pérolas e o jade da coroa da imperatriz foram roubados.<ref>Pu Yi 1988, p. 132</ref> Fechaduras foram quebradas e áreas saqueadas. O próximo plano de ação de Puyi era reformar o Departamento Doméstico. Neste período, ele trouxe mais pessoas de fora para substituir os oficiais aristocráticos tradicionais para melhorar a responsabilização. Ele nomeou [[Zheng Xiaoxu]] como ministro do Departamento Doméstico, e Zheng Xiaoxu contratou [[Tong Jixu]], um ex-oficial da Força Aérea do [[Exército de Beiyang|Exército Beiyang]], como seu chefe de gabinete para ajudar nas reformas. Mas no dia 27&nbsp;Em junho de 1923, um incêndio destruiu a área ao redor do Palácio da Felicidade Instituída, justamente no momento em que o imperador ordenava a realização do inventário de um dos armazéns imperiais. Puyi suspeitou que foi um incêndio criminoso para encobrir o roubo. O imperador ouviu conversas entre os eunucos que o fizeram temer pela sua vida. Em resposta, um mês após o incêndio, expulsou os eunucos do palácio com o apoio dos [[Exército de Beiyang|militares republicanos]].<ref>Pu Yi 1988, p. 136</ref> Os esforços de reforma não duraram muito antes de Puyi ser forçado a sair da Cidade Proibida por [[Feng Yu Xiang|Feng Yuxiang]].<ref>Pu Yi 1978, pp. 137–142</ref>

=== Abdicação ===
{{Artigo principal|Revolução Xinhai}}Em 10 de outubro de 1911, a guarnição do exército em [[Wuhan]] [[Revolta de Wuchang|amotinou-se]], provocando uma revolta generalizada no vale do rio Yangtze e além, exigindo a derrubada da dinastia Qing que governava a China desde 1644.<ref name="Behr 1987 p. 68">Behr 1987 p. 68</ref> O homem forte da China imperial tardia, o general [[Yuan Shikai]], foi despachado pela corte para esmagar a revolução, mas não o conseguiu, pois em 1911 a opinião pública tinha-se virado decisivamente contra os Qing e muitos chineses não tinham vontade de lutar por uma dinastia que foi visto como tendo perdido o [[Mandato do Céu]].<ref name="Behr 1987 p. 68" /> O pai de Puyi, o [[Zaifeng, Príncipe Chun|Príncipe Chun]], serviu como regente até 6 de dezembro, quando a [[Longyu|Imperatriz Viúva Longyu]] assumiu o poder após a [[Revolução Xinhai]].<ref name="The Last Emperors: A Social History of Qing Imperial Institutions">{{Citar livro|título=The Last Emperors: A Social History of Qing Imperial Institutions|ultimo=Rawski|primeiro=Evelyn S|editora=University of California Press|ano=2001|páginas=136, 287|isbn=978-0520228375}}</ref>

A Imperatriz Viúva Longyu endossou o "Édito Imperial de Abdicação do Imperador Qing" (清帝退位詔書) em 12 de fevereiro de 1912 sob um acordo negociado por Yuan, agora primeiro-ministro, com a corte imperial em Pequim e os republicanos no sul da China.<ref name="Manchus & Han: Ethnic Relations and Political Power in Late Qing and Early Republican China, 1861–1928">{{Citar livro|título=Manchus & Han: Ethnic Relations and Political Power in Late Qing and Early Republican China, 1861–1928|ultimo=Rhoads|primeiro=Edward J M|editora=University of Washington Press|ano=2001|páginas=226–227|isbn=978-0295980409}}</ref> Puyi relembrou em sua autobiografia o encontro entre Longyu e Yuan:

<blockquote>A Imperatriz Viúva estava sentada em uma kang [plataforma] em uma sala lateral do Palácio, enxugando os olhos com um lenço enquanto um velho gordo [Yuan] se ajoelhava diante dela em uma almofada vermelha, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Eu estava sentado à direita da viúva e me perguntava por que os dois adultos estavam chorando. Não havia ninguém na sala além de nós três e tudo estava muito silencioso; o gordo bufou enquanto falava e eu não conseguia entender o que ele estava dizendo... Este foi o momento em que Yuan levantou diretamente a questão da abdicação.<ref>Behr, 1987 p. 69</ref></blockquote>

== Vida na Cidade Proibida (1912–1924) ==
De acordo com os "Artigos de Tratamento Favorável do Grande Imperador Qing após Sua Abdicação" (清帝退位優待條件), assinados com a nova [[República da China (1912–1949)|República da China]], Puyi manteria seu título imperial e seria tratado pelo governo da República com o [[Cerimonial|protocolo]] anexado a um monarca estrangeiro. Puyi e a corte imperial foram autorizados a permanecer na metade norte da [[Cidade Proibida]] (os Apartamentos Privados), bem como no [[Yiheyuan|Palácio de Verão]]. Um robusto subsídio anual de quatro milhões de [[Tael|taéis]] de prata foi concedido pela República à casa imperial, embora nunca tenha sido totalmente pago e tenha sido abolido após apenas alguns anos. Puyi não foi informado em fevereiro de 1912 de que seu reinado havia terminado e a China era agora uma república, e continuou a acreditar que ainda era imperador por algum tempo.<ref>Behr, 1987 pp. 81–82</ref> Em 1913, quando a [[Longyu|imperatriz viúva Longyu]] morreu, o presidente Yuan chegou à Cidade Proibida para prestar suas homenagens, o que os tutores de Puyi lhe disseram que significava que grandes mudanças estavam em andamento.<ref name="Behr p. 84">Behr p. 84</ref>

Puyi logo descobriu que as verdadeiras razões para os Artigos de Acordo Favorável eram que o Presidente Yuan estava planejando restaurar a monarquia sendo ele mesmo o imperador de uma nova dinastia, e queria ter Puyi como uma espécie de guardião da Cidade Proibida até que pudesse mude-se.<ref name="Behr pp. 84–85">Behr pp. 84–85</ref> Puyi soube dos planos de Yuan de se tornar imperador quando trouxe bandas do exército para fazer uma serenata sempre que ele fazia uma refeição, e começou uma tomada decididamente imperial da presidência.<ref name="Behr p. 842">Behr p. 84</ref> Puyi passou horas olhando para o Palácio Presidencial em frente à Cidade Proibida e amaldiçoava Yuan sempre que o via entrar e sair em seu automóvel.<ref name="Behr p. 842" /> Puyi odiava Yuan como um "traidor" e decidiu sabotar seus planos de se tornar imperador, escondendo os Selos Imperiais, apenas para ser informado por seus tutores que ele simplesmente faria novos.<ref name="Behr pp. 84–85" /> Em 1915, Yuan [[Império da China (1915–1916)|proclamou-se imperador]] e planejava casar sua filha com Puyi, mas teve que abdicar diante da oposição popular.<ref>Behr p. 85</ref>

=== Breve restauração (1917) ===
{{Artigo principal|Restauração Manchu}}Em 1917, o senhor da guerra [[Zhang Xun (República da China)|Zhang Xun]] restaurou Puyi ao trono de 1 a 12 de julho.<ref name="Modern China: A Guide to a Century of Change2">{{Citar livro|título=Modern China: A Guide to a Century of Change|ultimo=Hutchings|primeiro=Graham|editora=Harvard University Press|ano=2003|isbn=978-0674012400}}</ref> Zhang Xun ordenou que seu exército mantivesse os [[Rabicho|rabichos]] para demonstrar lealdade ao imperador. No entanto, o então primeiro-ministro da República da China, [[Duan Qirui]], ordenou que um avião Caudron Tipo D, pilotado por Pan Shizhong (潘世忠) com o bombardeiro Du Yuyuan (杜裕源) do aeródromo de Nanyuan, lançasse três bombas sobre a Cidade Proibida como uma demonstração de força. contra Zhang Xun, causando a morte de um eunuco, mas infligindo danos menores.<ref>Stone of Heaven, Levy, Scott-Clark p. 184</ref><ref>{{Citar web|url=https://www.sohu.com/a/363336978_120497496|titulo=段祺瑞轰炸故宫，让溥仪成为中国历史上唯一挨过轰炸的皇帝_张勋|website=[[Sohu]]}}</ref> Este é o primeiro bombardeio aéreo registrado por uma [[Força Aérea de Taiwan|Força Aérea Chinesa]], e a restauração falhou devido à extensa oposição em toda a China.<ref name="Science and Football III2">{{Citar livro|título=Science and Football III|ultimo=Bangsbo|primeiro=Jens|ultimo2=Reilly|primeiro2=Thomas|ultimo3=Williams|primeiro3=A. Mark|editora=Taylor & Francis|ano=1996|volume=17|páginas=755–756|doi=10.1080/026404199365489|isbn=978-0419221609|pmid=10573330}}</ref>

=== Sir Reginald Johnston ===
<blockquote>…Na época em que a China era chamada de república e a humanidade avançava para o século XX, eu ainda vivia como imperador, respirando a poeira do século XIX.<ref>Puyi's ''From emperor to citizen'' (1987), p. 38</ref></blockquote>
[[Ficheiro:Reginald_Johnston.jpg|miniaturadaimagem|Tutor de Puyi, [[Reginald Fleming Johnston|Sir Reginald Johnston]]]]
[[Reginald Fleming Johnston|Sir Reginald Johnston]], um respeitado estudioso e diplomata britânico de [[Edimburgo|Edimburgo, Escócia]], chegou à Cidade Proibida como tutor de Puyi em 3 de março de 1919.<ref name="Behr 1987 p. 97">Behr 1987 p. 97</ref> O presidente Xu Shichang acreditava que a monarquia acabaria sendo restaurada e, para preparar Puyi para os desafios do mundo moderno, contratou Johnston para ensinar a Puyi "matérias como ciência política, história constitucional e inglês".<ref name="Li 2009 p. 113">Li 2009 p. 113</ref> Johnston teve permissão para ler apenas cinco textos em inglês: ''[[Alice no País das Maravilhas]]'' e traduções para o inglês dos "Quatro Grandes Livros" do [[Confucionismo]]; os ''[[Analectos de Confúcio|Analectos]]'', o ''Mêncio'', o ''Grande Saber'' e a ''Doutrina da Média''.<ref name="Li 2009 p. 113" /> Mas ele desrespeitou as regras e ensinou Puyi sobre a história mundial, com foco especial na história britânica.<ref name="Li 2009 p. 114">Li 2009 p. 114</ref> Além de história, Johnston ensinou filosofia a Puyi e sobre o que considerava a superioridade das monarquias sobre as repúblicas.<ref name="Li 2009 p. 114" /> Puyi lembrou que os penetrantes olhos azuis de seu tutor "me deixavam inquieto... eu o achava muito intimidante e estudava inglês com ele como um bom menino, não ousando falar de outras coisas quando ficava entediado... como fazia com meu outros tutores chineses".<ref>Behr 1987 p. 97.</ref>

[[Ficheiro:Titular_emperor_Puyi_of_China_in_the_Forbidden_City,_1910s_or_1920s.png|esquerda|miniaturadaimagem|Imperador titular Puyi na Cidade Proibida]]

Como a única pessoa capaz de controlar Puyi, Johnston tinha muito mais influência do que seu título de tutor inglês poderia sugerir, já que os eunucos começaram a confiar nele para afastar Puyi de seus humores mais caprichosos.<ref name="Behr 1987 p. 972">Behr 1987 p. 97</ref> Sob a influência do escocês, Puyi começou a insistir que seus eunucos o tratassem como "Henry" e mais tarde sua esposa [[Wanrong]] como "Elizabeth", já que Puyi começou a falar "Chinglish", uma mistura de [[Língua mandarim|mandarim]] e inglês que se tornou seu modo preferido de falar.<ref name="Behr 1987 p. 98">Behr 1987 p. 98</ref> Puyi relembrou Johnston: "Achei que tudo nele era de primeira classe. Ele me fez sentir que os ocidentais eram as pessoas mais inteligentes e civilizadas do mundo e que ele era o mais culto dos ocidentais" e que "Johnston havia se tornado o principal parte da minha alma".<ref>Behr 1987 pp. 98–99</ref> Em maio de 1919, Puyi percebeu os protestos em Pequim gerados pelo [[Movimento Quatro de Maio|movimento de 4 de maio]], enquanto milhares de estudantes universitários chineses protestavam contra a decisão das grandes potências na [[Conferência de Paz de Paris (1919)|conferência de paz de Paris]] de conceder as antigas concessões [[Império Alemão|alemãs]] na província de [[Xantum]] juntamente com a ex-colônia alemã de [[Qingdao]] para o Japão.<ref name="Behr 1987 p. 105">Behr 1987 p. 105</ref> Para Puyi, o movimento de 4 de maio, sobre o qual ele perguntou a Johnston, foi uma revelação, pois marcou a primeira vez em sua vida que ele percebeu que as pessoas fora da Cidade Proibida tinham preocupações que não eram sobre ele.<ref name="Behr 1987 p. 105" /> Após a primeira entrevista com o imperador, o académico britânico registou as suas impressões num relatório dirigido às autoridades britânicas; neste documento Johnston menciona:

<blockquote>Ele parece ser fisicamente robusto e bem desenvolvido para sua idade. É um rapaz muito “humano”, com vivacidade, inteligência e um sentido de humor entusiasmado. Além disso, tem excelentes maneiras e é totalmente isento de arrogância [...] Embora o imperador ainda não pareça ter sido mimado, pela bobagem e pela futilidade que o cerca, temo que não haja esperança de que ele saia ileso do perigos morais ao longo dos próximos anos de sua vida (anos necessariamente muito críticos para um menino no início da adolescência), a menos que ele possa ser afastado da influência das hordas de eunucos e outros funcionários inúteis que são agora quase seus únicos companheiros. Estou inclinado a pensar que a melhor ação a tomar no interesse do próprio menino seria retirá-lo da atmosfera prejudicial da “Cidade Proibida” e mandá-lo para o Palácio de Verão. Lá lhe seria possível viver uma vida muito menos artificial e mais feliz do que consegue nas condições atuais...<ref>Fleming Johnston, 2007, pp. 165–167</ref></blockquote>

[[Ficheiro:Johnston,_Puyi_and_Wanrong_in_the_Zhang_Garden.png|miniaturadaimagem|Puyi no Jardim Zhang com Wanrong e Johnston]]

Puyi não falava [[Língua manchu|manchu]]; ele só conhecia uma única palavra na língua, ''yili'' ("levantar-se"). Apesar de estudar Manchu durante anos, ele admitiu que foi sua “pior” matéria entre todas as que estudou.<ref>[https://books.google.com/books?id=_qtgoTIAiKUC&dq=arise+yili+puyi&pg=PA484 Elliott 2001], p. 484.</ref><ref>[https://books.google.com/books?id=RZNxAAAAMAAJ&q=arise+yili+puyi Puyi & Jenner 1987], p. 56.</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=ivYsAgAAQBAJ&q=arise+yili+puyi&pg=PT69|título=The Last Manchu|ultimo=Yi|primeiro=Henry Pu|data=2010|editora=Skyhorse|isbn=978-1626367258}}{{Falta página}}</ref><ref>[https://books.google.com/books?id=WpsMAQAAMAAJ&q=The+last+Qing+emperor+claimed+that+the+only+Manchu+phrase+he+ever+learned+to+speak+was+Hi,+%22+Arise! Elliott 1009], p. 66.</ref> Segundo o jornalista Syed Mohammad Ali, Puyi falava mandarim quando entrevistado, mas Ali acreditava que conseguia entender inglês.<ref>[https://books.google.com/books?id=0AJlAAAAMAAJ&q=puyi+spoke+mandarin Ali & Ally & Islam 1997], p. 392.</ref> Johnston também apresentou a Puyi a nova tecnologia do cinema, e Puyi ficou tão encantado com os filmes, especialmente os filmes de [[Harold Lloyd]], que instalou um projetor de filmes na Cidade Proibida, apesar da oposição dos eunucos.<ref>Behr, 1987 p. 102</ref> Johnston também foi o primeiro a argumentar que Puyi precisava de óculos já que havia desenvolvido [[miopia]], pois era extremamente míope, e depois de muita discussão com o príncipe Chun, que achava isso indigno para um imperador, finalmente prevaleceu.<ref>Behr, 1987 pp. 101–102</ref> Johnston, que falava mandarim fluentemente, acompanhou de perto a cena intelectual na China e apresentou a Puyi os livros e revistas chineses do "novo estilo", que inspiraram tanto Puyi que ele escreveu vários poemas que foram publicados anonimamente em publicações da "Nova China".<ref>Li 2009 p. 118</ref> Em 1922, Johnston fez com que seu amigo, o escritor [[Hu Shi]], visitasse a Cidade Proibida para ensinar Puyi sobre os desenvolvimentos recentes na [[Literatura da China|literatura chinesa]].<ref>Li 2009 p. 120</ref> Sob a influência de Johnston, Puyi abraçou a bicicleta como forma de se exercitar, cortou o rabicho e deixou crescer os cabelos, e quis ir estudar em [[Universidade de Oxford|Oxford]], ''a alma mater'' de Johnston.<ref name="Li 2009 p. 117">Li 2009 p. 117</ref> Johnston também apresentou o telefone a Puyi, no qual Puyi logo se viciou, ligando aleatoriamente para pessoas em Pequim apenas para ouvir suas vozes do outro lado da linha.<ref>Behr 1987 p. 100</ref> Johnston também pressionou Puyi a reduzir o desperdício e a extravagância na Cidade Proibida<ref>Behr 1987 p. 92</ref> e encorajou-o a ser mais autossuficiente.<ref>Behr 1987 p. 92.</ref>

=== Casamento ===
[[Ficheiro:Empress_of_China.JPG|miniaturadaimagem|[[Wanrong|Gobulo Wanrong]], esposa de Puyi e Imperatriz da China]]
[[Ficheiro:Wenxiu_smiling.jpg|miniaturadaimagem|Consorte secundária [[Wenxiu]]]]
Em março de 1922, as viúvas consortes decidiram que Puyi deveria se casar e deram-lhe uma seleção de fotos de adolescentes aristocráticas para escolher.<ref>Behr 1987 p. 107</ref> Puyi primeiro escolheu [[Wenxiu|Erdet Wenxiu]] como esposa, mas foi informado de que ela só era aceitável como [[Concubinato|concubina]], então ele teria que escolher novamente.<ref>Behr 1987 pp. 107–108</ref> Puyi afirmou mais tarde que os rostos eram pequenos demais para serem distinguidos.<ref>{{Citar livro|título=The Last Manchu: The Autobiography of Henry Pu Yi (Kindle).|páginas=1365 of 4752}}</ref> Puyi então escolheu [[Wanrong|Gobulo Wanrong]], filha de um dos aristocratas mais ricos da Manchúria, que havia sido educada em inglês por missionários americanos em Tianjin, que era considerada uma imperatriz aceitável pelas consortes viúvas.<ref name="Behr 1987 p. 108">Behr 1987 p. 108</ref> Em 15 de março de 1922, o noivado de Puyi e Wanrong foi anunciado nos jornais. Em 17 de março, Wanrong pegou o trem para Pequim e, em 6 de abril, Puyi foi ao santuário da família Qing para informar seus ancestrais que se casaria com ela ainda naquele ano.<ref name="Behr 1987 p. 108" /> Pu Yi não conheceu Wanrong até o casamento.<ref name="Behr 1987 p. 108" />

