Lucrécia (gente)
A gente Lucrécia (em latim: Lucretius; pl. Lucretii) era uma gente muito importante da República Romana. Originalmente patrícia, passou a incluir diversas famílias plebeias mais tarde. Era uma das mais antigas gentes romanas e entre seus membros estava a esposa de Numa Pompílio, Lucrécia. O primeiro a alcançar o consulado foi Espúrio Lucrécio Tricipitino, em 509 a.C., o primeiro ano da República[1].
Prenomes
[editar | editar código-fonte]Os Lucrécios patrícios preferiam os prenomes (em latim: praenomina) Tito, Espúrio, Lúcio e Públio. São a única gente conhecida a ter utilizado o prenome Hosto e podem também ter utilizado Opítero, um prenome muito utilizado pela gente Vergínia.
Os principais prenomes utilizados pelos Lucrécios plebeus foram Lúcio, Marco, Espúrio e Quinto. Há ainda exemplos de Caio, Cneu e Tito[1][2].
Ramos e cognomes
[editar | editar código-fonte]A única família patrícia dos Lucrécios tinha o cognome (em latim: cognomen) Tricipitino. As famílias plebeias eram conhecidas pelos cognomes Galo, Ofela e Vespilão. Caro foi utilizado pelo poeta Lucrécio. Em moedas, aparece ainda Trio, que não é mencionado por nenhum autor antigo. Uns poucos Lucrécios aparecem sem um cognome[1].
Membros
[editar | editar código-fonte]Lucrécios Tricipitinos
[editar | editar código-fonte]- Espúrio Lucrécio Tricipitino, membro do Senado Romano e provavelmente prefeito urbano durante o reinado de Lúcio Tarquínio Soberbo, o sétimo e último rei de Roma; logo depois da expulsão dos Tarquínios, foi eleito cônsul sufecto para terminar o mandato de Lúcio Tarquínio Colatino, que renunciou, mas morreu logo depois de assumir o cargo[3][4][5][6].
- Lucrécia, esposa de Lúcio Tarquínio Colatino, um dos primeiros cônsules em 509 a.C.; seu estupro por Sexto Tarquínio, filho do rei Tarquínio Soberbo, deflagrou os eventos que culminaram no fim da monarquia romana e na fundação da república[7][8].
- Tito Lucrécio Tricipitino, cônsul em 508 e 504 a.C.. Em seu primeiro consulado, lutou contra Lars Porsena, o rei de Clúsio, e foi ferido. No segundo, ele e seu colega, Públio Valério Publícola, lutaram contra os sabinos[9][10].
- Lúcio Lucrécio Tricipitino, cônsul em 462 a.C., triunfou sobre os volscos; no ano seguinte, defendeu Cesão Quíncio Cincinato, filho de Cincinato, que foi condenado e exilado. Em 449 a.C., foi um dos senadores a favor da extinção do Segundo Decenvirato[11][12].
- Hosto Lucrécio Tricipitino, cônsul em 429 a.C.; segundo Diodoro Sículo, seu prenome era "Opítero"[11][13].
- Públio Lucrécio Tricipitino Hosto, tribuno consular em 419 e 417 a.C.[14].
- Lúcio Lucrécio Tricipitino Flavo, cônsul em 393 a.C. e tribuno consular em 391, 388, 383 e 381; em seu consulado, venceu os équos. Segundo Plutarco, era geralmente o primeiro senador a falar, uma honra que transformar-se-ia no privilégio conhecido como "príncipe do senado", que não existia na época de Lucrécio[15][16].
Lucrécios Vespilões
[editar | editar código-fonte]- Lucrécio Vespilão, edil em 133 a.C., atirou o corpo de Tibério Semprônio Graco no Tibre, o que lhe valeu seu cognome, uma referência ao carregador de cadáveres dos pobres[17][18].
- Quinto Lucrécio Vespilão, um orador e jurista que foi proscrito por Sula e executado[19][20].
- Quinto Lucrécio Vespilão, serviu na frota de Pompeu em 48 a.C.; foi proscrito pelo Segundo Triunvirato em 43 a.C., mas foi escondido em sua própria casa por sua esposa, Cúria, até ser perdoado. Foi nomeado cônsul sufecto em 19 a.C.[21][20][22][23].
Outros Lucrécios
[editar | editar código-fonte]- Lucrécia, esposa de Numa Pompílio, o segundo rei de Roma, com quem, segundo alguns relatos, ela se casou depois de chegar ao trono[24].
- Lúcio Lucrécio, questor em 218 a.C., o início da Segunda Guerra Púnica; foi feito prisioneiro pelos lígures juntamente com outros oficiais romanos e libertado por Aníbal[25].
- Marco Lucrécio, tribuno da plebe em 210 a.C., teve um papel importante na disputa sobre a nomeação de Quinto Fúlvio Flaco como ditador para aquele ano[26].
