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55chan

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
55chan
Pessoas-chave Cauê Felchar (administrador)
Gênero Imageboard
País de origem Brasil
Idioma(s) Português
Extinção janeiro de 2021; há 4 anos
Endereço eletrônico 55chan.org
Estado atual Extinto

55chan foi um fórum anônimo brasileiro.[1][2][3] Junto com o brchan e Dogolachan, o 55chan foi um dos imageboards lusófonos mais populares do Brasil.[4][5][6] O site era dividido em boards correspondentes a diversos assuntos, que incluíam aleatoriedades, política, cultura japonesa, jogos e literatura. Durante sua existência, usuários do site envolveram-se em ataques a jornalistas e personalidades públicas, além de infiltrações em sistemas eletrônicos do governo brasileiro.

Em 2010, usuários do 55chan atacaram a jornalista Tatiana de Mello Dias, do Estado de S. Paulo, e vazaram suas informações pessoais após o jornal ter publicado uma matéria que mencionava o fórum.[7][3][8] Durante o ataque, os usuários tentaram tirar o Estadão do ar. No decorrer do processo seletivo do ENEM em 2017, diversos usuários do 55chan invadiram os sistemas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), incluíndo o SISU, e do Sistema de Cadastro do SUS (CADSUS), alterando os cursos de inscritos para categorias de menor valor.

Em diversas ocasiões, usuários do site invadiram lives de mulheres e travestis na plataforma Twitch. Em 2020, vinte usuários do site invadiram uma reunião online do candidato a vereador William de Lucca (PT-SP), que é homossexual, exibindo mensagens homofóbicas e imagens de teor sexual. Além de figuras públicas, o administrador do 55chan também alegou ser vítima de usuários banidos do próprio fórum, que, após terem descoberto sua identidade, teriam atrelado seu nome a um blog de ódio.

Características

Posts de uma thread do 55chan em 2017, as boards estão listadas na barra superior

Similarmente ao 4chan, o 55chan tinha uma board denominada /pol/, onde se discutia assuntos políticos, comumente através de uma lente politicamente incorreta. Na board /escória/, usuários realizavam discursos de ódio a respeito de mulheres, as quais eram referidas como "depósitos de porra" (ou apenas "depósitos").[2][1]

Entre outras categorias, o 55chan tinha a board /jo/ (para discussões sobre jogos em geral) e /lan/ (discussões sobre jogos multiplayer).[4] Além dessas, o fórum também mantinha as boards /b/, /lit/, /an/ e /esp/, correspondentes aos assuntos de aleatoriedades, literatura, cultura japonesa e esportes, respectivamente.[9] O 55chan foi construído através da engine vichan, uma fork to Tinyboard que já foi usada por diversos outros chans.[2] O site era hospedado no domínio 55chan.org.[2]

Os usuários do site eram chamados de "anões".[3] Visitantes e novos usuários, os quais eram chamados de "câncer", não eram bem-vindos pelos usuários estabelecidos do fórum.[7] Com o consentimento da maioria dos usuários, a equipe de moderação do 55chan mantia uma política severa de correção gramatical com o objetivo de afastar novos usuários advindos de outras comunidades, como o Orkut. Usuários novos e exibicionistas eram frequentemente criticados pelos oldfags (usuários antigos) do site, que os chamavam de "o câncer que está matando o /b/".[10] Usuários do 55chan viam sites como o brchan e o blog Bobagento, criado por Raphael Mendes, como rivais. Segundo um usuário do brchan, "no 55chan eles não gostam da cara do sujeito e já é motivo para fazer [ataques orquestrados].”[11]

História

Ataque ao site do Estadão

Em 2010, usuários do fórum atacaram o Estado de S. Paulo após seu extinto caderno de tecnologia Link ter publicado um artigo intitulado "Onde Nascem os Memes no Brasil", no qual o 55chan era mencionado.[3][7] A reportagem foi mal recebida pelos usuários do site, os quais repudiaram a exposição do fórum ao grande público.[7] Durante a controvérsia, diversos usuários enviaram trotes, pizzas e ameaças à jornalista Tatiana de Mello Dias, que assionou a matéria, e dados pessoais da mesma foram vazados.[3][7] O site do Estadão também foi alvo de um ataque que objetivou tirá-lo do ar.[7]

Acusação contra o administrador do fórum

Em 2015, o administrador do 55chan, Cauê Felchar, foi acusado de manter um blog de ódio na internet. Segundo ele, a acusação era falsa e partiu de uma quadrilha de crimes virtuais que ele havia banido do 55chan, a qual teria agido após descobrir a sua identidade. "Tentaram roubar meu chan, mas resolveram ferrar a minha vida de outra forma: criaram um site com meu nome, e com os textos de ódio deles," ele disse. O advogado de Felchar apontou, também, ao fato de que a gangue teria atrelado falsamente o nome de Emerson Eduardo Setim a posts de discurso de ódio, utilizando-se de uma imagem editada onde Setim aparecia segurando um livro de Adolf Hitler.[12]

Invasão do INEP

Durante o processo seletivo do ENEM de 2017, alguns usuários do 55chan exploraram uma falha no sistema informático do INEP, apartir da qual mudaram as opções de curso de alguns inscritos do ENEM (incluíndo uma estudante que tirou a nota máxima no exame e teve seu cadastro alterado para produção de cachaça).[13][14] Adiante, prints postados no fórum mostraram que usuários tiveram acesso ao Sistema de Cadastro do SUS (CADSUS), que já havia sido invadido por hackers no passado.[14] Em um post do 55chan, um usuário ensinava os outros a burlar o sistema do SISU.[13] Segundo internautas, a invasão ao INEP teria sido feita mediante engenharia social e exploração de falhas em cadastros.[15]