Em uma entrevista em 1986, o Príncipe Pujie disse a Behr: "Puyi falava constantemente sobre ir para a Inglaterra e se tornar um estudante de Oxford, como Johnston."<ref>Behr 1987 pp. 108–109</ref> Em 4 de junho de 1922, Pu Yi tentou escapar da Cidade Proibida e planejou emitir uma carta aberta ao "povo da China" renunciando ao título de Imperador antes de partir para Oxford.<ref name="Behr 1987 p. 109">Behr 1987 p. 109</ref> A tentativa de fuga falhou quando Johnston a vetou e se recusou a chamar um táxi, e Puyi ficou com muito medo de viver sozinho nas ruas de Pequim.<ref>Behr 1987 pp. 109–110</ref> Pujie disse sobre a tentativa de fuga de Puyi: "A decisão de Puyi não teve nada a ver com o casamento iminente. Ele se sentiu confinado e queria sair."<ref name="Behr 1987 p. 109" /> Johnston mais tarde relatou seu tempo como tutor de Puyi entre 1919 e 1924 em seu livro de 1934, ''Crepúsculo na Cidade Proibida'', uma das principais fontes de informação sobre a vida de Puyi neste período. Embora Behr tenha advertido que Johnston pintou um quadro idealizado de Puyi, evitando qualquer menção à sexualidade de Puyi, capacidade acadêmica meramente média, mudanças erráticas de humor e flagelação de eunucos. Pujie contou a Behr sobre o humor de Puyi: "Quando ele estava de bom humor, tudo estava bem e ele era um companheiro encantador. Se algo o perturbasse, seu lado negro emergiria<nowiki>''</nowiki>.<ref>{{Citar livro|título=The Last Emperor of China|ultimo=Behr|data=1987|páginas=91–102}}</ref> Em 21 de outubro de 1922, o casamento de Puyi com a Princesa Wanrong começou com os "presentes de noivado" de 18 ovelhas, 2 cavalos, 40 pedaços de cetim e 80 rolos de tecido marcharam da Cidade Proibida até a casa de Wanrong, acompanhados por músicos da corte e cavalaria.<ref>Behr 1987 p. 111</ref> Seguindo as tradições Manchu, onde os casamentos eram realizados sob o luar para dar sorte, uma enorme procissão de guardas do palácio, eunucos e músicos carregou a Princesa Wanrong em uma liteira vermelha chamada Cadeira Fênix<ref name="Behr 1987 p. 112">Behr 1987 p. 112</ref> dentro da Cidade Proibida, onde Puyi sentou-se no Trono do Dragão. Mais tarde, Wanrong curvou-se diante dele seis vezes em seus aposentos para simbolizar sua submissão ao marido enquanto o decreto de seu casamento era lido.<ref name="Behr 1987 p. 112" />

Wanrong usava uma máscara de acordo com a tradição chinesa e Puyi, que nada sabia de mulheres, lembrou: "Mal pensava em casamento e família. Foi só quando a Imperatriz entrou no meu campo de visão com um pano de cetim carmesim bordado com um dragão e uma fênix sobre sua cabeça que me deixou curioso para saber como ela era."<ref name="Behr 1987 p. 113">Behr 1987 p. 113</ref> Após a conclusão do casamento, Puyi, Wanrong e sua consorte secundária Wenxiu (com quem ele se casou na mesma noite) foram para o Palácio da Tranquilidade Terrestre, onde tudo era vermelho - a cor do amor e do sexo na China - e onde os imperadores tradicionalmente consumavam seus casamentos.<ref name="Behr 1987 p. 113" /> Pu Yi, que era sexualmente inexperiente e tímido, fugiu da câmara nupcial, deixando suas esposas dormindo sozinhas na Cama do Dragão.<ref name="Behr 1987 p. 114">Behr 1987 p. 114</ref> Sobre o fracasso de Puyi em consumar seu casamento na noite de núpcias, Behr escreveu:

<blockquote>Talvez fosse demais esperar que um adolescente, permanentemente rodeado de eunucos, demonstrasse a maturidade sexual de um jovem normal de dezessete anos. Nem as consortes viúvas nem o próprio Johnston lhe deram qualquer conselho sobre questões sexuais – este tipo de coisa simplesmente não era feito, no que dizia respeito aos imperadores: teria sido uma terrível violação do protocolo. Mas permanece o fato de que um adolescente totalmente inexperiente e superprotegido, se fosse normal, dificilmente deixaria de ser despertado pela beleza incomum e sensual de Wan Jung [Wanrong]. A inferência é, claro, que Pu Yi era impotente, extraordinariamente imaturo sexualmente ou já estava ciente de suas tendências homossexuais..<ref name="Behr 1987 p. 1142">Behr 1987 p. 114</ref></blockquote>

O irmão mais novo de Wanrong, Rong Qi, lembrou como Puyi e Wanrong, ambos adolescentes, adoravam correr de bicicleta pela Cidade Proibida, forçando os eunucos a saírem do caminho, e disse a Behr em uma entrevista: "Houve muitas risadas, ela e Puyi parecia se dar bem, eles eram como crianças juntos".<ref>Behr 1987 p. 115</ref> Em 1986, Behr entrevistou um dos dois eunucos sobreviventes de Puyi, um homem de 85 anos que estava relutante em responder às perguntas feitas a ele, mas finalmente disse sobre o relacionamento de Puyi com Wanrong: "O Imperador viria para a cerimônia nupcial apartamentos uma vez a cada três meses e passar a noite lá ... Ele saiu de manhã cedo no dia seguinte e durante o resto do dia estaria invariavelmente com um temperamento muito sujo.<ref>Behr 1987 pp. 115–116</ref> Um eunuco que serviu na Cidade Proibida como servo pessoal de Wanrong escreveu mais tarde em suas memórias que havia um boato entre os eunucos de que Puyi era gay, observando uma situação estranha em que Puyi lhe pediu para ficar dentro do quarto de Wanrong enquanto Puyi a apalpou.<ref>{{Citar livro|título=The Last Eunuch of China|páginas=130–135}}</ref> Outro eunuco afirmou que Puyi preferia a <nowiki>''</nowiki>via terrestre<nowiki>''</nowiki> dos eunucos à <nowiki>''</nowiki>via fluvial<nowiki>''</nowiki> da Imperatriz, o que implica que ele era gay.<ref>{{Citar livro|título=The Last Eunuch of China|páginas=130–135}}</ref>

Puyi raramente saía da Cidade Proibida, não sabia nada sobre a vida do povo chinês comum e foi um tanto enganado por Johnston, que lhe disse que a grande maioria dos chineses queria uma restauração Qing.<ref name="Li 2009 p. 1172">Li 2009 p. 117</ref> Johnston, um estudioso sinófilo e um conservador [[Romantismo|romântico]] com uma preferência instintiva por monarquias, acreditava que a China precisava de um autocrata benevolente para guiar o país adiante.<ref name="Li 2009 p. 1172" /> Ele era tradicionalista o suficiente para respeitar o fato de que todos os grandes eventos na Cidade Proibida eram determinados pelos [[Astrologia chinesa|astrólogos]] da corte.<ref>Behr 1987 p. 94.</ref> Johnston menosprezou a elite republicana chinesa superficialmente ocidentalizada, que se vestia com cartolas, sobrecasacas e ternos de negócios, como sendo inautenticamente chineses, e elogiou a Puyi os estudiosos confucionistas com suas vestes tradicionais como aqueles que eram autenticamente chineses.<ref name="Li 2009 p. 1172" />

Como parte de um esforço para reprimir a corrupção dos eunucos, inspirado por Johnston, Puyi ordenou um inventário dos tesouros da Cidade Proibida. O Salão da Felicidade Estabelecida foi incendiado na noite de 26 de junho de 1923, enquanto os eunucos tentavam encobrir a extensão do seu roubo.<ref name="Puyi and Kramer, 1967 ch. 11">Puyi and Kramer 1967</ref> Johnston relatou que no dia seguinte "encontrou o Imperador e a Imperatriz parados sobre uma pilha de madeira carbonizada, contemplando tristemente o espetáculo".<ref name="Behr 1987 p. 121">Behr 1987 p. 121</ref> Os tesouros relatados como perdidos no incêndio incluíam 2.685 estátuas douradas de Buda, 1 675 ornamentos de altar de ouro, 435 antiguidades de porcelana e 31 caixas de peles de zibelina, embora seja provável que a maioria, senão todas, tenham sido vendidas no mercado negro antes do incêndio.<ref>Behr 1987 p. 122</ref>

Pu Yi finalmente decidiu expulsar todos os eunucos da Cidade Proibida para acabar com o problema do roubo, apenas concordando em manter 50 depois que as Consortes Viúvas reclamaram que não poderiam funcionar sem eles.<ref>Behr 1987 pp. 122–123</ref> Pu Yi transformou o terreno onde antes ficava o Salão da Harmonia Suprema em uma quadra de tênis, pois ele e Wanrong adoravam jogar.<ref name="Behr 1987 p. 123">Behr 1987 p. 123</ref> O irmão de Wanrong, Rong Qi, relembrou: "Mas depois que os eunucos partiram, muitos dos palácios dentro da Cidade Proibida foram fechados e o lugar assumiu um ar desolado e abandonado".<ref name="Behr 1987 p. 123" /> Após o [[Grande sismo de Kantō|grande terremoto de Kantō]] em 1 de setembro de 1923 destruiu as cidades de Tóquio e Yokohama, Puyi doou antiguidades de jade no valor de cerca de £ 33 000 para pagar ajuda humanitária, o que levou uma delegação de diplomatas japoneses a visitar a Cidade Proibida para expressar seus agradecimentos.<ref>Behr 1987 p. 124.</ref> No relatório sobre a visita, os diplomatas observaram que Puyi era altamente vaidoso e maleável, podendo ser usado pelo Japão, o que marcou o início do interesse japonês por Puyi.<ref>Behr 1987 p. 124</ref>

== Expulsão da Cidade Proibida (1924) ==
[[Ficheiro:Wanrong_and_Puyi_in_1924.webm|esquerda|miniaturadaimagem|Vídeo de [[Wanrong]] e Puyi, 30 de novembro de 1924 (fonte: NHK)]]
[[Ficheiro:Puyi's_bedroom_in_the_Forbidden_City_after_being_expelled.jpg|miniaturadaimagem|Uma foto tirada do quarto de Puyi na Cidade Proibida logo após ser expulso]]
Em 23 de outubro de 1924, um [[Golpe de Pequim|golpe]] liderado pelo senhor da guerra [[Feng Yuxiang]] assumiu o controle de Pequim. Feng, o último dos senhores da guerra a tomar Pequim, procurava legitimidade e decidiu que a abolição dos impopulares Artigos de Acordo Favorável era uma forma fácil de obter a aprovação da multidão.<ref name="Behr 1987 p. 129">Behr 1987 p. 129</ref> Feng revisou unilateralmente os "Artigos de Tratamento Favorável" em 5 de novembro de 1924, abolindo o título e privilégios imperiais de Puyi e reduzindo-o a um cidadão particular da República da China. Puyi foi expulso da [[Cidade Proibida]] no mesmo dia.<ref name="Pioneers of Modern China: Understanding the Inscrutable Chinese">{{Citar livro|título=Pioneers of Modern China: Understanding the Inscrutable Chinese|ultimo=Choy|primeiro=Lee Khoon|editora=World Scientific Publishing Company|ano=2005|páginas=350–353|isbn=978-9812564641}}</ref> Ele teve três horas para sair.<ref name="Behr 1987 p. 129" /> Ele passou alguns dias na casa de seu pai, o [[Zaifeng, Príncipe Chun|príncipe Chun]], e depois residiu temporariamente na embaixada japonesa em Pequim.<ref name="Henry Pu Yi">{{Citar periódico |título=Henry Pu Yi |data=19 de julho de 1945 |periódico=Life Magazine |ultimo=Blakeney |primeiro=Ben Bruce |paginas=78–86}}</ref> Puyi deixou a casa de seu pai junto com Johnston e seu servo-chefe, Big Li, sem informar os servos do príncipe Chun, escapou de seus seguidores e foi para a legação japonesa.<ref>Behr 1987 pp. 147–148</ref> Puyi originalmente queria ir para a Legação Britânica, mas o japonófilo Johnston insistiu que estaria mais seguro com os japoneses.<ref name="Behr 1987 p. 149">Behr 1987 p. 149</ref> Para Johnston, o sistema em que o povo japonês adorava o seu imperador como um deus vivo estava muito mais próximo do seu ideal do que a monarquia constitucional britânica, e ele constantemente conduzia Puyi numa direção pró-japonesa.<ref name="Behr 1987 p. 149" /> No entanto, Johnston tentou fazer com que a legação diplomática britânica em Pequim hospedasse Puyi e, embora as autoridades britânicas não estivessem muito interessadas em receber o antigo imperador, o representante britânico acabou por dar o seu consentimento a Johnston. No entanto, Johnston descobriu mais tarde que Puyi - tendo em conta a situação e que Johnston não regressava dos seus esforços - tinha refugiado-se na legação japonesa após ser aconselhado por [[Zheng Xiaoxu]]. {{Sfn|Airlie|2012|p=198}} [[Kenkichi Yoshizawa|Yoshizawa]], um diplomata japonês, deu cumprimentos do governo japonês a Puyi, dizendo: <nowiki>''</nowiki>Nosso governo reconheceu formalmente o refúgio de Vossa Majestade em nossa legação e fornecerá proteção para você. <nowiki>''</nowiki><ref>{{Citar livro|título=The Last Emperor of China and His Five Wives}}</ref> O conselheiro de Puyi, [[Lu Zongyu]], que trabalhava secretamente para os japoneses, sugeriu que Puyi se mudasse para Tianjin, que ele argumentou ser mais seguro do que Pequim, embora a verdadeira razão fosse que os japoneses achavam que Puyi seria mais fácil de controlar em Tianjin sem o constrangimento de tê-lo morando na Legação Japonesa, o que prejudicava as relações com a China.<ref>Behr 1987 pp. 153–155</ref> Em 23 de fevereiro de 1925, Puyi deixou Pequim e foi para Tianjin vestindo um vestido chinês simples e solidéu, pois tinha medo de ser roubado no trem.<ref>Behr 1987 pp. 154–155</ref> Puyi descreveu sua viagem de trem para Tianjin, dizendo: <nowiki>''</nowiki> Em cada parada entre Pequim e Tianjin, vários policiais e agentes especiais japoneses em ternos pretos embarcavam no trem para que, quando chegássemos a Tianjin, meu carro especial estivesse quase metade ocupado por eles.<nowiki>''</nowiki><ref>{{Citar livro|título=The Last Manchu: The Autobiography of Henry Pu Yi – Kindle|páginas=Kindle location 1946 – page before chapter 14}}</ref>

== Residência em Tianjin (1925–1931) ==
[[Ficheiro:Puyi_in_the_Jing_Garden,_Tianjin,_1929-1931.png|miniaturadaimagem|Puyi no Jardim da Serenidade (靜園), como era no final dos anos 1920 e início dos anos 1930]]
Em fevereiro de 1925, Puyi mudou-se para a [[Concessões em Tianjin|Concessão Japonesa]] de [[Tianjin]], primeiro para o Jardim Chang (張園),<ref>{{Citar web|url=http://www.visitourchina.com/guide/quietness_garden.htm|titulo=Quietness Garden|website=visitourchina.com}}</ref> e em 1929<ref>{{Citar livro|título=The Last Emperor and His Five Wives.|páginas=36}}</ref> para a antiga residência de [[Lu Zong Yu|Lu Zongyu]] conhecida como Jardim da Serenidade ({{zh|primeiro=t|p=jìng yuán|s=静园|t=靜園}}).<ref name="Hygienic Modernity: Meanings of Health and Disease in Treaty–Port China">{{Citar livro|url=https://archive.org/details/hygienicmodernit0000roga|título=Hygienic Modernity: Meanings of Health and Disease in Treaty-Port China|ultimo=Rogaski|primeiro=Ruth|editora=University of California Press|ano=2004|isbn=978-0520240018|url-access=}}</ref> Um jornalista britânico, Henry Woodhead, chamou a corte de Puyi de "paraíso canino", já que tanto Puyi quanto Wanrong eram amantes de cães e possuíam vários cães muito mimados, enquanto os cortesãos de Puyi passavam muito tempo brigando entre si.<ref>Behr 1987 pp. 157–158</ref> Woodhead afirmou que as únicas pessoas que pareciam se dar bem na corte de Puyi eram Wanrong e Wenxiu, que eram "como irmãs".<ref>Behr 1987 p. 158</ref> Tianjin era, depois de Xangai, a cidade chinesa mais cosmopolita, com grandes comunidades britânicas, francesas, alemãs, russas e japonesas. Como imperador, Pu Yi foi autorizado a ingressar em vários clubes sociais que normalmente só admitiam brancos.<ref>Behr 1987 pp. 155–159</ref> Durante este período, Puyi e seus conselheiros [[Chen Baochen]], [[Zheng Xiaoxu]] e [[Luo Zhenyu]] discutiram planos para restaurar Puyi como imperador. Zheng e Luo eram a favor de obter ajuda de entidades externas, enquanto Chen se opunha à ideia. Em junho de 1925, o senhor da guerra [[Zhang Zuolin]] visitou Tianjin para conhecer Puyi.<ref name="Behr 1987 p. 160">Behr 1987 p. 160</ref> O "Velho Marechal" Zhang, um ex-bandido analfabeto, governava a Manchúria, uma região igual em tamanho à Alemanha e à França juntas, que tinha uma população de 30 milhões e era a região mais industrializada da China. Zhang fez uma reverência a Puyi em sua reunião e prometeu restaurar a Casa de Qing se Puyi fizesse uma grande doação financeira ao seu exército.<ref name="Behr 1987 p. 160" /> Zhang alertou Puyi de uma "maneira indireta" para não confiar em seus amigos japoneses.<ref name="Behr 1987 p. 161">Behr 1987 p. 161</ref> Zhang lutou a soldo dos japoneses, mas a essa altura suas relações com o [[Exército de Guangdong|Exército Kwantung]] estavam ficando tensas. Em junho de 1927, Zhang capturou Pequim e Behr observou que se Puyi tivesse tido mais coragem e retornado a Pequim, ele poderia ter sido restaurado ao Trono do Dragão.<ref name="Behr 1987 p. 161" /> Notou-se que Puyi disse em um artigo de 1927 no ''[[The Illustrated London News]]'' que “nunca desejo ser imperador novamente”.<ref>{{Citar web|ultimo=Illustrated London News Group|url=https://www.britishnewspaperarchive.co.uk/viewer/bl/0001578/19270625/011/0005|titulo=Illustrated London News – Saturday 25 June 1927 – A New Phase in China: Peking; And the Ex-Emperor|website=The British Newspaper Archive}}</ref>