- Espúrio Lucrécio, pretor em 205 a.C., durante a Segunda Guerra Púnica, recebeu a Gália Cisalpina como sua província. Em 203 a.C., reconstruiu a cidade de Genua, que havia sido destruída por Magão Barca[27].
- Caio Lucrécio Galo, pretor em 171 a.C., recebeu o comando da marinha romana na Terceira Guerra Macedônica contra Perseu da Macedônia. No ano seguinte, foi acusado de grandes crueldades e condenado a pagar uma pesada multa[28][29].
- Marco Lucrécio, tribuno da plebe em 172 a.C., apresentou a proposta de lei "..ut agrum Campanum censores fruendum locarent". No ano seguinte, serviu como legado de seu irmão, Caio, o pretor, na Grécia[30].
- Espúrio Lucrécio, pretor em 172 a.C., recebeu a Hispânia Ulterior como província. Em 169 a.C., serviu com distinção ao cônsul Quinto Márcio Filipo na Terceira Guerra Macedônica. Foi um dos três embaixadores enviados à Síria em 162 a.C.[31][32].
- Cneu Lucrécio Trio, triúnviro monetário por volta de 136 a.C..
- Quinto Lucrécio Ofela, um aliado de Sula, comandou o exército que aceitou a rendição de Preneste em 82 a.C.. No ano seguinte, foi candidato ao consulado, uma clara violação da Lex de magistratibus de Sula e acabou sendo morto por um dos soldados dele.
- Lúcio Lucrécio Trio, triúnviro monetário por volta de 76 a.C..
- Marco Lucrécio, um senador romano e um dos advogados contratados por Caio Verres, o que levantou suspeitas de que teria sido subornado[33].
- Tito Lucrécio Caro, um grande poeta do século I a.C. e autor de "De rerum natura" ("Da Natureza das Coisas").
- Quinto Lucrécio, uma amigo íntimo de Caio Cássio Longino e aliado dos optimates. Durante a guerra civil, foi obrigado a fugir da cidade de Sulmo quando seus próprios homens abriram os portões para Marco Antônio[34][35].
Referências
- ↑ a b c Smith, Lucretii
- ↑ Realencyclopädie der Classischen Altertumswissenschaft.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita i. 58, 59, ii. 8.
- ↑ Dionísio de Halicarnasso, Antiguidades Romanas iv. 76, 82, 84, v. 11, 19.
- ↑ Tácito, Anais, vi. 11.
- ↑ Cícero, De Republica, ii. 31.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita i. 55 ff.
- ↑ Dionísio de Halicarnasso, Antiguidades Romanas iv. 64 ff.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita ii. 8, 11, 16.
- ↑ Dionísio de Halicarnasso, Antiguidades Romanas v. 20, 22, 23, 40 ff.
- ↑ a b Lívio, Ab Urbe Condita iii. 8, 10, 12.
- ↑ Dionísio de Halicarnasso, Antiguidades Romanas ix. 69-71, xi. 15.
- ↑ Diodoro Sículo, Bibliotheca Historica xii. 73.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita iv. 44, 47.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita v. 29, 32, vi. 4, 21, 22.
- ↑ Plutarco, Vidas Paralelas, "Camillus," 32.
- ↑ Aurélio Vítor, De Viris Illustribus, 64.
- ↑ D.P. Simpson, Cassell's Latin & English Dictionary (1963).
- ↑ Cícero, Brutus, 48.
- ↑ a b Apiano, Bellum Civile, iv. 44.
- ↑ Júlio César, Commentarii de Bello Civili, iii. 7.
- ↑ Valério Máximo, Nove Livros de Feitos e Dizeres Memoráveis, vi. 7. § 2.
- ↑ Dião Cássio, História Romana liv. 10.
- ↑ Plutarco, Vidas Paralelas, "Numa," 21.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita xxvii. 5
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita xxvii. 5.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita xxviii. 38, xxix. 13, xxx. 1, 11.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita xl. 26, xlii. 28, 31, 35, 48, 56, 63, xliii. 4, 6, 7, 8.
- ↑ Políbio, Histórias xxvii. 6.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita xlii. 19, 48, 56.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita xlii. 9, 10, xliv. 7.
- ↑ Políbio, Histórias xxxi. 12, 13.
- ↑ Cícero, In Verrem, i. 7.
- ↑ Cícero, Epistulae ad Atticum, iv. 16. § 5, vii. 24, 25.
- ↑ Júlio César, Commentarii de Bello Civili, i. 18.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]
- Este artigo contém texto da autoria de Ramsay William do artigo «Lucretia et seq» do Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology (em domínio público), de William Smith (1870), vol. 2, p. 828.