Invasão a livestreams e reuniões online

Usuários do site também participaram de diversas invasões a lives de mulheres e travestis na plataforma Twitch, incluíndo a streamer Giulia Henne. Em 2011, usuários do site vazaram informações pessoais (incluíndo RG e endereço) de uma jornalista que abordava temas de cultura nerd na internet, a qual deletou seu perfil após o ataque.[3] Após o Massacre de Suzano, alguns usuários do 55chan postaram mensagens de apoio aos jovens que realizaram o ataque.[16]

Durante a pandemia de 2020, cerca de vinte usuários do 55chan invadiram uma reunião online do candidato a vereador William de Lucca (PT-SP). Durante a invasão, usuários exibiram imagens de crianças nuas e outras com teor sexual. A reunião contava com 200 telespectadores durante o ataque, no qual de Lucca, que é homossexual, sofreu ataques homofóbicos.[17]

Fechamento

O 55chan foi fechado em janeiro de 2021.[18]

Ver também

Referências

  1. a b Eduardo, Gabriel Velho (2022). «A manifestação da masculinidade tóxica em um fórum de internet anônimo brasileiro.». Revista Fronteiras. 24 (2) 
  2. a b c d Nascimento, Gabriel; Carvalho, Flavio; Cunha, Alexandre Martins da; Viana, Carlos Roberto; Guedes, Gustavo Paiva (29 de outubro de 2019). «Hate speech detection using brazilian imageboards». ACM (em inglês): 325–328. ISBN 978-1-4503-6763-9. doi:10.1145/3323503.3360619. Consultado em 15 de março de 2024 
  3. a b c d e f canaltech. «Grupo chamado de "anões" usa o 55chan para atacar mulheres e travestis no Twitch». Terra. Consultado em 15 de março de 2024 
  4. a b Elmezeny, Ahmed (2018). «Same but Different: A Comparative Content Analysis of Trolling in Russian and Brazilian Gaming Imageboards». Game Studies, the international journal of computer game research. 18 (2). ISSN 1604-7982. Our data was collected from the most popular chans in Brazil and Russia. In Brazil, the most popular chans are brchan and 55chan. 
  5. «As empresas de tecnologia são cúmplices do discurso de ódio na internet». Época. 15 de março de 2019. Consultado em 15 de março de 2024. O 55, como o Dogolachan, um dos fóruns anônimos mais frequentados no Brasil e celeiro de diversos discursos de ódio. 
  6. Nascimento, Gabriel; Carvalho, Flavio; Cunha, Alexandre Martins da; Viana, Carlos Roberto; Guedes, Gustavo Paiva (29 de outubro de 2019). «Hate speech detection using brazilian imageboards». ACM (em inglês): 325–328. ISBN 978-1-4503-6763-9. doi:10.1145/3323503.3360619. Consultado em 16 de março de 2024. An eminent Brazilian [imageboard] is 55chan. 
  7. a b c d e f Ramos, Daniela Osvald (29 de dezembro de 2022). «Origens da misoginia online e a violência digital direcionada a jornalistas mulheres». RuMoRes (32): 39–57. ISSN 1982-677X. doi:10.11606/issn.1982-677X.rum.2022.202081. Consultado em 15 de março de 2024 
  8. «Membros do 55chan atacam Estadão». Estadão. 2010. Consultado em 15 de março de 2024 
  9. Valle-Nunes, Luiz H. (2020). «Os Imageboards e os seus Recursos Compartilhados: Um Estudo de Caso em Síntese de Autoria Forense». Language and Law / Linguagem e Direito. 7 (1): 77-93 
  10. FONTANELLA, Fernando (2010). Nós somos Anonymous: anonimato, trolls e a subcultura dos imageboards. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação.
  11. «Diário mostra como é ser novato no 4chan». Super. Consultado em 16 de março de 2024 
  12. «Acusado de manter site de ódio, universitário garante que é vítima da gangue que faz apologia ao estupro». R7.com. 5 de agosto de 2015. Consultado em 15 de março de 2024 
  13. a b «Ataque contra aluna nota 1.000 do Enem foi planejado na noite do domingo». epoca.globo.com. Consultado em 15 de março de 2024 
  14. a b «De Medicina a Produção de Cachaça: entenda como malandros 'burlaram' o Enem». www.tecmundo.com.br. 3 de fevereiro de 2017. Consultado em 15 de março de 2024 
  15. «Após estudantes sofrerem invasão em suas contas no Sisu, MEC nega ataque hacker». www.folhape.com.br. Consultado em 15 de março de 2024 
  16. «Frequentadores de fóruns extremistas na internet comemoram ataque em Suzano». O Globo. 14 de março de 2019. Consultado em 15 de março de 2024 
  17. «Pré-candidato do PT a vereador em São Paulo sofre ataque virtual com imagens de pedofilia durante live». Sonar - A Escuta das Redes - O Globo. 19 de agosto de 2020. Consultado em 15 de março de 2024 
  18. Weitzel, Leila; Daroz, Thalessa Hungerbühler; Cunha, Luan Pereira; Helde, Rafael Von; Morais, Lucas Mendonça de (20 de junho de 2023). «Investigating Deep Learning Approaches for Hate Speech Detection in Social Media : Portuguese-BR tweets». IEEE: 1–5. ISBN 978-989-33-4792-8. doi:10.23919/CISTI58278.2023.10211751. Consultado em 15 de março de 2024