A corte de Puyi era propensa ao partidarismo e seus conselheiros instavam-no a apoiar diferentes senhores da guerra, o que lhe deu uma reputação de duplicidade enquanto negociava com vários senhores da guerra, o que prejudicou suas relações com o marechal Zhang.<ref>Behr 1987 pp. 161–162</ref> Em vários momentos, Puyi conheceu o General [[Zhang Zongchang]], o "General Dogmeat", e o ''emigrado'' russo General [[Grigory Mikhaylovich Semyonov|Grigory Semyonov]] em sua casa em Tianjin; ambos prometeram restaurá-lo ao Trono do Dragão se ele lhes desse dinheiro suficiente, e ambos ficaram com todo o dinheiro que ele lhes deu para si.<ref name="Behr 1987 p. 162">Behr 1987 p. 162</ref> Puyi lembrou-se de Zhang como "um monstro universalmente detestado" com um rosto inchado e "tingido com o tom lívido induzido pelo fumo de ópio".<ref>Fenby 2004 p. 102.</ref> Semyonov, em particular, provou ser um vigarista talentoso, alegando como ''ataman'' ter vários exércitos cossacos sob seu comando, ter 300 milhões de rublos no banco e ser apoiado por bancos americanos, britânicos e japoneses em seus planos para restaurar tanto a Casa de Qing na China como a Casa de Romanov na Rússia.<ref name="Behr 1987 p. 162" /> Puyi concedeu a Semyonov um empréstimo de 5 000 libras esterlinas, que Semyonov nunca reembolsou.<ref name="Behr 1987 p. 162" /> Outro visitante do Jardim da Serenidade foi o general [[Kenji Doihara]], um oficial do exército japonês fluente em mandarim e um homem de grande charme que manipulou Puyi através de bajulação, dizendo-lhe que um grande homem como ele deveria ir conquistar a Manchúria e então, apenas como fizeram seus ancestrais Qing no século XVII, usar a Manchúria como base para conquistar a China.<ref>Behr 1987 p. 179</ref>
[[Ficheiro:Wanrong_and_Puyi_Tianjin.png|miniaturadaimagem|218x218px|Puyi, retratado com Wanrong]]
Em 1928, durante a [[Expedição do Norte|Grande Expedição do Norte]] para reunificar a China, as tropas saquearam os túmulos Qing fora de Pequim depois que o [[Kuomintang]] e seus aliados tomaram Pequim do exército de Zhang, que recuou para a Manchúria.<ref name="Behr 1987 pp. 167–168">Behr 1987 pp. 167–168</ref> A notícia de que os túmulos Qing foram saqueados e o cadáver da imperatriz viúva Cixi foi profanado ofendeu muito Puyi, que nunca perdoou o Kuomintang e responsabilizou pessoalmente [[Chiang Kai-shek]]; a demissão também mostrou sua impotência.<ref name="Behr 1987 pp. 167–168" /> Durante sua estada em Tianjin, Puyi foi cercado por visitantes que lhe pediam dinheiro, incluindo vários membros da vasta família Qing, antigos vassalos manchus, jornalistas preparados para escrever artigos pedindo uma restauração Qing pelo preço certo e eunucos que já viveram na Cidade Proibida e agora viviam na pobreza.<ref>Behr 1987 p. 174.</ref> Puyi muitas vezes ficava entediado com sua vida e fazia compras maníacas para compensar, lembrando que era viciado em "comprar pianos, relógios, relógios, rádios, roupas ocidentais, sapatos de couro e óculos".<ref>Behr 1987 p. 175.</ref>

A primeira esposa de Puyi, Wanrong, continuou a fumar ópio recreacionalmente durante este período.<ref name="Behr 1987 p. 176">Behr 1987 p. 176</ref> O casamento deles começou a desmoronar à medida que eles passavam cada vez mais tempo separados, encontrando-se apenas na hora das refeições.<ref name="Behr 1987 p. 176" /> Puyi escreveu em suas memórias:

<blockquote>Mesmo que eu tivesse apenas uma esposa, ela não teria achado a vida comigo interessante, já que minha preocupação era minha restauração. Francamente, eu não sabia nada sobre o amor. Em outros casamentos, marido e mulher eram iguais, mas para mim, esposa e consorte eram escravos e ferramentas de seu mestre.<ref>{{Cite book|titulo=The Last Manchu: The Autobiography of Henry Pu Yi, Last Emperor of China|pages=Kindle location 2243}}</ref></blockquote>

Wanrong reclamou que sua vida como "imperatriz" era extremamente monótona, pois as regras para uma imperatriz a proibiam de sair para dançar como ela queria, forçando-a a passar seus dias em rituais tradicionais que ela considerava sem sentido, ainda mais já que a China era uma república e o seu título de imperatriz era apenas simbólico.<ref name="Behr 1987 p. 1762">Behr 1987 p. 176</ref> A ocidentalizada Wanrong adorava sair para dançar, jogar tênis, usar roupas e maquiagem ocidentais, ouvir jazz e socializar com os amigos, o que todos os cortesãos mais conservadores se opunham.<ref name="Behr 1987 p. 1762" /> Ela se ressentia de ter que desempenhar o papel tradicional de imperatriz chinesa, mas não estava disposta a romper com Pu Yi.<ref name="Behr 1987 p. 1762" /> O mordomo de Puyi era secretamente um espião japonês e, em um relatório a seus mestres, ele descreveu Puyi e Wanrong um dia passando horas gritando um com o outro nos jardins, com Wanrong chamando repetidamente Puyi de "eunuco"; se ela quis dizer isso como uma referência à inadequação sexual não está claro.<ref>Behr 1987 pp. 176–177</ref> A irmã de Puyi, Yunhe, anotou em seu diário em setembro de 1930, que Puyi havia lhe contado que "ontem a Imperatriz ficou furiosa dizendo que havia sido intimidada por mim e proferiu palavras terríveis e absurdas".<ref>{{Citar livro|título=The Last Emperor and His Five Wives|páginas=Wanrong Chapter}}</ref> Em 1931, a concubina de Puyi, [[Wenxiu]], declarou que estava farta dele e de sua corte e simplesmente saiu, pedindo o divórcio.<ref>Behr 1987 p. 177</ref>

== Cativo na Manchúria (1931–1932) ==
Em setembro de 1931, Puyi enviou uma carta a [[Jirō Minami]], o Ministro da Guerra japonês, expressando seu desejo de ser restaurado ao trono. Na noite de 18 de setembro de 1931, o [[Incidente de Mukden]] começou quando o [[Exército de Guangdong|Exército Japonês Kwantung]] explodiu uma seção da ferrovia pertencente à [[Ferrovia do Sul da Manchúria]] de propriedade japonesa, e culpou o senhor da guerra Marechal [[Zhang Xueliang]].<ref>Behr 1987 p. 181</ref> Com este pretexto, o Exército Kwantung iniciou uma ofensiva geral com o objetivo de conquistar toda a Manchúria.<ref>Behr 1987 p. 182</ref> Puyi foi visitado por [[Kenji Doihara]], chefe do escritório de espionagem do Exército Japonês Kwantung, que propôs estabelecer Puyi como chefe de um estado da Manchúria. Os japoneses subornaram ainda um funcionário de um café para dizer a Puyi que havia um contrato contra sua vida na tentativa de assustar Puyi e fazê-lo se mudar.<ref>{{Citar livro|título=The Last Emperor|ultimo=Behr|páginas=191}}</ref>

A Imperatriz Wanrong foi firmemente contra os planos de Puyi de ir para a Manchúria, o que ela chamou de traição, e por um momento Puyi hesitou, levando Doihara a mandar chamar a prima de Puyi, a muito pró-japonesa [[Yoshiko Kawashima]] (também conhecida como "Jóia Oriental", ''Dongzhen''), visitá-lo para fazê-lo mudar de ideia.<ref name="Behr pp. 190–191">Behr pp. 190–191</ref> Yoshiko, uma mulher obstinada, extravagante e abertamente bissexual, conhecida por seu hábito de usar roupas e uniformes masculinos, teve muita influência em Puyi.<ref name="Behr pp. 190–191" /> No [[Incidente de Tientsin (1931)|Incidente de Tientsin]] durante novembro de 1931, Puyi e Zheng Xiaoxu viajaram para a Manchúria para completar os planos para o estado fantoche de [[Manchukuo]]. Puyi deixou sua casa em Tianjin escondendo-se no porta-malas de um carro.<ref>Behr 1987. p. 192.</ref> O governo chinês ordenou a sua prisão por traição, mas não conseguiu violar a proteção japonesa.<ref name="Henry Pu Yi2">{{Citar periódico |título=Henry Pu Yi |data=19 de julho de 1945 |periódico=Life Magazine |ultimo=Blakeney |primeiro=Ben Bruce |paginas=78–86}}</ref> Puyi embarcou em um navio japonês que o levou através do Mar de Bohai, e quando desembarcou em Port Arthur (atual Lüshun), foi recebido pelo homem que se tornaria seu acompanhante, o General [[Masahiko Amakasu]], que os levou a um resort de propriedade do Empresa Ferroviária do Sul da Manchúria.<ref name="Behr 1987 p. 193">Behr 1987 p. 193</ref> Amakasu era um homem temível que contou a Puyi como no [[Incidente Amakasu]] de 1923 ele fez com que a feminista [[Itô Noe|Noe Itō]], seu amante, o anarquista [[Sakae Osugi|Sakae Ōsugi]], e um menino de seis anos fossem estrangulados por serem "inimigos do Imperador", e ele da mesma forma, mataria Pu Yi se ele provasse ser um "inimigo do Imperador".<ref name="Behr 1987 p. 193" /> Chen Baochen retornou a Pequim, onde morreu em 1935.<ref name="Political Leaders of Modern China: A Biographical Dictionary">{{Citar livro|título=Political Leaders of Modern China: A Biographical Dictionary|ultimo=Leung|primeiro=Edwin Pak-Wah|editora=Greenwood|ano=2002|páginas=10, 127, 128|isbn=978-0313302169}}</ref>
Assim que chegou à Manchúria, Puyi descobriu que era um prisioneiro e não tinha permissão para sair do Hotel Yamato, aparentemente para protegê-lo de assassinato.<ref>Behr 1987 p. 194</ref> Wanrong permaneceu em Tianjin e se opôs à decisão de Puyi de trabalhar com os japoneses, exigindo que sua amiga Eastern Jewel a visitasse inúmeras vezes para convencê-la a ir para a Manchúria.<ref>Behr 1987 pp. 195–196</ref> Behr comentou que se Wanrong tivesse sido uma mulher mais forte ela poderia ter permanecido em Tianjin e pedido o divórcio mas no final das contas ela aceitou o argumento de Eastern Jewel de que era seu dever como esposa seguir o marido e seis semanas após o incidente de Tientsin ela também cruzou o Mar da China Oriental até Port Arthur com Eastern Jewel para lhe fazer companhia.<ref>Behr 1987 p. 196</ref>

No início de 1932, o General [[Seishirō Itagaki]] informou Puyi que o novo estado seria uma república com ele como Chefe do Executivo; a capital seria Changchun; sua forma de tratamento deveria ser "Vossa Excelência", não "Vossa Majestade Imperial"; e não deveria haver referências à decisão de Puyi com o "[[Mandato do Céu]]", o que desagradou Puyi.<ref name="Behr 1987 pp. 198–199">Behr 1987 pp. 198–199</ref> A sugestão de que Manchukuo se basearia na soberania popular com os 34 milhões de pessoas da Manchúria "pedir" que Puyi os governasse era completamente contrário às idéias de Puyi sobre seu direito de governar pelo Mandato do Céu.<ref name="Behr 1987 pp. 198–199" />
Itagaki sugeriu a Puyi que em poucos anos Manchukuo poderia se tornar uma monarquia e que a Manchúria era apenas o começo, já que o Japão tinha ambições de tomar toda a China; a implicação óbvia era que Puyi se tornaria o Grande Imperador Qing novamente.<ref name="Behr 1987 pp. 198–1992">Behr 1987 pp. 198–199</ref> Quando Puyi se opôs aos planos de Itagaki, foi-lhe dito que não estava em posição de negociar, pois Itagaki não tinha interesse nas suas opiniões sobre estas questões.<ref name="Behr 1987 p. 199">Behr 1987 p. 199</ref> Ao contrário de Doihara, que sempre foi muito educado e constantemente acariciava o ego de Puyi, Itagaki era brutalmente rude e brusco, gritando ordens como se fosse para um soldado comum particularmente estúpido.<ref name="Behr 1987 p. 199" /> Itagaki havia prometido ao principal conselheiro de Puyi, [[Zheng Xiaoxu]], que ele seria o primeiro-ministro de Manchukuo, uma oferta que apelou à sua vaidade o suficiente para persuadir Puyi a aceitar os termos japoneses, dizendo-lhe que Manchukuo logo se tornaria uma monarquia e a história se repetiria como Puyi conquistaria o resto da China a partir de sua base na Manchúria, assim como os Qing fizeram em 1644.<ref name="Behr 1987 p. 199" /> Na propaganda japonesa, Puyi sempre foi celebrado tanto em termos tradicionalistas como um "Rei Sábio" confucionista empenhado em restaurar a virtude quanto como um revolucionário que acabaria com a opressão das pessoas comuns por meio de um programa de modernização generalizada.<ref>Young 1998 p. 286</ref>

== Governante fantoche de Manchukuo (1932–1945) ==
[[Ficheiro:Puyi-colorized.jpg|miniaturadaimagem|Puyi como imperador de [[Manchukuo]].]]
Puyi aceitou a oferta japonesa e em 1o de março de 1932 foi empossado como [[Manchukuo|Chefe do Executivo de Manchukuo]], um [[estado-fantoche]] do [[Império do Japão]], sob o título de reinado '''Datong'''.<ref>Datong, [[Wade-Giles]]: '''Ta-tung'''; 大同</ref> Um comentarista contemporâneo, Wen Yuan-ning, brincou que Puyi havia agora alcançado a duvidosa distinção de ter sido "feito imperador três vezes sem saber por que e aparentemente sem gostar disso".<ref>Wen Yuan-ning, "Emperor Malgré Lui", in Wen Yuan-ning and others, ''Imperfect Understanding: Intimate Portraits of Modern Chinese Celebrities'', edited by Christopher Rea. Amherst, NY: Cambria Press, 2018, p. 117.</ref>
[[Ficheiro:PUYI_WANRONG.png|esquerda|miniaturadaimagem|Puyi e [[Wanrong]] deixando seu hotel em 8 de março de 1932 antes de viajar para a cerimônia oficial de fundação da Manchukuo em Changchun]]
Um artigo ''do New York Times'' de 1933 declarou: "Provavelmente não existe governante mais democrático ou mais amigável no mundo do que Henry Pu-yi, ex-imperador da China e agora Chefe do Executivo do novo Estado de Manchukuo".<ref>{{Citar jornal|url=https://www.nytimes.com/1933/11/08/archives/manchukuo-ruler-movie-enthusiast-former-emperor-of-450000000.html|titulo="Manchukuo Ruler Movie Enthusiast"; Former Emperor of 450,000,000 Chinese Also Is Devotee of Still Photography."|data=8 Nov 1933|website=New York Times|arquivourl=https://web.archive.org/web/20210222024655/https://www.nytimes.com/1933/11/08/archives/manchukuo-ruler-movie-enthusiast-former-emperor-of-450000000.html|arquivodata=2021-02-22|urlmorta=live}}</ref>

Puyi acreditava que Manchukuo era apenas o começo, e que dentro de alguns anos ele reinaria novamente como Imperador da China, tendo as vestes amarelas do dragão imperial usadas para coroação dos imperadores Qing trazidas de Pequim para [[Changchun]].<ref>Behr 1987 pp. 225–227</ref> Na época, a propaganda japonesa descreveu o nascimento de Manchukuo como um triunfo do pan-asianismo, com as "cinco raça " de japoneses, chineses, coreanos, manchus e mongóis se unindo, o que marcou nada menos que o nascimento de uma nova civilização. e um ponto de viragem na história mundial.<ref name="Behr 1987 p. 218">Behr 1987 p. 218</ref> Um comunicado de imprensa emitido em 1º de março de 1932 afirmou: "O glorioso advento de Manchukuo com os olhos do mundo voltados para ele foi um evento memorável de consequências de longo alcance na história mundial, marcando o nascimento de uma nova era no governo, nas relações raciais, e outros assuntos de interesse geral. Nunca nas crônicas da raça humana nenhum Estado nasceu com ideais tão elevados, e nunca nenhum Estado realizou tanto em tão breve espaço de sua existência como Manchukuo ".<ref name="Behr 1987 p. 218" />

Em 8 de março de 1932, Puyi fez sua entrada cerimonial em Changchun, compartilhando seu carro com Zheng, que estava radiante de alegria, Amakasu, cuja expressão era severa como sempre, e Wanrong, que parecia infeliz.<ref>Behr 1987 p. 213</ref> Puyi também observou que estava "muito preocupado com minhas esperanças e ódios" para perceber o "conforto frio que os cidadãos de Changchun, silenciosos por causa do terror e do ódio, estavam me dando".<ref>Behr 1987 p. 214</ref> O amigo de Puyi, o jornalista britânico Woodhead, escreveu: "fora dos círculos oficiais, não encontrei nenhum chinês que sentisse qualquer entusiasmo pelo novo regime", e que a cidade de Harbin estava sendo aterrorizada por gangsters chineses e russos que trabalhavam para os japoneses, tornando Harbin " sem lei... até mesmo sua rua principal fica insegura depois de escurecer".<ref>Behr 1987 p. 215</ref> Numa entrevista a Woodhead, Puyi disse que planeava governar Manchukuo "no espírito confucionista" e que estava "perfeitamente feliz" com a sua nova posição.<ref>Behr 1987 p. 225</ref>
[[Ficheiro:Puyi_and_Wanrong_on_March_8_of_1932.webm|esquerda|miniaturadaimagem|Puyi e Wanrong viajando para Changchun em março de 1932]]
Em 20 de abril de 1932, a Comissão Lytton chegou à Manchúria para iniciar a investigação sobre se o Japão havia cometido agressão.<ref name="Behr 1987 p. 2182">Behr 1987 p. 218</ref> Puyi foi entrevistado por Lord Lytton e lembrou-se de ter pensado que queria desesperadamente pedir-lhe asilo político na Grã-Bretanha, mas como o General Itagaki estava sentado ao lado dele na reunião, ele disse a Lytton que "as massas populares me imploraram que estava por vir, que a minha estadia aqui foi absolutamente voluntária e gratuita".<ref>Behr 1987 pp. 219–220.</ref> Após a entrevista, Itagaki disse a Puyi: “Os modos de Vossa Excelência foram perfeitos; você falou lindamente”.<ref>Behr 1987 p. 220.</ref> O diplomata [[Wellington Koo]], vinculado à comissão como assessor chinês, recebeu uma mensagem secreta dizendo "...um representante da casa imperial em Changchun queria me ver e tinha uma mensagem confidencial para mim".<ref>Behr 1987 p. 223</ref> O representante, se passando por antiquário, "...&nbsp;me disse que ele foi enviado pela Imperatriz: Ela queria que eu a ajudasse a escapar de Changchun. Ele disse que ela achava a vida miserável lá porque estava cercada em sua casa por empregadas japonesas. Cada movimento dela foi observado e relatado".<ref name="Behr 1987 p. 223">Behr 1987 p. 223.</ref> Koo disse que ficou "tocado", mas não pôde fazer nada para ajudar Wanrong a escapar, o que seu irmão Rong Qi disse ter sido o "golpe final" para ela, levando-a a uma espiral descendente.<ref name="Behr 1987 p. 223" /> Desde o início, a ocupação japonesa suscitou muita resistência por parte dos guerrilheiros, a quem o Exército Kwantung chamou de "bandidos". O general Doihara conseguiu, em troca de um suborno multimilionário, fazer com que um dos líderes guerrilheiros mais proeminentes, o general muçulmano Hui Ma Zhanshan, aceitasse o domínio japonês, e fez com que Puyi o nomeasse Ministro da Defesa.<ref name="auto2">Behr 1987 p. 226.</ref> Para grande desgosto de Puyi e dos seus senhores japoneses, a deserção de Ma tornou-se um estratagema e, apenas alguns meses depois de Puyi o ter nomeado Ministro da Defesa, Ma levou as suas tropas para além da fronteira com a União Soviética para continuar a luta contra os japoneses.<ref name="auto2" />
[[Ficheiro:伪满皇帝溥仪颁发的即位诏书。伪满皇宫博物院.jpg|miniaturadaimagem|Édito de Pu Yi de ascender ao trono]]
O [[Hirohito|imperador do Japão]] queria ver se Puyi era confiável antes de lhe dar um título imperial, e foi somente em outubro de 1933 que o general Doihara lhe disse que ele seria imperador novamente, fazendo com que Puyi se tornasse, em suas próprias palavras, "selvagem". com alegria", embora tenha ficado desapontado por não ter recebido de volta seu antigo título de "Grande Imperador Qing".<ref>Behr 1987 pp. 226–227</ref> Ao mesmo tempo, Doihara informou a Puyi que "o Imperador [do Japão] é seu pai e está representado em Manchukuo como o exército Kwantung que deve ser obedecido como um pai".<ref>Behr 1987 p. 227</ref> Desde o início, Manchukuo foi famoso por seu alto índice de criminalidade, à medida que gangues de gângsteres chineses, coreanos e russos patrocinadas pelos japoneses lutavam entre si pelo controle de casas de ópio, bordéis e casas de jogo.<ref>Stephen, 1978 p. 64–65, 78–79.</ref> Havia nove diferentes agências policiais/de inteligência japonesas ou patrocinadas por japoneses operando em Manchukuo, que foram informadas por Tóquio de que o Japão era um país pobre e que deveriam pagar por suas próprias operações envolvendo-se no crime organizado.<ref>Stephen, 1978 p. 64–65.</ref> O aventureiro italiano Amleto Vespa lembrou que o general [[Kenji Doihara]] lhe disse que a Manchúria teria de pagar pela sua própria exploração.<ref>Behr 1987 p. 207</ref> Em 1933, Simon Kaspé, um pianista judeu francês que visitava seu pai em Manchukuo, dono de um hotel em Harbin, foi sequestrado, torturado e assassinado por uma gangue antissemita dos [[Partido fascista russo|fascistas russos]]. O caso Kaspé tornou-se uma ''causa célebre'' internacional, atraindo muita atenção da mídia em todo o mundo, levando a dois julgamentos em Harbin em 1935 e 1936, como prova de que a gangue fascista russa que matou Kaspé trabalhava para a ''[[Kempeitai|Kenpeitai]]'', a polícia militar do [[Exército Imperial Japonês]], tornou-se forte demais até mesmo para Tóquio ignorar.<ref name="auto3">Stephan, 1978 p. 166</ref> Puyi foi retratado como tendo (com uma pequena ajuda do Exército Kwantung) salvado o povo do caos do governo da família Zhang.<ref name="auto4">Dubois 2008 p. 306.</ref> A alta taxa de criminalidade de Manchukuo e o muito divulgado caso Kaspé zombaram da afirmação de que Puyi havia salvado o povo da Manchúria de um regime violento e sem lei.<ref name="auto4" />

=== Imperador de Manchukuo ===
[[Ficheiro:Manchukuo_Enthronement_Medal.jpg|miniaturadaimagem|189x189px|Medalha Comemorativa da Entronização de Manchukuo]]
Em 1 de março de 1934, ele foi coroado [[Manchukuo|Imperador de Manchukuo]], sob o título de reinado '''Kangde''' ([[Wade–Giles]]: '''Kang-te'''; 康德) em Changchun. Um sinal dos verdadeiros governantes de Manchukuo foi a presença do General [[Masahiko Amakasu]] durante a coroação; aparentemente lá como diretor de filme para registrar a coroação, Amakasu serviu como guarda de Puyi, mantendo-o sob vigilância cuidadosa para evitar que ele saísse do roteiro.<ref>Behr 1987 p. 213.</ref> [[Wanrong]] foi excluída da coroação: seu vício em ópio, sentimentos antijaponeses, antipatia por Puyi e sua crescente reputação de ser "difícil" e imprevisível levaram Amakasu à conclusão de que não se podia confiar nela para seguir o roteiro.<ref name="Behr 1987 p. 228">Behr 1987 p. 228.</ref> Embora submisso em público aos japoneses, Puyi estava constantemente em conflito com eles em particular. Ele se ressentiu de ser "Chefe de Estado" e depois "Imperador de Manchukuo", em vez de ser totalmente restaurado como Imperador Qing. Em sua entronização, ele entrou em conflito com o Japão por causa do vestuário; eles queriam que ele usasse um uniforme estilo Manchukuo, enquanto ele considerava um insulto usar qualquer coisa que não fosse as tradicionais vestes Manchu. Num compromisso típico, ele usou um uniforme militar ocidental na sua entronização<ref>Pu Yi 1988, p. 275</ref> (o único imperador chinês a fazê-lo) e uma túnica de dragão no anúncio da sua ascensão no [[Templo do Céu]].<ref>Pu Yi 1988, p. 276</ref> Puyi foi levado para sua coroação em uma limusine Lincoln com janelas à prova de balas seguida por nove Packards, e durante sua coroação os pergaminhos foram lidos enquanto garrafas de vinho sagradas eram abertas para os convidados celebrarem o início de um "Reino de Tranquilidade e Virtude".<ref>Fenby 2004 p. 243</ref> Os convites para a coroação foram emitidos pelo Exército Kwantung e 70% dos que compareceram à coroação de Puyi eram japoneses.<ref name="Behr 1987 p. 228" /> A revista ''[[Time (revista)|Time]]'' publicou um artigo sobre a coroação de Puyi em março de 1934.<ref>{{Citar web|url=/media/wikipedia/commons/4/4d/Wanrong_and_Puyi_in_Time_magazine_-_March_1934.jpg|titulo=Time magazine March 1934|arquivourl=https://web.archive.org/web/20210815185544//media/wikipedia/commons/4/4d/Wanrong_and_Puyi_in_Time_magazine_-_March_1934.jpg|arquivodata=2021-08-15|urlmorta=live}}</ref>

Os japoneses escolheram como capital de Manchukuo a cidade industrial de [[Changchun]], que foi rebatizada de Xinjing. Puyi queria que a capital fosse Mukden (atual [[Cheniangue|Shenyang]]), que havia sido a capital Qing antes da conquista da China pelos Qing em 1644, mas foi rejeitada por seus senhores japoneses.<ref name="Behr 1987 p. 214">Behr 1987 p. 214.</ref> Puyi odiava Xinjing, que ele considerava uma cidade industrial indistinta, sem as conexões históricas com os Qing que Mukden tinha.<ref name="Behr 1987 p. 214" /> Como não havia palácio em Changchun, Puyi mudou-se para o que outrora fora o escritório da Administração do Imposto sobre o Sal durante o período russo e, como resultado, o edifício ficou conhecido como Palácio do Imposto sobre o Sal, que hoje é o Museu do Palácio Imperial de Manchukuo.<ref name="Behr 1987 p. 214" /> Puyi vivia lá como um prisioneiro virtual e não podia sair sem permissão.<ref name="Behr 1987 p. 253">Behr 1987 p. 253.</ref> Pouco depois da coroação de Puyi, seu pai chegou à estação ferroviária de Xinjing para uma visita,<ref name="Behr 1987 p. 2282">Behr 1987 p. 228.</ref> O Príncipe Chun disse a seu filho que ele era um idiota se realmente acreditasse que os japoneses iriam restaurá-lo ao Trono do Dragão, e avisou-o que ele estava apenas sendo usado.<ref name="Behr 1987 p. 229">Behr 1987 p. 229.</ref> A embaixada japonesa emitiu uma nota de protesto diplomático às boas-vindas estendidas ao Príncipe Chun, afirmando que a estação ferroviária de Xinjing estava sob o controle do Exército de Kwantung, que apenas soldados japoneses eram permitidos lá e que não tolerariam o uso da guarda imperial Manchukuo. para receber novamente os visitantes na estação ferroviária de Xinjing.<ref name="Behr 1987 p. 229" />
[[Ficheiro:Hirohito,_Pu_Yi,_Stalin_&_Chiang_Time_Cover.jpg|miniaturadaimagem|198x198px|Capa da [[Time (revista)|Time]] com fotos individuais de [[Hirohito]], [[Pu Yi|Puyi]], [[Josef Stalin|Stalin]] e [[Chiang Kai-shek]].]]
Neste período, Puyi visitou frequentemente as províncias de Manchukuo para abrir fábricas e minas, participou nas celebrações do aniversário do [[Hirohito|Imperador Showa]] no quartel-general do Exército de Kwantung e, no feriado japonês do Memorial Day, prestou formalmente os seus respeitos com rituais japoneses ao almas dos soldados japoneses mortos lutando contra os "bandidos" (como os japoneses chamavam todos os guerrilheiros que lutavam contra o seu domínio na Manchúria).<ref name="Behr 1987 p. 2292">Behr 1987 p. 229.</ref> Seguindo o exemplo do Japão, os alunos de Manchukuo, no início de cada dia escolar, curvavam-se primeiro na direção de Tóquio e depois diante de um retrato de Puyi na sala de aula.<ref name="Behr 1987 p. 2292" /> Puyi achou isso “intoxicante”.<ref name="Behr 1987 p. 2292" /> Ele visitou uma mina de carvão e em seu japonês rudimentar agradeceu ao capataz japonês por seu bom trabalho, que começou a chorar ao agradecer ao imperador; Puyi escreveu mais tarde que "''O tratamento que recebi realmente subiu à minha cabeça''".<ref>Behr 1987 pp. 229–230.</ref>

Sempre que os japoneses queriam que uma lei fosse aprovada, o decreto relevante era deixado no Salt Tax Palace para Puyi assinar, o que ele sempre fazia.<ref name="Behr 1987 p. 244">Behr 1987 p. 244</ref> Puyi assinou decretos expropriando vastas extensões de terras agrícolas para os colonos japoneses e uma lei declarando certos pensamentos como "crimes de pensamento", levando Behr a observar: "Em teoria, como 'Comandante Supremo', ele assumiu total responsabilidade pelas atrocidades japonesas cometidas em seu nome em 'bandidos' anti-japoneses e cidadãos chineses patrióticos."<ref name="Behr 1987 p. 244" /> Behr observou ainda que o "Império de Manchukuo", anunciado como um estado idealista onde as "cinco raças" de chineses, japoneses, coreanos, manchus e mongóis se uniram na irmandade pan-asiática, era na verdade "um dos países mais brutalmente geridos do mundo – um exemplo clássico de colonialismo, embora do tipo oriental".<ref>Behr 1987 p. 202</ref> Manchukuo era uma farsa e era uma colônia japonesa administrada inteiramente para o benefício do Japão.<ref>Behr 1987 pp. 203–204</ref> O historiador americano [[Carter J. Eckert]] escreveu que as diferenças de poder podiam ser vistas no fato de que o Exército Kwantung tinha um quartel-general "enorme" no centro de Xinjing, enquanto Puyi tinha que viver no "pequeno e pobre" Palácio do Imposto sobre o Sal, perto da principal estação ferroviária. em uma parte de Xinjing com inúmeras pequenas fábricas, armazéns e matadouros, a prisão principal e o distrito da luz vermelha.<ref>Eckert 2016 p. 162</ref>

Behr comentou que Puyi sabia, por meio de suas conversas em Tianjin com o general [[Kenji Doihara]] e o general [[Seishirō Itagaki]], que estava lidando com "homens cruéis e que este poderia ser o regime a ser esperado".<ref name="Behr 1987 p. 211">Behr 1987 p. 211</ref> Puyi mais tarde lembrou que: "Eu coloquei minha cabeça na boca do tigre" ao ir para a Manchúria em 1931.<ref name="Behr 1987 p. 211" />
[[Ficheiro:Chu_Kudō_with_Emperor_Puyi.jpg|direita|miniaturadaimagem|Puyi (à direita) como Imperador de Manchukuo. À esquerda está [[Chū Kudō]].]]
De 1935 a 1945, o oficial sênior do Estado-Maior do Exército de Kwantung, Yoshioka Yasunori (吉岡安則)<ref name="Yasunori Yoshioka, Lieutenant-General (1890–1947)">{{Citar web|url=http://www.generals.dk/general/Yoshioka/Yasunori/Japan.html|titulo=Yasunori Yoshioka, Lieutenant-General (1890–1947)|acessodata=17 Ago 2010|website=The Generals of WWII – Generals from Japan|publicado=Steen Ammentorp, Librarian DB., M.L.I.Sc.}}</ref> foi designado para Puyi como Adido da Casa Imperial em Manchukuo. Ele atuou como espião do governo japonês, controlando Puyi por meio do medo, intimidação e ordens diretas.<ref>Pu Yi 1988, pp. 284–320</ref> Houve muitos atentados contra a vida de Puyi durante este período, incluindo um esfaqueamento em 1937 por um servo do palácio.<ref name="Henry Pu Yi3">{{Citar periódico |título=Henry Pu Yi |data=19 Jul 1945 |periódico=Life Magazine |ultimo=Blakeney |primeiro=Ben Bruce |paginas=78–86}}</ref>

Em 1935, Puyi visitou o Japão.<ref>Behr 1987 p. 231.</ref> O segundo secretário da Embaixada do Japão em Xinjing, Kenjiro Hayashide, serviu como intérprete de Puyi durante esta viagem, e mais tarde escreveu o que Behr chamou de um livro muito absurdo, ''The Epochal Journey to Japan'', narrando esta visita, onde conseguiu apresentar todas as declarações banais feito por Puyi como profunda sabedoria, e afirmou que escreveu uma média de dois poemas por dia em sua viagem ao Japão, apesar de estar ocupado participando de todos os tipos de funções oficiais.<ref>Behr 1987 pp. 230–231.</ref> Hayashide também escreveu um livreto promovendo a viagem ao Japão, que afirmava que Puyi era um grande leitor que "quase nunca era visto sem um livro nas mãos", um calígrafo habilidoso, um pintor talentoso e um excelente cavaleiro e arqueiro, capaz atirar flechas enquanto cavalgava, assim como seus ancestrais Qing.<ref name="Behr 1987 p. 231">Behr 1987 p. 231</ref> O imperador Shōwa levou muito a sério a afirmação de que Puyi era um hipófilo e presenteou-o com um cavalo para ele revisar o Exército Imperial Japonês; na verdade, Pu Yi era um hipofóbico que se recusou terminantemente a montar no cavalo, forçando os japoneses a trazer às pressas uma carruagem para os dois imperadores passarem em revista as tropas.<ref name="Behr 1987 p. 232">Behr 1987 p. 232</ref>

Após seu retorno a Xinjing, Puyi contratou um executivo de relações públicas americano, George Bronson Rea, para fazer lobby junto ao governo dos EUA para reconhecer Manchukuo.<ref>Behr 1987 p. 233.</ref> No final de 1935, Rea publicou um livro, ''The Case for Manchukuo'', no qual Rea castigava a China sob o Kuomintang como irremediavelmente corrupta, e elogiava a sábia liderança de Puyi em Manchukuo, escrevendo Manchukuo era "''...o único passo que o povo do Oriente deu para escapar da miséria e do desgoverno que se tornou o seu. A proteção do Japão é sua única chance de felicidade''”.<ref>Behr 1987 p. 234.</ref> Rea continuou a trabalhar para Puyi até o bombardeio de Pearl Harbor, mas acabou falhando em fazer lobby em Washington para reconhecer Xinjing. No segundo julgamento relacionado ao caso Kaspé em Harbin, em março-junho de 1936, o promotor japonês argumentou a favor dos seis réus, chamando-os de "patriotas russos que levantaram a bandeira contra um perigo mundial - o comunismo".<ref name="auto32">Stephan, 1978 p. 166</ref> Para surpresa de todos, os juízes chineses condenaram e sentenciaram os seis fascistas russos que torturaram e mataram Kaspé até à morte, o que levou a uma tempestade quando o [[Partido fascista russo|Partido Fascista Russo]] chamou os seis homens de "mártires da Santa Rússia" e apresentou a Puyi um petição com milhares de assinaturas pedindo-lhe perdão aos seis homens.<ref name="auto32" /> Puyi recusou-se a perdoar os fascistas russos, mas o veredicto foi apelado para o Supremo Tribunal de Xinjing, onde os juízes japoneses anularam o veredicto, ordenando a libertação dos seis homens, uma decisão que Puyi aceitou sem reclamar.<ref>Stephan, 1978 p. 167</ref> O tratamento do caso Kaspé, que atraiu muita atenção da mídia ocidental, muito contribuiu para manchar a imagem de Manchukuo e enfraqueceu ainda mais a mão já fraca de Puyi enquanto ele tentava que o resto do mundo reconhecesse Manchukuo.<ref name="auto32" />

Em 1936, Ling Sheng, um aristocrata que servia como governador de uma das províncias de Manchukuo e cujo filho estava noivo de uma das irmãs mais novas de Puyi, foi preso após reclamar da "intolerável" interferência japonesa em seu trabalho, o que levou Puyi a pedir Yoshioka se algo pudesse ser feito para ajudá-lo.<ref name="Behr 1987 p. 2322">Behr 1987 p. 232</ref> O comandante do Exército de Kwantung, general Kenkichi Ueda, visitou Puyi para dizer-lhe que o assunto estava resolvido, pois Ling já havia sido condenado por uma corte marcial japonesa por "planejar uma rebelião" e havia sido executado por decapitação, o que levou Puyi a cancelar o casamento entre sua irmã. e filho de Ling.<ref>Behr 1987 p. 233</ref> Durante esses anos, Puyi começou a ter um interesse maior pela [[Direito Tradicional Chinês|lei e religião tradicional chinesa]]<ref>Pu Yi 1988, p. 307</ref> (como o [[confucionismo]] e o [[budismo]]), mas isso foi desautorizado pelos japoneses. Gradualmente, os seus antigos apoiantes foram eliminados e ministros pró-japoneses colocados no seu lugar.<ref>Pu Yi 1988, p. 298</ref> Durante este período, a vida de Puyi consistia principalmente em assinar leis preparadas pelo Japão, recitar orações, consultar oráculos e fazer visitas formais por todo o seu estado.<ref name="Henry Pu Yi4">{{Citar periódico |título=Henry Pu Yi |data=19 de julho de 1945 |periódico=Life Magazine |ultimo=Blakeney |primeiro=Ben Bruce |paginas=78–86}}</ref>

Puyi estava extremamente infeliz com sua vida como um prisioneiro virtual no Salt Tax Palace, e seu humor tornou-se errático, oscilando entre horas de passividade olhando para o espaço e entregando-se ao seu sadismo ao espancar seus servos.<ref>Behr 1987 pp. 243–245.</ref> Puyi escreveu mais tarde que seus servos órfãos, muitos dos quais tiveram seus pais mortos pelos japoneses, vivenciaram vidas tão "miseráveis" no palácio que eram do( tamanho de crianças de 10 anos aos dezoito anos.<ref>{{Citar livro|título=The Last Manchu|ultimo=Puyi|páginas=193}}</ref> Puyi estava obcecado pelo fato de que a grande maioria dos "súditos amorosos" de Puyi o odiavam e, como observou Behr, foi "o conhecimento de que ele era um objeto de ódio e escárnio que levou Puyi à beira da loucura".<ref name="Behr 1987 p. 245">Behr 1987 p. 245.</ref> Puyi sempre teve uma forte tendência cruel e impôs duras "regras internas" a sua equipe; servos foram açoitados no porão por crimes como "conversas irresponsáveis".<ref>Behr 1987 p. 245</ref> A frase "Leve-o para baixo" era muito temida pelos servos de Puyi, pois ele fazia pelo menos uma flagelação por dia, e todos no Palácio do Imposto do Sal foram espancados em um ponto ou outro, exceto a Imperatriz e os irmãos de Puyi e seus cônjuges.<ref name="Behr 1987 p. 245" /> A experiência de Puyi com roubos generalizados durante seu tempo na Cidade Proibida o levou a desconfiar de seus servos e ele examinou obsessivamente os livros contábeis em busca de sinais de fraude.<ref name="Behr 1987 p. 246">Behr 1987 p. 246.</ref> Para atormentar ainda mais sua equipe de cerca de 100 pessoas, Puyi cortou drasticamente a comida alocada para sua equipe, que sofria de fome; Big Li disse a Behr que Puyi estava tentando deixar todos tão infelizes quanto ele.<ref name="Behr 1987 p. 247">Behr 1987 p. 247.</ref> Além de atormentar sua equipe, a vida de Puyi como imperador foi de letargia e passividade, o que seu escritor fantasma Li Wenda chamou de "uma espécie de morte em vida" para ele.<ref name="Behr 1987 p. 243">Behr 1987 p. 243.</ref>

Puyi tornou-se um budista devoto, um místico e um vegetariano, tendo estátuas de Buda colocadas em todo o Palácio do Imposto sobre o Sal para ele orar enquanto proibia sua equipe de comer carne.<ref name="Behr 1987 p. 2462">Behr 1987 p. 246.</ref> Seu budismo o levou a proibir sua equipe de matar insetos ou ratos, mas se encontrasse algum inseto em sua comida, os cozinheiros eram açoitados.<ref name="Behr 1987 p. 2462" /> Um dia, quando passeava pelos jardins, Puyi descobriu que um criado havia escrito com giz em uma das pedras: "''Os japoneses não o humilharam o suficiente'' "<ref>Behr 1987 p. 254</ref> Quando Puyi recebeu convidados no Salt Tax Palace, ele deu-lhes longas palestras sobre a "gloriosa" história dos Qing como uma forma de masoquismo, comparando os grandes imperadores Qing consigo mesmo, um homem miserável vivendo como prisioneiro em seu próprio palácio.<ref>Behr 1987 p. 255</ref> Wanrong, que detestava o marido, gostava de zombar dele pelas costas, fazendo esquetes diante dos criados, colocando óculos escuros e imitando os movimentos bruscos de Puyi.<ref name="Behr 1987 p. 216">Behr 1987 p. 216.</ref> Durante seu tempo em Tianjin, Puyi começou a usar óculos escuros o tempo todo. Durante o período entre guerras, óculos escuros foram usados pela "pequena minoria" homossexual de Tianjin para indicar sua orientação. Embora Puyi provavelmente soubesse disso, os membros sobreviventes de sua corte disseram que ele "realmente estava sujeito a cansaço visual e dores de cabeça por causa do brilho do sol".<ref name="Behr 1987 p. 216" />
[[Ficheiro:明贤贵妃旧照_局部.jpg|miniaturadaimagem|[[Tan Yuling]], [[Concubinato|concubina]] de Puyi]]
Em 3 de abril de 1937, o irmão mais novo de Puyi, o príncipe [[Pujie]], foi proclamado herdeiro aparente após se casar com Lady [[Hiro Saga]], uma prima distante do imperador japonês [[Hirohito]]. O general do Exército Kwantung , Shigeru Honjō, arranjou politicamente o casamento. Depois disso, Puyi não falou abertamente na frente de seu irmão e se recusou a comer qualquer comida que Lady Saga fornecesse, acreditando que ela pretendia envenená-lo.<ref>Behr 1987 p. 235.</ref> Pu Yi foi forçado a assinar um acordo segundo o qual, se ele próprio tivesse um herdeiro homem, a criança seria enviada ao Japão para ser criada pelos japoneses.<ref>Pu Yi 1988, pp. 288–290</ref> Puyi inicialmente pensou que Lady Saga era uma espiã japonesa, mas passou a confiar nela depois que a Saga Sinófila descartou seu [[quimono]] por ''[[Cheongsam|cheongsams]]'' e repetidamente garantiu a ele que ela veio ao Palácio do Imposto do Sal porque era esposa de Pujie, não como espiã.<ref name="auto5">Behr 1987 p. 248.</ref> Behr descreveu Lady Saga como "inteligente" e "sensata", e notou a ironia de Puyi esnobar o único japonês que realmente queria ser seu amigo.<ref name="auto5" /> Mais tarde em abril de 1937, a aristocrata manchu [[Tan Yuling|Tan Yuling,]] de 16 anos, mudou-se para o Palácio do Imposto sobre o Sal para se tornar concubina de Puyi.<ref>Behr 1987 p. 249.</ref> Lady Saga tentou melhorar as relações entre Puyi e Wanrong fazendo-os jantar juntos, que foi a primeira vez que compartilharam uma refeição em três anos.<ref name="auto5" />

Com base em suas entrevistas com a família de Puyi e funcionários no Salt Tax Palace, Behr escreveu que parecia que Puyi tinha uma "atração por meninas muito jovens" que "beirava a pedofilia" e "que Pu Yi era bissexual e - como ele próprio admite – algo como um sádico em suas relações com as mulheres".<ref>Behr 1987 p. 19.</ref> Puyi gostava muito de ter adolescentes bonitos servindo como seus pajens e Lady Saga notou que ele também gostava de sodomizá-los.<ref>Behr 1987 pp. 244–245, 248–250.</ref> Lady Saga escreveu em sua autobiografia de 1957'', Memoirs of A Wandering Princess'':

<blockquote>É claro que ouvi rumores sobre grandes homens da nossa história, mas nunca soube que tais coisas existiam no mundo dos vivos. Agora, porém, descobri que o Imperador tinha um amor anormal por um pajem. Ele foi referido como "a concubina masculina". Será que esses hábitos pervertidos, pensei, teriam levado sua esposa a fumar ópio? –Lady [[Hiro Saga]]<ref>Behr (1987), p.&nbsp;249</ref></blockquote>

Quando Behr o questionou sobre a sexualidade de Puyi, o príncipe Pujie disse que ele era "biologicamente incapaz de se reproduzir", uma forma educada de dizer que alguém é gay na China.<ref name="Behr 1987 p. 250">Behr 1987 p. 250.</ref> Quando um dos pajens de Puyi fugiu do Palácio do Imposto do Sal para escapar de seus avanços homossexuais, Puyi ordenou que ele recebesse uma flagelação especialmente dura, o que causou a morte do menino e levou Puyi a mandar açoitar os açoitadores como punição.<ref name="Behr 1987 p. 2472">Behr 1987 p. 247.</ref>

Em julho de 1937, quando começou a [[Segunda Guerra Sino-Japonesa]], Puyi emitiu uma declaração de apoio ao Japão.<ref name="ReferenceA">Behr 1987 p. 244.</ref> em agosto&nbsp;Em 1937, Kishi redigiu um decreto para Puyi assinar, pedindo o uso de mão de obra de corvéia para ser recrutado tanto em Manchukuo quanto no norte da China, afirmando que nestes "tempos de emergência" (ou seja, guerra com a China), a indústria precisava crescer em todos os custos, e a escravidão era necessária para economizar dinheiro.<ref>Driscoll 2010 p. 275</ref> Driscoll escreveu que, tal como os escravos africanos foram levados para o Novo Mundo na "Passagem do Meio", seria correcto falar da "Passagem da Manchúria", já que um grande número de camponeses chineses foram reunidos para serem escravos nas fábricas e minas de Manchukuo.<ref>Driscoll 2010 p. xii.</ref> De 1938 até ao fim da guerra, todos os anos cerca de um milhão de chineses eram levados da zona rural de Manchukuo e do norte da China para serem escravos nas fábricas e minas de Manchukuo.<ref>Driscoll 2010 p. 276.</ref>

Tudo o que Puyi sabia do mundo exterior era o que o General Yoshioka lhe contava em briefings diários.<ref name="ReferenceA2">Behr 1987 p. 244.</ref> Quando Behr perguntou ao Príncipe Pujie como a notícia do [[Massacre de Nanquim|Massacre de Nanjing]] em dezembro de 1937 afetou Puyi, seu irmão respondeu: "Só soubemos disso muito mais tarde. Na época, não teve nenhum impacto real."<ref>Behr 1987 p. 242.</ref> Em 4 de fevereiro de 1938, [[Joachim von Ribbentrop]], fortemente pró-japonês e anti-chinês, tornou-se o ministro das Relações Exteriores alemão e, sob sua influência, a política externa alemã oscilou em uma direção anti-chinesa e pró-japonesa.<ref name="auto6">Iriye, 1987 p. 51</ref> Em 20 de fevereiro de 1938, Adolf Hitler anunciou que a Alemanha estava reconhecendo Manchukuo como um país.<ref name="auto6" /> Em um de seus últimos atos, o embaixador alemão cessante no Japão. Herbert von Dirksen, visitou Puyi no Palácio do Imposto sobre o Sal para lhe dizer que uma embaixada alemã seria estabelecida em Xinjing no final daquele ano para se juntar às embaixadas do Japão, El Salvador, República Dominicana, Costa Rica, Itália e Espanha Nacionalista, os únicos outros países que reconheceram Manchukuo. Em 1934, Puyi ficou entusiasmado quando soube que El Salvador havia se tornado a primeira nação, além do Japão, a reconhecer Manchukuo, mas em 1938, ele não se importou muito com o reconhecimento de Manchukuo pela Alemanha.

Em maio de 1938, Puyi foi declarado um deus pela Lei das Religiões, e um culto de adoração ao imperador muito semelhante ao do Japão começou com os alunos iniciando suas aulas rezando para um retrato do deus-imperador, enquanto os rescritos imperiais e as insígnias imperiais se tornaram relíquias sagradas imbuídas. com poderes mágicos por estar associado ao deus-imperador.<ref name="auto7">Dubois 2008 p. 309</ref> A elevação de Puyi a deus deveu-se à guerra sino-japonesa, que fez com que o estado japonês iniciasse um programa de mobilização totalitária da sociedade para uma guerra total no Japão e em locais governados pelo Japão.<ref name="auto7" /> Seus manipuladores japoneses sentiram que as pessoas comuns no Japão, Coréia e Taiwan estavam mais dispostas a suportar os sacrifícios da guerra total por causa de sua devoção ao seu imperador-deus, e foi decidido que tornar Puyi um imperador-deus teria o mesmo efeito. em Manchukuo.<ref name="auto7" /> Depois de 1938, Puyi quase nunca foi autorizado a deixar o Palácio do Imposto do Sal, enquanto a criação do regime fantoche do presidente [[Wang Jingwei]] em novembro de 1938 destruiu o ânimo de Puyi, pois acabou com sua esperança de um dia ser restaurado como Grande Imperador Qing.<ref name="Behr 1987 p. 2432">Behr 1987 p. 243.</ref> Puyi tornou-se hipocondríaco, tomando todos os tipos de pílulas para várias doenças e hormônios imaginários para melhorar seu desejo sexual e permitir que ele fosse pai de um menino, já que Puyi estava convencido de que os japoneses estavam envenenando sua comida para torná-lo estéril.<ref>Behr 1987 pp. 249, 255.</ref> Ele acreditava que os japoneses queriam que um dos filhos que Pujie teve com Lady Saga fosse o próximo imperador, e foi um grande alívio para ele que seus filhos fossem meninas (a lei Manchukuo proibia a sucessão feminina ao trono).<ref name="auto52">Behr 1987 p. 248.</ref>

Em 1935, Wanrong teve um caso com o motorista de Puyi, Li Tiyu, que a deixou grávida.<ref>Behr 1987 pp. 255–256</ref> Para puni-la, o bebê de Wanrong foi morto.<ref name="Behr 1987 p. 256">Behr 1987 p. 256</ref> Não está claro o que aconteceu, mas há dois relatos do que aconteceu com Wanrong após o assassinato de seu bebê. Um relato dizia que Puyi mentiu para Wanrong e que sua filha estava sendo criada por uma babá, e ela nunca soube da morte da filha.<ref name=":21">{{Citar jornal|ultimo=|primeiro=|url=https://www.scmp.com/article/575773/cover-over-death-adulteress-empress-baby-detailed|titulo=Cover-up over death of adulteress empress' baby detailed|data=|acessodata=|website=South China Morning Post}}</ref><ref name=":22">{{Citar jornal|ultimo=Sheridan|primeiro=Michael|url=https://www.thetimes.co.uk/article/baby-killer-secret-of-the-last-emperor-revealed-0jlspjcd0xd|titulo=Baby killer secret of the last emperor revealed|website=The Times (UK)|arquivourl=https://archive.today/20210307164750/https://www.thetimes.co.uk/article/baby-killer-secret-of-the-last-emperor-revealed-0jlspjcd0xd|arquivodata=2021-03-07|urlmorta=live}}</ref> O outro relato dizia que Wanrong descobriu ou sabia sobre o infanticídio de sua filha<ref>{{Citar livro|título=Biographical Dictionary of Chinese Women: V. 1: The Qing Period, 1644–1911|páginas=375}}</ref><ref>{{Citar livro|título=The Last Emperor|ultimo=Behr|páginas=256}}</ref> e viveu em constante atordoamento com o consumo de ópio desde então. Puyi sabia o que estava sendo planejado para o bebê de Wanrong e, no que Behr chamou de ato supremo de "covardia" de sua parte, "não fez nada".<ref name="Behr 1987 p. 256" /> O escritor fantasma de Puyi para ''Imperador para Cidadão'', Li Wenda, disse a Behr que, ao entrevistar Puyi para o livro, ele não conseguiu fazer Puyi falar sobre o assassinato do filho de Wanrong, pois tinha vergonha de falar de sua própria covardia.<ref name="Behr 1987 p. 256" />
[[Ficheiro:Emperor_Hirohito_Handshakes_Emperor_Puyi_of_Manchukuo_26_June_1940.png|miniaturadaimagem|O Imperador Puyi aperta a mão do Imperador Hirohito na estação de Tóquio em 26 de junho de 1940]]
Em dezembro de 1941, Puyi seguiu o Japão na declaração de guerra aos Estados Unidos e à Grã-Bretanha, mas como nenhuma das nações reconheceu Manchukuo, não houve declarações recíprocas de guerra em troca.<ref>Behr 1987 pp. 244, 252.</ref> Durante a guerra, Puyi foi um exemplo e modelo para pelo menos alguns na Ásia que acreditavam na propaganda pan-asiática japonesa. U Saw, o primeiro-ministro da Birmânia, estava secretamente em comunicação com os japoneses, declarando que, como asiático, as suas simpatias eram completamente com o Japão e contra o Ocidente.<ref name="auto9">Weinberg, 2005 p. 322</ref> U Saw acrescentou ainda que esperava que, quando o Japão vencesse a guerra, desfrutasse exatamente do mesmo status na Birmânia que Puyi desfrutou em Manchukuo como parte da [[Esfera de Coprosperidade da Grande Ásia Oriental|Esfera de Co-Prosperidade do Grande Leste Asiático]].<ref name="auto9" /> Durante a guerra, Pu Yi se afastou de seu pai, como afirmou seu meio-irmão Pu Ren em uma entrevista:

<blockquote>...depois de 1941, o pai de Puyi o dispensou. Ele nunca mais visitou Puyi depois de 1934. Eles raramente se correspondiam. Todas as notícias que recebia vinham de intermediários ou de relatos ocasionais das irmãs mais novas de Puyi, algumas das quais tinham permissão para vê-lo. —Pu Ren<ref>Behr 1987 p. 54.</ref></blockquote>

Puyi reclamou que havia emitido tantas declarações pró-japonesas "servis" durante a guerra que ninguém do lado Aliado o aceitaria se ele escapasse de Manchukuo.<ref>Behr 1987 p. 254.</ref> Em junho de 1942, Puyi fez uma rara visita fora do Palácio do Imposto do Sal quando conversou com a turma de formandos da Academia Militar de Manchukuo e concedeu ao aluno estrela Takagi Masao um relógio de ouro por seu excelente desempenho; apesar de seu nome japonês, o estudante estrela era na verdade coreano e sob seu nome coreano original, [[Park Chung-hee|Park Chung Hee]], tornou-se o ditador da Coreia do Sul em 1961.<ref>Eckert, 2016 p. 351.</ref> Em agosto de 1942, a concubina de Puyi, Tan Yuling, adoeceu e morreu após ser tratada pelos mesmos médicos japoneses que assassinaram o bebê de Wanrong.<ref name="Behr 1987 p. 2562">Behr 1987 p. 256</ref> Puyi testemunhou no [[Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente|julgamento de crimes de guerra em Tóquio]] sobre sua crença de que ela foi assassinada.<ref name="Behr 1987 p. 2562" /> Puyi manteve uma mecha de cabelo de Tan e suas unhas cortadas pelo resto da vida, enquanto expressava muita tristeza por sua perda.<ref>Behr 1987 pp. 256–257</ref> Ele se recusou a contratar uma concubina japonesa para substituir Tan e, em 1943, contratou uma concubina chinesa, [[Li Yuqin]], a filha de 16 anos de um garçom.<ref name="Behr 1987 p. 257">Behr 1987 p. 257</ref> Puyi gostava de Li, mas seu principal interesse continuava sendo seus pajens, como ele escreveu mais tarde: "''Essas minhas ações mostram o quão cruel, louco, violento e instável eu era''."<ref name="Behr 1987 p. 257" />

Durante grande parte da Segunda Guerra Mundial, Puyi, confinado ao Palácio do Imposto sobre o Sal, acreditava que o Japão estava vencendo a guerra, e só em 1944 é que começou a duvidar disso, depois que a imprensa japonesa começou a noticiar "sacrifícios heroicos" na Birmânia e nas ilhas do Pacífico enquanto o ar abrigos antitanque começaram a ser construídos em Manchukuo.<ref name="Behr 1987 p. 258">Behr 1987 p. 258</ref> O sobrinho de Puyi, Jui Lon, disse a Behr: "Ele queria desesperadamente que a América ganhasse a guerra."<ref name="Behr 1987 p. 2532">Behr 1987 p. 253.</ref> Big Li disse: "Quando ele pensava que era seguro, ele se sentava ao piano e tocava uma versão de um dedo de Stars and Stripes."<ref name="Behr 1987 p. 2532" /> Em meados de 1944, Puyi finalmente adquiriu coragem para começar a sintonizar ocasionalmente em seu rádio transmissões chinesas e transmissões em língua chinesa dos americanos, onde ficou chocado ao saber que o Japão havia sofrido tantas derrotas desde 1942.<ref>Behr 1987 p. 258.</ref>

Puyi teve que fazer um discurso diante de um grupo de soldados de infantaria japoneses que se ofereceram para serem "balas humanas", prometendo amarrar explosivos em seus corpos e realizar ataques suicidas para morrer pelo Imperador Showa.<ref name="Behr 1987 p. 2582">Behr 1987 p. 258</ref> Puyi comentou enquanto lia seu discurso elogiando as glórias de morrer pelo Imperador: "Só então vi o cinza acinzentado de seus rostos e as lágrimas escorrendo por suas bochechas e ouvi seus soluços".<ref name="Behr 1987 p. 2582" /> Puyi comentou que naquele momento se sentiu totalmente "aterrorizado" com o fanatismo do culto à morte do ''[[Buxido|Bushido]]'' ("o caminho do guerreiro"), que reduzia o valor da vida humana a nada, já que morrer pelo Imperador era o única coisa que importava.<ref name="Behr 1987 p. 259">Behr 1987 p. 259</ref>

=== Colapso de Manchukuo ===
Em 9 de agosto de 1945, o comandante do Exército Kwantung, General [[Otozō Yamada|Otozō Yamada,]] disse a Puyi que a União Soviética havia declarado guerra ao Japão e que o [[Operação Tempestade de Agosto|Exército Vermelho havia entrado em Manchukuo]].<ref name="Behr 1987 p. 2592">Behr 1987 p. 259</ref> Yamada estava garantindo a Puyi que o Exército Kwantung derrotaria facilmente o Exército Vermelho, quando as sirenes de ataque aéreo soaram e a Força Aérea Vermelha iniciou um bombardeio, forçando todos a se esconderem no porão.<ref name="Behr 1987 p. 260">Behr 1987 p. 260</ref> Enquanto Pu Yi orava ao Buda, Yamada ficou em silêncio enquanto as bombas caíam, destruindo o quartel japonês próximo ao Palácio do Imposto sobre o Sal.<ref name="Behr 1987 p. 260" /> Na [[Operação Tempestade de Agosto|Operação Ofensiva Estratégica da Manchúria]], 1.577.725 tropas soviéticas e mongóis invadiram a Manchúria em uma ofensiva de armas combinadas com tanques, artilharia, cavalaria, aeronaves e infantaria trabalhando em estreita colaboração que oprimiram o Exército Kwantung, que não esperava uma invasão soviética até 1946 e estava com falta de tanques e armas antitanques.<ref>Stephan 1978 p. 324.</ref>

Puyi ficou apavorado ao saber que o [[Exército Popular da Mongólia]] havia aderido à Operação Tempestade de Agosto, pois acreditava que os mongóis o torturariam até a morte se o capturassem.<ref>Behr, 1987 p. 260</ref> No dia seguinte, Yamada disse a Puyi que os soviéticos já haviam rompido as linhas de defesa no norte de Manchukuo, mas o Exército Kwantung iria "manter a linha" no sul de Manchukuo e Puyi deveria partir imediatamente.<ref name="Behr 1987 p. 2602">Behr 1987 p. 260</ref> A equipe do Palácio do Imposto do Sal entrou em pânico quando Puyi ordenou que todos os seus tesouros fossem encaixotados e despachados; entretanto, Puyi observou de sua janela que os soldados do Exército Imperial Manchukuo estavam tirando os uniformes e desertando.<ref name="Behr 1987 p. 2602" /> Para testar a reação de seus mestres japoneses, Puyi vestiu seu uniforme de Comandante-em-Chefe do Exército Manchukuo e anunciou: "Devemos apoiar a guerra santa de nosso País Parental com todas as nossas forças e devemos resistir aos exércitos soviéticos até o fim".<ref name="Behr 1987 p. 2602" /> Com isso, Yoshioka fugiu da sala, o que mostrou a Puyi que a guerra estava perdida.<ref name="Behr 1987 p. 2602" /> A certa altura, um grupo de soldados japoneses chegou ao Palácio do Imposto do Sal e Puyi acreditou que eles tinham vindo para matá-lo, mas eles simplesmente foram embora depois de vê-lo parado no topo da escada.<ref>Behr, 1987 pp. 260–261</ref> A maior parte do pessoal do Salt Tax Palace já havia fugido,<ref name="Behr 1987 p. 261">Behr 1987 p. 261</ref> e Puyi descobriu que seus telefonemas para o QG do Exército de Kwantung não foram atendidos, pois a maioria dos oficiais já havia partido para a Coreia, seu guarda Amakasu se matou engolindo um cianeto pílula, e o povo de Changchun vaiou-o quando seu carro, ostentando os padrões imperiais, o levou à estação ferroviária.<ref name="Behr 1987 p. 261" />
[[Ficheiro:溥仪宣召退位旧址_-_panoramio.jpg|miniaturadaimagem|O local da abdicação de Puyi em um pequeno complexo de escritórios de mineração em {{Ill|Dalizi|zh|大栗子街道|Dalizi}}<ref>{{Citar livro|título=The Last Emperor and His Five Wives|páginas=313}}</ref>]]
Tarde da noite de 11 de agosto de 1945, um trem que transportava Puyi, sua corte, seus ministros e os tesouros Qing partiu de Changchun.<ref name="Behr 1987 p. 262">Behr 1987 p. 262</ref> Puyi viu milhares de colonos japoneses em pânico fugindo para o sul em vastas colunas pelas estradas do interior.<ref name="Behr 1987 p. 262" /> Em cada estação ferroviária, centenas de colonos japoneses tentaram embarcar no seu trem; Puyi lembrou-se deles chorando e implorando aos gendarmes japoneses que os deixassem passar,<ref name="Behr 1987 p. 262" /> e em várias estações, soldados e gendarmes japoneses lutaram entre si.<ref name="Behr 1987 p. 262" /> O general Yamada embarcou no trem enquanto ele serpenteava para o sul e disse a Puyi que "o exército japonês estava vencendo e destruiu um grande número de tanques e aeronaves", uma afirmação em que ninguém a bordo do trem acreditou.<ref name="Behr 1987 p. 262" /> Em 15 de agosto de 1945, Puyi ouviu no rádio o [[Gyokuon-hōsō|discurso do Imperador Showa]] anunciando que o Japão havia se rendido.<ref name="Behr 1987 p. 263">Behr 1987 p. 263</ref> No seu discurso, o Imperador Showa descreveu os americanos como tendo usado uma "bomba muito incomum e cruel" que acabara de destruir as cidades de Hiroshima e Nagasaki; esta foi a primeira vez que Puyi ouviu falar dos [[Bombardeamentos atômicos de Hiroshima e Nagasaki|bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki]], sobre os quais os japoneses não acharam por bem contar-lhe até então.<ref name="Behr 1987 p. 263" />

No dia seguinte, Puyi abdicou como imperador de Manchukuo e declarou em seu último decreto que Manchukuo voltava a fazer parte da China.<ref name="Behr 1987 p. 2632">Behr 1987 p. 263</ref> O partido de Puyi se dividiu em pânico, com o ex-primeiro-ministro de Manchukuo, Zhang Jinghui, voltando para Changchun.<ref name="Behr 1987 p. 264">Behr 1987 p. 264</ref> Puyi planejou pegar um avião para escapar de Tonghua, levando consigo seu irmão Pujie, seu servo Big Li, Yoshioka e seu médico, deixando Wanrong, sua concubina Li Yuqin, Lady Hiro Saga e os dois filhos de Lady Saga para trás.<ref name="Behr 1987 p. 264" /> A decisão de deixar para trás as mulheres e crianças foi em parte tomada por Yoshioka, que pensava que as mulheres não corriam esse perigo e vetou as tentativas de Puyi de levá-las no avião para o Japão.<ref name="Behr 1987 p. 264" />

Puyi pediu a Lady Saga, a mais madura e responsável das três mulheres, que cuidasse de Wanrong, e deu a Lady Saga antiguidades preciosas e dinheiro para pagar sua viagem para o sul, para a Coreia.<ref>Behr 1987 pp. 265, 267</ref> Em 16 de agosto, Puyi pegou um pequeno avião para [[Aeroporto Internacional de Cheniangue-Taoxian|Mukden]], onde outro avião maior deveria chegar para levá-los ao Japão, mas em vez disso um avião da [[Força Aérea Soviética]] pousou.<ref name="Behr 1987 p. 265">Behr 1987 p. 265</ref> Puyi e seu partido foram prontamente feitos prisioneiros pelo Exército Vermelho, que inicialmente não sabia quem era Puyi.<ref name="Behr 1987 p. 265" /><ref name="Li Shuxian, 73, Widow of Last China Emperor">{{Citar jornal|ultimo=Mydans|primeiro=Seth|titulo=Li Shuxian, 73, Widow of Last China Emperor|data=11 June 1997|website=The New York Times}}</ref> Wanrong, viciado em ópio, juntamente com Lady Saga e Li, foram capturados por guerrilheiros comunistas chineses a caminho da Coreia, depois que um dos cunhados de Puyi informou aos comunistas quem eram as mulheres.<ref>Behr 1987 p. 268.</ref> Wanrong, a ex-imperatriz, foi exposta em uma prisão local e pessoas vieram de quilômetros de distância para observá-la.<ref>Behr 1987 p. 269.</ref> Em estado de delírio, ela exigiu mais ópio, pediu a criados imaginários que lhe trouxessem roupas, comida e banho, alucinando que estava de volta à Cidade Proibida ou ao [[Museu do Palácio Imperial de Manchukuo|Palácio do Imposto do Sal]] . O ódio geral por Puyi fez com que ninguém tivesse simpatia por Wanrong, que era visto como outro colaborador japonês, e um guarda disse a Lady Saga que "este não vai durar", sendo uma perda de tempo alimentá-la.<ref name="Behr 1987 p. 270">Behr 1987 p. 270</ref> Em junho de 1946, Wanrong morreu de fome em sua cela.<ref name="Behr 1987 p. 270" /> Em seu livro de 1964, ''Do Imperador ao Cidadão'', Puyi apenas afirmou que soube em 1951 que Wanrong "morreu há muito tempo", sem mencionar como ela morreu.<ref name="Behr 1987 p. 308">Behr 1987 p. 308.</ref>

== Vida posterior (1945-1967) ==

=== Prisão e julgamento soviético ===
[[Ficheiro:Soviet_Union_Military_Officer_and_Puyi.JPG|miniaturadaimagem|Puyi (à direita) e um oficial militar soviético]]
Os soviéticos levaram Puyi para a cidade [[Sibéria|siberiana]] de [[Tchita (Transbaicália)|Chita]]. Ele morou em um [[sanatório]] e, mais tarde, em [[Khabarovsk]], perto da [[Fronteira China–Rússia|fronteira chinesa]], onde foi bem tratado e teve permissão para manter alguns de seus empregados.<ref>Behr 1987 p. 271</ref> Como prisioneiro, Pu Yi passava seus dias orando e esperava que os prisioneiros o tratassem como um imperador e dava tapas na cara de seus servos quando eles o desagradavam.<ref>Behr, 1987 p. 271.</ref>

Ele sabia da [[Guerra Civil Chinesa|guerra civil na China]] pelas [[Rádio Moscou|transmissões em chinês da rádio soviética]], mas parecia não se importar.<ref>Behr, 1987 p. 271</ref> O [[Governo da União Soviética|governo soviético]] recusou os repetidos pedidos da [[República da China (1912–1949)|República da China]] para extraditar Puyi; o governo [[Kuomintang|do Kuomintang]] indiciou-o sob a acusação de alta traição, e a recusa soviética em extraditá-lo quase certamente salvou a sua vida, já que [[Chiang Kai-shek]] falava muitas vezes do seu desejo de mandar fuzilar Puyi.<ref>Behr 1987 p. 279</ref> O Kuomintang capturou [[Yoshiko Kawashima|Dongzhen]], prima de Puyi, e executou-a publicamente em Pequim em 1948, depois de ela ter sido condenada por alta traição.<ref>Behr 1987 p. 197</ref> Não desejando regressar à China, Puyi escreveu várias vezes a [[Josef Stalin]] pedindo asilo na União Soviética e que lhe fosse dado um dos antigos palácios czaristas para viver o resto dos seus dias.<ref>Behr 1987 pp. 281–282.</ref>

Em 1946, Puyi testemunhou no [[Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente]] em Tóquio,<ref name="Former Manchurian Puppet">{{Citar jornal|titulo=Former Manchurian Puppet|data=16 de agosto de 1946|website=The Miami News}}</ref> detalhando o seu ressentimento pela forma como foi tratado pelos japoneses. No julgamento de Tóquio, ele teve uma longa conversa com o advogado de defesa Major Ben Bruce Blakeney sobre se ele havia sido sequestrado em 1931, na qual Puyi cometeu perjúrio ao dizer que as declarações no livro de Johnston de 1934'', Crepúsculo na Cidade Proibida,'' sobre como ele havia voluntariamente tornar-se Imperador de Manchukuo eram tudo mentira.<ref>Behr 1987 pp. 274–276</ref> Quando Blakeney mencionou que a introdução do livro descrevia como Puyi havia dito a Johnston que ele havia ido voluntariamente para a Manchúria em 1931, Puyi negou estar em contato com Johnston em 1931, e que Johnston inventou as coisas para "vantagem comercial".<ref>Behr 1987 p. 276</ref>

Pu Yi tinha um forte interesse em minimizar o seu próprio papel na história, porque qualquer admissão de controle ativo teria levado à sua execução. O juiz australiano [[William Webb|Sir William Webb]], presidente do Tribunal, ficou muitas vezes frustrado com o testemunho de Puyi e o repreendeu inúmeras vezes.<ref>Behr 1987 pp. 274–277.</ref> Behr descreveu Puyi no depoimento como um "mentiroso consistente e autoconfiante, preparado para fazer qualquer coisa para salvar sua pele", e como uma testemunha combativa mais do que capaz de se defender contra os advogados de defesa.<ref>Behr 1987 p. 278.</ref> Como ninguém no julgamento, exceto Blakeney, havia realmente lido ''Crepúsculo na Cidade Proibida'' ou as entrevistas que Woodhead conduziu com ele em 1932, Puyi teve espaço para distorcer o que havia sido escrito sobre ele ou dito por ele.<ref>Behr 1987 p. 279.</ref> Puyi respeitava muito Johnston, que era seu pai substituto, e se sentia culpado por retratá-lo como um homem desonesto.<ref>Behr 1987 p. 281.</ref>
[[Ficheiro:溥仪写给斯大林的信.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|250x250px|Cartas de Puyi para Stalin]]
Após o seu regresso à União Soviética, Puyi foi detido no Centro de Detenção n.º 45, onde os seus criados continuaram a arrumar-lhe a cama, vesti-lo e fazer outros trabalhos para ele.<ref name="Behr, 1987 p. 281">Behr, 1987 p. 281</ref> Puyi não falava russo e tinha contatos limitados com seus guardas soviéticos, usando alguns prisioneiros Manchukuo como tradutores.<ref name="Behr, 1987 p. 282">Behr, 1987 p. 282.</ref> Um prisioneiro disse a Puyi que os soviéticos o manteriam na Sibéria para sempre porque “esta é a parte do mundo de onde você vem”.<ref name="Behr, 1987 p. 282" /> Os soviéticos prometeram aos comunistas chineses que entregariam os prisioneiros de alto valor quando o PCC vencesse a guerra civil e queriam manter Puyi vivo.<ref>Behr, 1987 pp. 281–282</ref> O cunhado de Puyi, Rong Qi, e alguns de seus servos não foram considerados de alto valor e foram enviados para trabalhar em um campo de reabilitação na Sibéria.<ref>Behr, 1987 p. 280</ref>

=== Na República Popular da China ===

==== Continuação da prisão ====
Quando o [[Partido Comunista da China|Partido Comunista Chinês]] sob [[Mao Tsé-Tung]] chegou ao poder em 1949, Puyi foi repatriado para a China após negociações entre a União Soviética e a China.<ref name="Russia Giving Puyi to China">{{Citar jornal|titulo=Russia Giving Puyi to China|data=27 de março de 1946|website=The Milwaukee Journal}}</ref><ref name="Last Manchu Ruler Grateful to Jailers">{{Citar jornal|ultimo=Lancashire|primeiro=David|titulo=Last Manchu Ruler Grateful to Jailers|data=30 de dezembro de 1956|website=Eugene Register-Guard}}</ref> Puyi foi de considerável valor para Mao, como observou Behr: "Aos olhos de Mao e de outros líderes comunistas chineses, Pu Yi, o último imperador, era o epítome de tudo o que havia de mau na velha sociedade chinesa. Se ele pudesse ser mostrado ter passado por uma mudança sincera e permanente, que esperança havia para o contrarrevolucionário mais obstinado? Quanto mais avassaladora a culpa, mais espetacular a redenção - e maior a glória do Partido Comunista Chinês".<ref name="Behr 1987 p. 285">Behr 1987 p. 285</ref> Puyi seria submetido a uma "remodelação" para torná-lo comunista.<ref name="Behr, 1987 p. 283">Behr, 1987 p. 283</ref>
[[Ficheiro:Fushun_War_Criminals_Mgmt_Center_2.jpg|miniaturadaimagem|Prisão de criminosos de guerra de Fushun]]
[[Ficheiro:Puyi_Testifying_1950s.webm|miniaturadaimagem|Puyi testemunhando na década de 1950.]]
Em 1950, os soviéticos carregaram Puyi e o resto dos prisioneiros Manchukuo e japoneses em um trem que os levou para a China com Puyi convencido de que seria executado quando chegasse.<ref>Behr, 1987 p. 286</ref> Pu Yi ficou surpreso com a gentileza de seus guardas chineses, que lhe disseram que este era o começo de uma nova vida para ele.<ref name="Behr, 1987 p. 287">Behr, 1987 p. 287</ref> Na tentativa de cair nas boas graças, Puyi, pela primeira vez em sua vida, dirigiu-se aos plebeus com 你, a palavra informal para "você", em vez de 您, a palavra formal para "você".<ref name="Behr, 1987 p. 287" />

Exceto por um período durante a Guerra da Coreia, quando foi transferido para [[Harbin]], Puyi passou dez anos na Prisão de Criminosos de Guerra de Fushun, na província de [[Liaoningue|Liaoning]], até ser declarado reformado. Os prisioneiros em Fushun eram altos funcionários e oficiais japoneses, Manchukuo e Kuomintang.<ref>Behr 1987 pp. 293–294</ref> Pu Yi era o mais fraco e infeliz dos prisioneiros, e muitas vezes era intimidado pelos outros, que gostavam de humilhar o imperador; ele poderia não ter sobrevivido à prisão se o diretor Jin Yuan não tivesse feito o possível para protegê-lo.<ref name="Behr 1987 p. 294">Behr 1987 p. 294</ref> Puyi nunca havia escovado os dentes ou amarrado os próprios cadarços nenhuma vez na vida e teve que realizar essas tarefas básicas na prisão, submetendo-o ao ridículo de outros prisioneiros.<ref name="Behr 1987 p. 295">Behr 1987 p. 295</ref> Em 1951, Puyi soube pela primeira vez que Wanrong havia morrido em 1946.<ref name="Behr 1987 p. 3082">Behr 1987 p. 308.</ref>
[[Ficheiro:Puyi_in_Fushun.jpg|miniaturadaimagem|Puyi sendo prisioneiro em Fushun.]]
Grande parte da "remodelação" de Puyi consistiu em participar de "grupos de discussão sobre o [[marxismo-leninismo]] e pensamento Mao Zedong", onde os prisioneiros discutiriam suas vidas antes de serem presos.<ref>Behr, 1987 p. 302</ref> Quando Puyi protestou com Jin que era impossível resistir ao Japão e que não havia nada que ele pudesse ter feito, Jin confrontou-o com pessoas que lutaram na resistência e foram torturadas, e perguntou-lhe por que as pessoas comuns em Manchukuo resistiram enquanto um imperador Não fez nada.<ref name="Behr, 1987 pp. 305–306">Behr, 1987 pp. 305–306</ref> Puyi teve de assistir a palestras em que um antigo funcionário público japonês falava sobre a exploração de Manchukuo, enquanto um antigo oficial do ''Kenpeitai'' falava sobre como prendia pessoas para trabalho escravo e ordenava execuções em massa.<ref name="Behr, 1987 p. 305">Behr, 1987 p. 305</ref>

A certa altura, Puyi foi levado a [[Harbin]] e [[Distrito de Pingfang|Pingfang]] para ver onde a infame [[Unidade 731]], a unidade de guerra química e biológica do Exército Japonês, havia conduzido experimentos horríveis em pessoas. Puyi observou com vergonha e horror: “Todas as atrocidades foram cometidas em meu nome”.<ref name="Behr, 1987 p. 3052">Behr, 1987 p. 305</ref> Puyi, em meados da década de 1950, estava dominado pela culpa e muitas vezes dizia a Jin que se sentia totalmente inútil a ponto de considerar o suicídio.<ref name="Behr, 1987 pp. 305–3062">Behr, 1987 pp. 305–306</ref> Jin disse a Puyi para expressar sua culpa por escrito. Puyi lembrou mais tarde que sentiu "que estava enfrentando uma força irresistível que não descansaria até descobrir tudo".<ref>Behr, 1987 p. 299</ref>

Às vezes, Puyi era levado para passeios pelo interior da Manchúria. Num deles, ele conheceu a esposa de um fazendeiro cuja família havia sido despejada para dar lugar aos colonos japoneses e quase morrera de fome enquanto trabalhava como escrava em uma das fábricas de Manchukuo.<ref name="Behr, 1987 p. 307">Behr, 1987 p. 307</ref> Quando Puyi pediu perdão, ela disse: "Agora está tudo acabado, não vamos falar sobre isso", fazendo-o chorar.<ref name="Behr, 1987 p. 307" /> Numa outra reunião, uma mulher descreveu a execução em massa de pessoas da sua aldeia pelo exército japonês e depois declarou que não odiava os japoneses e aqueles que os serviram, pois manteve a sua fé na humanidade, o que comoveu muito Puyi.<ref name="Behr, 1987 p. 307" /> Noutra ocasião, Jin confrontou Puyi com a sua ex-concubina Li em reuniões no seu escritório, onde ela o atacou por vê-la apenas como um objeto sexual, e dizendo que agora estava grávida de um homem que a amava.<ref name="Behr, 1987 p. 307" />

No final de 1956, Puyi atuou em uma peça, ''A Derrota dos Agressores'', sobre a [[Crise de Suez]], desempenhando o papel de um parlamentar trabalhista de esquerda que desafia na Câmara dos Comuns um ex-ministro de Manchukuo no papel do secretário de Relações Exteriores Selwyn Lloyd.<ref>Behr, 1987 p. 310.</ref> Puyi gostou do papel<ref name="Behr, 1987 p. 310">Behr, 1987 p. 310</ref> e continuou atuando em peças sobre sua vida e Manchukuo; em um deles, ele interpretou um funcionário Manchukuo e se curvou diante de um retrato seu como Imperador de Manchukuo.<ref name="Behr, 1987 p. 310" /> Durante o [[Grande Salto Adiante]], quando milhões de pessoas morreram de fome na China, Jin optou por cancelar as visitas de Puyi ao campo, para que as cenas de fome não anulassem a sua crescente fé no comunismo.<ref>Behr, 1987 p. 309</ref> Behr escreveu que muitos estão surpresos que a "remodelação" de Puyi tenha funcionado, com um imperador criado quase como um deus se contentando em ser apenas um homem comum, mas ele observou que "...é essencial lembrar que Puyi não foi o único a passar por uma “remodelação” tão bem-sucedida. Generais durões do KMT, e generais japoneses ainda mais durões, criados na tradição samurai e no culto ''[[Buxido|Bushido]]'' que glorifica a morte na batalha e o sacrifício ao Japão marcial, tornaram-se, em Fushun, tão devotos em seu apoio aos ideais comunistas quanto Puyi".<ref>Behr, 1987 p. 322</ref>

==== Libertação ====
Puyi chegou a Pequim em 9 de dezembro de 1959 com permissão especial de Mao e viveu durante os seis meses seguintes numa residência comum em Pequim com a sua irmã antes de ser transferido para um hotel patrocinado pelo governo.<ref>Behr, 1987 p. 313</ref> Ele tinha a função de varrer as ruas e se perdeu no primeiro dia de trabalho, o que o levou a dizer atônito aos transeuntes: "Sou Puyi, o último imperador da dinastia Qing. Estou hospedado na casa de parentes e não consigo encontrar o caminho de casa".<ref>Behr 1987 p. 314</ref> Um dos primeiros atos de Puyi ao retornar a Pequim foi visitar a Cidade Proibida como turista; ele ressaltou para outros turistas que muitas das exposições eram coisas que ele havia usado na juventude.<ref>Behr 1987 pp. 315–316</ref> Manifestou o seu apoio aos comunistas e trabalhou como jardineiro no Jardim Botânico de Pequim. O papel trouxe a Puyi um grau de felicidade que ele nunca conhecera como imperador, embora fosse notavelmente desajeitado.<ref name="Behr, 1987 p. 317">Behr, 1987 p. 317</ref>

Behr observou que na Europa, as pessoas que desempenhavam papéis análogos ao papel que Puyi desempenhou em Manchukuo eram geralmente executadas; por exemplo, os britânicos enforcaram [[William Joyce]] ("Lord Haw-haw") por ser o locutor das transmissões em língua inglesa da Rádio Berlim, os italianos atiraram em [[Benito Mussolini]] e os franceses executaram [[Pierre Laval]], tantos ocidentais ficam surpresos que Puyi foi libertado da prisão depois de apenas nove anos para começar uma nova vida.<ref name="Behr, 1987 p. 323">Behr, 1987 p. 323</ref> Behr escreveu que a ideologia comunista explicava esta diferença, escrevendo: "Em uma sociedade onde todos os proprietários de terras e 'seguidores da via capitalista' eram a encarnação do mal, não importava tanto que Puyi também fosse um traidor de seu país: ele era, no olhos dos ideólogos comunistas, apenas se comportando de acordo com o tipo. Se todos os capitalistas e proprietários de terras eram, por sua própria natureza, traidores, era lógico que Puyi, o maior proprietário de terras, também fosse o maior traidor. E, em última instância, Puyi era muito mais valioso vivo do que morto".<ref name="Behr, 1987 p. 323" />

No início de 1960, Puyi conheceu o primeiro-ministro [[Zhou Enlai]], que lhe disse: "Você não foi responsável por se tornar imperador aos três anos de idade ou pela tentativa de golpe de restauração de 1917. Mas você foi totalmente culpado pelo que aconteceu depois. Você sabia perfeitamente bem o que você estava fazendo quando se refugiou no Bairro da Legação, quando viajou sob proteção japonesa para Tianjin e quando concordou em se tornar Chefe do Executivo de Manchukuo".<ref name="Behr, 1987 p. 3172">Behr, 1987 p. 317</ref> Pu Yi respondeu simplesmente dizendo que, embora não tenha escolhido ser imperador, ele se comportou com crueldade selvagem como menino-imperador e desejou poder pedir desculpas a todos os eunucos que açoitou durante sua juventude.<ref name="Behr, 1987 p. 3172" />

Aos 56 anos, casou-se com Li Shuxian, enfermeira de hospital, em 30 de abril de 1962, em cerimônia realizada no Salão de Banquetes da Conferência Consultiva. De 1964 até sua morte, trabalhou como editor no departamento literário da [[Conferência Consultiva Política do Povo Chinês]], onde seu salário mensal era de cerca de 100 [[Renminbi|yuans]].<ref name="The Thought of Mao Tse-Tung">{{Citar livro|título=The Thought of Mao Tse-Tung|ultimo=Schram|primeiro=Stuart|editora=Cambridge University Press|ano=1989|isbn=978-0521310628|autorlink=Stuart R. Schram}}</ref> Li lembrou em uma entrevista de 1995 que: "Achei Pu Yi um homem honesto, um homem que precisava desesperadamente do meu amor e estava pronto para me dar tanto amor quanto pudesse. Quando eu estava tendo um leve caso de gripe, ele estava tão preocupado que eu morresse, que ele se recusou a dormir à noite e ficou sentado ao meu lado até o amanhecer para poder atender às minhas necessidades".<ref name="hartford-hwp.com">{{Citar web|ultimo=Li|primeiro=Xin|url=http://www.hartford-hwp.com/archives/55/045.html|titulo=Pu Yi's Widow Reveals Last Emperor's Soft Side|data=8 Abr 1995|acessodata=2015-11-29|publicado=The Hartford Chronicle|arquivourl=https://web.archive.org/web/20150924041341/http://www.hartford-hwp.com/archives/55/045.html|arquivodata=24 Set 2015|urlmorta=dead}}</ref> Li também observou, como todos os outros que o conheciam, que Puyi era um homem incrivelmente desajeitado, levando-a a dizer: "Uma vez, com muita raiva por sua falta de jeito, ameacei me divorciar dele. Ao ouvir isso, ele se ajoelhou e, com lágrimas nos olhos, ele me implorou que o perdoasse. Jamais esquecerei o que ele me disse: 'Não tenho nada neste mundo exceto você, e você é minha vida. Se você for, eu morrerei'. Mas à parte dele, o que eu tive no mundo?".<ref name="hartford-hwp.com" /> Puyi mostrou remorso por suas ações passadas, muitas vezes dizendo a ela: <nowiki>''</nowiki>O Puyi de ontem é o inimigo do Puyi de hoje.<nowiki>''</nowiki><ref>{{Citar livro|título=My husband Puyi: The last emperor of China (English Version)|ultimo=Li Shuxian}}</ref>
[[Ficheiro:Xiong_Bingkun,_Puyi_and_Lu_Zhonglin.jpg|miniaturadaimagem|Puyi em 1961, flanqueado por Xiong Bingkun, comandante da [[Revolta de Wuchang]], e Lu Zhonglin, que participou na expulsão de Puyi da Cidade Proibida em 1924.]]
[[Ficheiro:Spring_1967,_Pujie_and_Saga_Hiro_visited_Puyi.jpg|miniaturadaimagem|Na primavera de 1967, Pujie e Saga Hiro visitaram Puyi, que já estava gravemente doente.]]
Na década de 1960, com o incentivo do presidente [[Mao Tsé-Tung|Mao Zedong]] e do primeiro-ministro [[Zhou Enlai]], e com o endosso público do governo chinês, Puyi escreveu sua autobiografia ''Do Imperador ao Cidadão'' ({{zh|t=我的前半生|p=Wǒdè Qián Bànshēng|w=''Wo Te Ch'ien Pan-Sheng''|l=A Primeira Metade da Minha Vida}}) junto com Li Wenda, editora do People's Publishing Bureau. O ghostwriter Li planejou inicialmente usar a "autocrítica" de Puyi escrita em Fushun como base do livro, esperando que o trabalho levasse apenas alguns meses, mas usou uma linguagem tão dura que Puyi confessou uma carreira de covardia abjeta, que Li foi forçado a começar de novo. Demorou quatro anos para escrever o livro.<ref>Behr 1987 p. 318</ref> Puyi disse sobre seu testemunho no Tribunal de Crimes de Guerra de Tóquio:<ref name="From Emperor to Citizen: The Autobiography of Aisin-Gioro Pu Yi">{{Citar livro|url=https://archive.org/details/fromemperortocit00puyi_0/page/329|título=From Emperor to Citizen: The Autobiography of Aisin-Gioro Pu Yi|ultimo=Pu Yi|ultimo2=Jenner, W.J.F.|editora=Oxford University Press|ano=1988|páginas=[https://archive.org/details/fromemperortocit00puyi_0/page/329 329, 330]|isbn=978-0192820990}}</ref>

<blockquote>Sinto-me agora muito envergonhado do meu testemunho, pois omiti parte do que sabia para me proteger de ser punido pelo meu país. Não disse nada sobre a minha colaboração secreta com os imperialistas japoneses durante um longo período, uma associação para a qual a minha capitulação aberta após 18 de Setembro de 1931 foi apenas a conclusão. Em vez disso, falei apenas da forma como os japoneses me pressionaram e me forçaram a fazer a sua vontade. Afirmei que não tinha traído o meu país, mas que tinha sido raptado; neguei toda a minha colaboração com os japoneses; e até afirmei que a carta que escrevi para Jirō Minami era falsa.<ref name="Two Homelands">{{cite book|titulo=Two Homelands|ultimo=Yamasaki|primeiro=Tokoyo|author2=Morris, V Dixon|publicado=University of Hawaii Press|isbn=978-0824829445|year=2007|pages=487–495}}</ref> Eu encobri meus crimes para me proteger.</blockquote>

Puyi se opôs à tentativa de Pujie de se reunir com Lady Saga, que havia retornado ao Japão, escrevendo a [[Zhou Enlai|Zhou]] pedindo-lhe que impedisse Lady Saga de retornar à China, o que levou Zhou a responder: "A guerra acabou, você sabe. Você não você tem que levar esse ódio nacional para sua própria família."<ref name="Behr 1987 p. 320">Behr 1987 p. 320</ref> Behr concluiu: "É difícil evitar a impressão de que Puyi, em um esforço para provar ser um 'homem remodelado', exibiu a mesma atitude covarde em relação aos detentores do poder da nova China que ele havia demonstrado em Manchukuo em relação ao Japonês."<ref name="Behr 1987 p. 320" />

Muitas das afirmações em ''Do Imperador ao Cidadão'', como a afirmação de que foi o Kuomintang quem despojou o equipamento industrial da Manchúria em 1945-46, e não os soviéticos, juntamente com uma "imagem sem reservas cor-de-rosa da vida na prisão", são amplamente conhecidas por ser falso, mas o livro foi traduzido para línguas estrangeiras e vendeu bem. Behr escreveu: "Os capítulos mais completos e cheios de clichês de ''Do Imperador ao Cidadão'', que tratam das experiências de prisão de Puyi, e escritos no auge do culto à personalidade de Mao, dão a impressão de lições bem aprendidas e regurgitadas."<ref>Behr 1987 pp. 320–321</ref>
[[Ficheiro:Puyi_with_Li_Shuxian_in_the_1960s.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Puyi na década de 1960 com [[Li Shuxian]] e [[Pujie]] em Pequim.]]
A partir de 1963, Puyi deu regularmente conferências de imprensa elogiando a vida na República Popular da China, e diplomatas estrangeiros frequentemente o procuravam, curiosos para conhecer o famoso "Último Imperador" da China.<ref>Behr 1987 p. 323.</ref> Em uma entrevista com Behr, Li Wenda disse-lhe que Puyi era um homem muito desajeitado que "invariavelmente se esquecia de fechar as portas atrás de si, esquecia de dar descarga, esquecia de fechar a torneira depois de lavar as mãos, tinha um gênio para criar um bagunça instantânea e desordenada ao seu redor".<ref name="Behr, 1987 p. 314">Behr, 1987 p. 314</ref> Puyi estava tão acostumado a ter suas necessidades atendidas que nunca aprendeu inteiramente como funcionar sozinho.<ref name="Behr, 1987 p. 314" />

Ele se esforçou ao máximo para ser modesto e humilde, sendo sempre a última pessoa a embarcar no ônibus, o que fez com que certa vez perdesse a viagem, confundindo o cobrador com um passageiro. Nos restaurantes, ele dizia às garçonetes: "Vocês não deveriam me servir. Eu deveria servir vocês".<ref name="Behr, 1987 p. 3142">Behr, 1987 p. 314</ref> Durante este período, Puyi era conhecido por sua gentileza e, uma vez, depois de atropelar acidentalmente uma senhora idosa com sua bicicleta, ele a visitava todos os dias no hospital para trazer flores para fazer as pazes até que ela tivesse alta.<ref name="Behr 1987 p. 319">Behr 1987 p. 319</ref>

== Morte e sepultamento ==
[[Mao Tsé-Tung|Mao Zedong]] iniciou a [[Revolução Cultural Chinesa|Revolução Cultural]] em 1966, e a milícia jovem conhecida como [[Guarda Vermelha (China)|Guardas Vermelhas]] Maoístas via Puyi, que simbolizava a [[História da China|China Imperial]], como um alvo fácil. Puyi foi colocado sob proteção do departamento de segurança pública local e, embora as suas rações alimentares, salário e vários luxos, incluindo o sofá e a secretária, tenham sido removidos, ele não foi humilhado publicamente como era comum na altura. Os Guardas Vermelhos atacaram Puyi por seu livro ''Do Imperador ao Cidadão'' porque ele havia sido traduzido para o inglês e o francês, o que desagradou os Guardas Vermelhos e fez com que cópias do livro fossem queimadas nas ruas.<ref>Behr 1987 p. 325.</ref> Vários membros da família Qing, incluindo Pujie, tiveram suas casas invadidas e queimadas pelos [[Guarda Vermelha (China)|Guardas Vermelhos]], mas [[Zhou Enlai]] usou sua influência para proteger Puyi e o resto dos Qing dos piores abusos infligidos pela Guarda Vermelha.<ref>Behr 1987 pp. 324–325.</ref> Jin Yuan, o homem que “remodelou” Puyi na década de 1950, foi vítima da Guarda Vermelha e tornou-se prisioneiro em [[Fushun]] durante vários anos, enquanto Li Wenda, que escreveu ''Do Imperador ao Cidadão'', passou sete anos em confinamento solitário.<ref>Behr 1987 p. 325</ref> No entanto, a saúde de Puyi começou a piorar. Ele morreu em Pequim de complicações decorrentes de [[Cancro do rim|câncer renal]] e [[Doença cardiovascular|doenças cardíacas]] em 17 de outubro de 1967, aos 61 anos.<ref>{{Citar jornal|url=https://select.nytimes.com/gst/abstract.html?res=FA0E10F93E5B107B93CBA8178BD95F438685F9|titulo=Pu Yi, Last Emperor of China And a Puppet for Japan, Dies. Enthroned at 2, Turned Out at 6, He Was Later a Captive of Russians and Peking Reds.|data=19 Out 1967|acessodata=2007-07-21|website=The New York Times|agência=Associated Press in [[New York Times]]}}</ref>

De acordo com as leis da República Popular da China da época, o corpo de Puyi foi cremado. Suas cinzas foram colocadas pela primeira vez no Cemitério Revolucionário de Babaoshan, ao lado das de outros dignitários do partido e do estado. (Este era o cemitério de concubinas e eunucos imperiais antes do estabelecimento da [[China|República Popular da China]]). Em 1995, como parte de um acordo comercial, as cinzas de Puyi foram transferidas por sua viúva Li Shuxian para um novo cemitério comercial chamado Hualong. Cemitério Imperial (华龙皇家陵园)<ref>{{Citar web|ultimo=Ho|primeiro=Stephanie|url=http://www.voanews.com/content/burial-plot-of-chinas-last-emperor-still-holds-allure-131546703/146507.html|titulo=Burial Plot of China's Last Emperor Still Holds Allure|acessodata=2016-01-10|website=VOA|arquivourl=https://web.archive.org/web/20160206090147/http://www.voanews.com/content/burial-plot-of-chinas-last-emperor-still-holds-allure-131546703/146507.html|arquivodata=2016-02-06|urlmorta=dead}}</ref> em troca de apoio monetário. O cemitério fica perto dos Túmulos Qing Ocidentais, {{Convert|120|km|mi}} a sudoeste de Pequim, onde quatro dos nove imperadores Qing que o precederam estão enterrados, juntamente com três imperatrizes e 69 príncipes, princesas e concubinas imperiais. Em 2015, alguns descendentes do clã Aisin-Gioro concederam [[Nome póstumo|nomes póstumos]] a Puyi e suas esposas. Wenxiu e Li Yuqin não receberam nomes póstumos porque seu status imperial foi removido após o divórcio.<ref name="Forbidden City: The Great Within2">{{Citar livro|título=Forbidden City: The Great Within|ultimo=Courtauld|primeiro=Caroline|ultimo2=Holdsworth|primeiro2=May|ultimo3=Spence|primeiro3=Jonathan|editora=Odyssey|ano=2008|isbn=978-9622177925}}</ref>

== Títulos, honras e condecorações ==

=== Títulos ===
{{Infobox|titulo={{nobold|Estilos de}}<br> Imperador Xuantong|imagem=[[Imagem:Imperial standard of the Qing Emperor.svg|200px]]|label1='''[[Pronome de tratamento|Estilo de referência]]'''|data1=[[Sua Majestade|Sua Majestade Imperial]]|titulostyle=background-color:#CCBBEE; color:#000000; font-size:120%; text-align:center;" class="fn"|label2='''Alternativo'''|data2=[[Filho do Céu|Filho do Céu (天子)]]|title={{nobold|Estilos de}}<br> Imperador Xuantong|titlestyle=background-color:#CCBBEE; color:#000000; font-size:120%; text-align:center;" class="fn"}}Quando governou como imperador da Dinastia Qing (e, portanto, imperador da China) de 1908 a 1912 e durante sua breve restauração em 1917, o nome da época de Puyi era "Xuantong", então ele era conhecido como o "Imperador Xuantong" ({{zh|s=宣统皇帝|t=宣統皇帝|w=Hsüan<sup>1</sup>-t'ung<sup>3</sup> Huang<sup>2</sup>-ti<sup>4</sup>|p=Xuāntǒng Huángdì}}) durante esses dois períodos. Puyi também foi autorizado a manter o seu título de '''Imperador da Grande Qing''', sendo tratado como um monarca estrangeiro pela República da China até 5 de novembro de 1924.

Como Pu Yi também foi o último [[Imperador da China|imperador governante da China]], ele é amplamente conhecido como "o último imperador" ({{zh|t=末代皇帝|p=Mòdài Huángdì|w=Mo<sup>4</sup>-tai<sup>4</sup> Huang<sup>2</sup>-ti<sup>4</sup>}}) na China e em todo o resto do mundo. Alguns referem-se a ele como "o último imperador da Dinastia Qing" ({{zh|t=清末帝|w=Ch'ing<sup>1</sup> Mo<sup>4</sup>-ti<sup>4</sup>|p=Qīng Mò Dì}}).

Devido à sua abdicação, Pu Yi também é conhecido como o "imperador cedido" ({{zh|t=遜帝|p=Xùn Dì}}) ou "imperador revogado" ({{zh|s=废帝|t=廢帝|p=Fèi Dì}}). Às vezes, o caractere "Qing" ({{zh|t=清|p=Qīng}}) é adicionado na frente dos dois títulos para indicar sua afiliação à Dinastia Qing.

Quando Puyi governou o [[estado-fantoche]] de [[Manchukuo]] e assumiu o título de Chefe do Executivo do novo estado, o nome de sua época era "Datong" (Ta-tung). Como imperador de Manchukuo de 1934 a 1945, o nome de sua época era "Kangde" (Kang-te), então ele era conhecido como o "imperador Kangde" ({{Lang-zh|康德皇帝}}, {{Lang-ja|Kōtoku Kōtei}}) durante esse período de tempo.

=== Honras e condecorações ===
'''Dinastia Qing'''
{|
|[[Ficheiro:Decoration_without_ribbon_-_en.svg|60x60px]]
|Ordem da Pena do Pavão
|-
|[[Ficheiro:Decoration_without_ribbon_-_en.svg|60x60px]]
|Ordem da Pena Azul
|-
|[[Ficheiro:Ribbon_bar_of_the_Chinese_Order_of_the_Double_Dragon.svg|60x60px]]
|Ordem do Dragão Duplo
|-
|[[Ficheiro:Decoration_without_ribbon_-_en.svg|60x60px]]
|Ordem do Trono Imperial
|-
|[[Ficheiro:CN_Order_of_the_Yellow_Dragon.svg|60x60px]]
|Ordem do Dragão Amarelo
|-
|[[Ficheiro:Red_ribbon_bar_-_general_use.svg|60x60px]]
|Ordem do Dragão Vermelho
|-
|[[Ficheiro:Institution_du_Mérite_militaire_ribbon.png|60x60px]]
|Ordem do Dragão Azul
|-
|[[Ficheiro:Ord.ElisabettaTeresa.PNG|60x60px]]
|Ordem do Dragão Negro
|}
'''Manchukuo'''
{|
|[[Ficheiro:Manchukuo_Order_of_the_Orchid_Blossom_ribbon.svg|60x60px]]
|Grande Ordem da Flor da Orquídea
|-
|[[Ficheiro:Manchukuo_Order_of_the_Illustrious_Dragon_ribbon.svg|60x60px]]
|Ordem do Ilustre Dragão
|-
|[[Ficheiro:Manchukuo_Order_of_the_Auspicious_Clouds_ribbon.svg|60x60px]]
|Ordem das Nuvens Auspiciosas
|-
|[[Ficheiro:Order_of_the_Pillars_of_State_(Manchukuo).png|60x60px]]
|Ordem dos Pilares do Estado
|}
'''Estrangeiras'''
{|
|[[Ficheiro:Order_of_the_Most_Holy_Annunciation_BAR.svg|60x60px]]
|[[Ordem Suprema da Santíssima Anunciação]] ([[Reino de Itália (1861–1946)|Reino da Itália]])
|-
|[[Ficheiro:Cavaliere_di_gran_Croce_Regno_SSML_BAR.svg|60x60px]]
|[[Ordem dos Santos Maurício e Lázaro]], 1ª Classe ([[Reino de Itália (1861–1946)|Reino da Itália]])
|-
|[[Ficheiro:Cavaliere_di_Gran_Croce_OCI_Kingdom_BAR.svg|60x60px]]
|[[Ordem da Coroa da Itália|Cavaleiro da Grã-Cruz da Ordem da Coroa da Itália]] ([[Reino de Itália (1861–1946)|Reino da Itália]])
|-
|[[Ficheiro:JPN_Daikun'i_kikkasho_BAR.svg|60x60px]]
|[[Ordem do Crisântemo|Grande Cordão da Ordem do Crisântemo]] ([[Império do Japão]])
|-
|[[Ficheiro:JPN_Toka-sho_BAR.svg|60x60px]]
|[[Ordem da Paulownia|Ordem das Flores Paulownia]] ([[Império do Japão]])
|-
|[[Ficheiro:OrderofCarolI.ribbon.gif|60x60px]]
|[[Ordem de Carol I]] ([[Reino da Romênia]])
|}
<!--- essa ligação não leva para lugar nenhum, quando ela realmente levar, remova esse código de ocultação.
== Família ==
{{Artigo principal|Família de Pu Yi}}
--->
== Na mídia ==

=== Filmes ===

* ''O Último Imperador'', um filme de Hong Kong de 1986 (título chinês 火龍, significa literalmente ''Dragão de Fogo'') dirigido por Li Han-hsiang. Tony Leung Ka-fai interpretou Puyi.
* ''[[O Último Imperador]]'', filme de 1987 dirigido por [[Bernardo Bertolucci]]. [[John Lone]] interpretou o adulto Puyi.
* ''Aisin-Gioro Puyi'' (愛新覺羅·溥儀), um documentário chinês de 2005 sobre a vida de Puyi. Produzido pela [[Televisão Central da China|CCTV]], fez parte de uma série de dez documentários sobre dez personalidades históricas.
* ''A Fundação de um Partido'', filme chinês de 2011 dirigido por Huang Jianxin e Han Sanping. O ator infantil Yan Ruihan interpretou Puyi.
* ''[[Xin hai ge ming|1911]]'', um filme histórico de 2011 dirigido por [[Jackie Chan]] e Zhang Li. O filme conta a história da fundação da [[República da China (1912–1949)|República da China]] quando [[Sun Yat-sen]] liderou a [[Revolução Xinhai]] para derrubar a [[Dinastia Qing]]. Puyi, de cinco anos, é interpretado pelo ator infantil Su Hanye. Embora o tempo de Pu Yi na tela seja curto, há cenas significativas que mostram como o imperador foi tratado na corte antes de sua abdicação, aos seis anos de idade.<ref name="1911 movie">{{Citar web|url=https://www.imdb.com/title/tt1772230/|titulo=1911 Movie at IMDB|website=[[IMDb]]}}</ref>

=== Televisão ===

* ''The Misadventure of Zoo'', uma série de televisão de Hong Kong de 1981 produzida pela [[Television Broadcasts Limited|TVB]]. Adam Cheng interpretou um Puyi adulto.
* ''Modai Huangdi'' (末代皇帝; significa literalmente ''O Último Imperador''), uma série de televisão chinesa de 1988 baseada na autobiografia de Puyi, ''Do Imperador ao Cidadão'', com o irmão de Puyi, Pujie, como consultor da série. Chen Daoming estrelou como Puyi.
* ''Feichang Gongmin'' (非常公民; significa literalmente ''Cidadão Incomum''), uma série de televisão chinesa de 2002 dirigida por Cheng Hao. Dayo Wong estrelou como Puyi.
* ''Ruten no Ōhi – Saigo no Kōtei'' (流転の王妃·最後の皇弟; título chinês 流轉的王妃), uma série de televisão japonesa de 2003 sobre Pujie e Hiro Saga. Wang Bozhao interpretou Puyi.
* ''Modai Huangfei'' (末代皇妃; significa literalmente ''O Último Consorte Imperial''), uma série de televisão chinesa de 2003. Li Yapeng interpretou Puyi.
* Modai Huangdi Chuanqi (末代皇帝传奇; significa literalmente ''A Lenda do Último Imperador''), uma colaboração televisiva de Hong Kong/China de 2015 (59 episódios, cada um com 45 minutos), estrelada por Winston Chao

== Bibliografia ==

=== Por Puyi ===

* [[iarchive:wodeqianbansheng|我的前半生- A autobiografia de Pu Yi]]&nbsp;– [[escritor-fantasma]] por Li Wenda. O título do livro chinês é geralmente traduzido em inglês como From Emperor to Citizen. O livro foi relançado na China em 2007 em uma nova versão corrigida e revisada. Muitas frases que haviam sido excluídas da versão de 1964 antes de sua publicação foram agora incluídas.
* {{cite book|url=https://archive.org/details/fromemperortocit00puyi|título=|ultimo1=Aisin-Gioro|primeiro1=Puyi|publicado=Foreign Languages Press|isbn=978-7119007724|orig-year=1964|script-title=zh:我的前半生|trans-title=The First Half of My Life; From Emperor to Citizen: The Autobiography of Aisin-Gioro Puyi|year=2002|lingua=zh|url-access=}}&nbsp;– original
* {{cite book|url=https://archive.org/details/lastmanchuautobi00puyi|titulo=The Last Manchu: The Autobiography of Henry Pu Yi, Last Emperor of China|ultimo1=Pu Yi|primeiro1=Henry|ultimo2=Kramer|primeiro2=Paul|publicado=Skyhorse Publishing|isbn=978-1602397323|orig-year=1967|year=2010|url-access=}}

=== Por outros ===

* {{Citar livro|título=The Last Emperor|ultimo=Behr|primeiro=Edward|editora=Futura|ano=1987|localização=Toronto|isbn=978-0708834398}}. Inspirado no filme homônimo de Bernardo Bertolucci.
* {{cite book|titulo=Absolute Erotic, Absolute Grotesque: The Living, The Dead, and The Undead in Japan's Imperialism, 1895–1945|ultimo=Driscoll|primeiro=Mark|publicado=Durham: Duke University Press|isbn=978-0822347613|jstor=j.ctv11cw7mv|year=2010}}
* {{cite book|url=https://books.google.com/books?id=s2NKutuUlA8C|titulo=Chiang Kai-shek China's Generalissimo and the Nation He Lost|ultimo=Fenby|primeiro=Jonathan|publicado=New York: Carroll & Graf|isbn=9780786739844|year=2004}}
* {{cite book|url=https://catalog.hathitrust.org/Record/100329657|titulo=Court Life in China|ultimo=Headland|primeiro=Isaac Taylor|publicado=F.H. Revell|isbn=978-0585150291|archive-date=11 jun 2023|year=1909|archiveurl=https://web.archive.org/web/20230611180627/https://romanization.com/books/courtlifeinchina/index.html}}
* {{cite book|url=https://archive.org/details/twilightinforbid0000john_h7f9|titulo=Twilight in the Forbidden City|ultimo=Johnston|primeiro=Reginald Fleming|data=2008|publicado=Soul Care Publishing|isbn=978-0968045954|author-link=Reginald Johnston|orig-date=|url-access=}}
* {{cite book|titulo=My Husband Puyi: Puyi yu wo / [Li Shuxian kou shu; Wang Qingxiang zheng li; Changchun shi zheng xie wen shi zi liao yan jiu wei yuan hui bian]|ultimo=Li Shuxian|publicado=Chuan guo xin hua shu dian jing xiao|isbn=978-7208001671|orig-year=1984|year=2006}}. Pela quinta esposa de Puyi, Li Shuxian. As memórias de sua vida juntos foram escritas por fantasmas por Wang Qingxian. Uma versão em inglês traduzida por Ni Na foi publicada pela China Travel and Tourism Press.
* {{cite book|url=https://www.cambridge.org/core/books/world-at-arms/122A2C377C4528D26382982044F8E9DC|titulo=A World In Arms: a Global History of World War II|ultimo=Weinberg|primeiro=Gerhard|publicado=Cambridge University Press|isbn=978-0521618267|year=2005|location=Cambridge}}
* {{cite book|titulo=Japan's Total Empire: Manchuria and the Culture of Wartime Imperialism|ultimo=Young|primeiro=Louise|publicado=University of California Press|isbn=978-0520219342|jstor=j.ctt1png7c|location=Los Angeles|year=1998}}

== Notas ==
{{Note|a}}Entre 1 de julho de 1917 e 12 de julho de 1917, durante a [[Restauração Manchu]], Pu Yi retomou o trono e proclamou-se o imperador restaurado da [[dinastia Qing]], apoiado por [[Zhang Xun]], o autoproclamado [[primeiro-ministro do Gabinete Imperial]]. No entanto, as proclamações de Pu Yi e Zhang Xun em julho de 1917 nunca foram reconhecidas pela [[República da China (1912–1949)|República da China]] (na época, o único governo legítimo da China), pela maioria do povo chinês ou por quaisquer países estrangeiros.{{Referências}}

=== Bibliografia ===
{{refbegin|30em}}
* {{cite book|url=https://books.google.com/books?id=0AJlAAAAMAAJ|titulo=S.M. Ali, a Commemorative Volume|ultimo1=Ali|primeiro1=S. M.|ultimo2=Ally|primeiro2=Fowzia|ultimo3=Islam|primeiro3=Syed Manzoorul|publicado=S.M. Ali Memorial Committee|acessodata=10 de março de 2014|year=1997}}
* {{cite book|titulo=The Last Emperor|ultimo=Behr|primeiro=Edward|publicado=Futura|year=1987|location=Toronto}}
* {{cite journal |titulo=Rule of Law in a Brave New Empire: Legal Rhetoric and Practice in Manchukuo |journal=Law and History Review |issue=Summer 2008 |ultimo=Dubois |primeiro=Thomas |year=2008 |pages=285–319 |doi=10.1017/S0738248000001322 |volume=26 |s2cid=143723253}}
* {{cite book|titulo=Park Chung Hee and Modern Korea The Roots of Militarism, 1866–1945|ultimo=Eckert|primeiro=Carter|publicado=Harvard University Press|year=2016|location=Cambridge}}
* {{cite book|url=https://books.google.com/books?id=_qtgoTIAiKUC|titulo=The Manchu Way: The Eight Banners and Ethnic Identity in Late Imperial China|ultimo=Elliott|primeiro=Mark C.|publicado=Stanford University Press|isbn=978-0804746847|acessodata=10 de março de 2014|edition=illustrated, reprint|year=2001}}
* {{cite book|url=https://books.google.com/books?id=WpsMAQAAMAAJ|titulo=Emperor Qianlong: Son of Heaven, Man of the World|ultimo=Elliott|primeiro=Mark C.|publicado=Longman|isbn=978-0321084446|acessodata=10 de março de 2014|year=2009}}
* {{cite book|titulo=The Origins of the Second World War in Asia and the Pacific|ultimo=Iriye|primeiro=Akira|publicado=Longman|isbn=978-0582493490|year=1987|location=London}}
* {{cite book|url=https://books.google.com/books?id=RZNxAAAAMAAJ|titulo=From Emperor to Citizen: The Autobiography of Aisin-Gioro Pu Yi|author=Puy|ultimo2=Jenner|primeiro2=William John Francis|publicado=Oxford University Press|isbn=978-0192820990|acessodata=10 Mar 2014|translator=[[William John Francis Jenner]]|edition=illustrated, reprint|year=1987}}
* {{cite journal |titulo="Saint Joan" From A Chinese Perspective: Shaw and the Last Emperor, Henry Pu-Yi Aisin-Gioro |journal=Shaw |issue=2009 |ultimo=Li |primeiro=Kay |year=2009 |pages=109–126 |doi=10.5325/shaw.29.2009.0109 |volume=29 |doi-access=free |s2cid=161826564}}
* {{cite book|titulo=The Russian Fascists Tragedy and Farce in Exile 1925–45|author=Stephan|primeiro=John|publicado=Harper & Row|isbn=978-0060140991|year=1978}}
* {{cite book|url=https://books.google.com/books?id=ivYsAgAAQBAJ|titulo=The Last Manchu: The Autobiography of Henry Pu Yi, Last Emperor of China|author=Henry Pu Yi|publicado=Skyhorse Publishing, Inc.|editor-last=Kramer|editor-first=Paul|isbn=978-1626367258|acessodata=10 Mar 2014|year=2013}}
{{refend}}

== Ligações externas ==

* {{Citar web|url=http://history.cultural-china.com/en/48History6760.html|titulo=Cinco esposas do último imperador Pu Yi|acessodata=9 Ago 2010|publicado=Cultural China|arquivourl=https://web.archive.org/web/20091215215941/http://history.cultural-china.com/en/48History6760.html|arquivodata=15 Dez 2009|urlmorta=dead}}
* [http://www.royalty.nu/Asia/China/PuYi.html Royalty.nu: biografia estendida]
* [https://web.archive.org/web/20010129020200/http://www.time.com/time/asia/magazine/99/0927/gardens.html ''Time'': A Humilde Ocupação do Último Imperador]
* [https://web.archive.org/web/20051210051247/http://www.hartford-hwp.com/archives/55/045.html Li Xin, a viúva de Pu Yi revela o lado suave do último imperador]
* [http://www.art-virtue.com/painting/history/ching/PuRu/bio-PuRu.htm Pu Ru (溥儒), primo de Pu Yi, talentoso pintor e calígrafo chinês]
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