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Estilo neoislâmico

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Palácio Vorontsov (Ucrânia), construído em 1830-1848 pelo inglês Edward Blore.

O estilo neoislâmico, também neomourisco,[1] neomudéjar ou neoárabe, foi um estilo artístico revivalista e romântico, surgido na Europa no século XIX, que buscava imitar e recriar a arte islâmica antiga.

O neoislâmico foi um reflexo do fascínio pelo exótico da cultura e a arte dos países do Oriente (Orientalismo) que se espalhou pela Europa especialmente a partir de finais do século XVIII. Várias fontes de inspiração foram utilizadas, incluindo a arte do Império Otomano, do Norte da África e Andaluzia, do Médio Oriente e do Império Mogol na Índia.

O neoislâmico foi particularmente utilizado na arquitetura, sendo por isso considerado parte da arquitetura historicista. Muitas vezes foi misturado a outros estilos, dando origem a edificações ecléticas. Edificações antigas que serviram de modelos para projetos "neo" incluem mausoléus mogóis como o Taj Mahal na Índia e palácios como a Alhambra, na Andaluzia, Espanha.

Sinagoga de Dohány em Budapeste, construída em 1854-1859.

Na arquitetura, algumas dos primeiras manifestações do estilo foram realizadas por arquitetos ingleses. Entre 1815 e 1822, o arquiteto John Nash redesenhou o Pavilhão Real de Brighton, na Inglaterra, em um estilo exótico que imita a arquitetura indiana de influência mogol, incluindo cúpulas em forma de cebola e minaretes. Um pouco mais tarde, entre 1830 e 1848, o arquiteto Edward Blore construiu o Palácio Vorontsov, em Alupka, Ucrânia, em estilo islâmico influenciado pelos mausoléus da Ásia Central como residência para um príncipe local. Seguindo o gosto orientalista em voga no século XIX, os estilos neo-islâmicos logo se espalharam pelos outros países europeus e às Américas.

Na Europa, muitas sinagogas foram construídas em estilos neoislâmicos, devido à crença de que a época de dominação islâmica na Ibéria medieval correspondeu a uma idade de ouro para o Judaísmo. Um exemplo antigo foi a Sinagoga de Dresden (Alemanha, destruída na Noite dos cristais), construída entre 1839 e 1840 pelo renomado arquiteto Gottfried Semper com discreta decoração neoislâmica misturada com elementos neobizantinos e neorromânicos. Exemplos de antigas sinagogas em estilo neoislâmico ainda existentes são a Sinagoga de Dohány em Budapeste (Hungria), construída entre 1854 e 1859; a Nova Sinagoga em Berlim, construída entre 1859 e 1866 (reconstruída); a Sinagoga Espanhola de Praga (República Tcheca), construída a partir de 1868 e a Sinagoga de Florença (Itália), construída entre 1874 e 1882. Muitas outras sinagogas importantes em estilo neoislâmico ainda existem na Polônia, República Tcheca, Hungria, Rússia, Bulgária (Sinagoga de Sófia), Bósnia (Sinagoga de Sarajevo), além dos Estados Unidos.

Salão Árabe do Palácio da Bolsa do Porto (1862-1880).

Em Portugal, o neoislâmico foi fartamente utilizado na arquitetura romântica desde o século XIX. Sintra, centro do romantismo português, foi palco das suas primeiras manifestações, como no Palácio Nacional da Pena (a partir de 1844), que incorpora elementos neogóticos, neomanuelinos e neoislâmicos na forma de torres e cúpulas que lembram minaretes. Nos anos 1860, ainda em Sintra, foi construído o palácio da Quinta do Relógio, segundo um projeto do arquiteto António da Fonseca Júnior. O palácio incorpora janelões e arcadas com arcos em ferradura e é decorado com inscrições em árabe. Muito mais tarde, já em 1922, foi erguida a pitoresca Fonte Mourisca, decorada com azulejos.

Outro dos monumentos emblemáticos do estilo é o exuberante Salão Árabe do Palácio da Bolsa no Porto, construído entre 1862 e 1880 pelo arquiteto Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa num estilo inspirado pelo Alhambra. Em Lisboa foram construídos alguns palacetes no estilo, como o Palácio Ribeira da Cunha (1877, Praça do Príncipe Real) e o Palacete Conceição da Silva (1891, Avenida da Liberdade). Na década de 1910, quando o Palácio Alverca (atual Casa do Alentejo) foi convertido num cassino, o seu pátio interior e salões internos foram redecorados num exuberante estilo neomourisco.

Praça de Touros do Campo Pequeno, em Lisboa.

Ainda em Lisboa, foi construída uma das principais obras do gênero, a Praça de Touros do Campo Pequeno, datada de 1892 e projetada pelo arquiteto António José Dias da Silva. A monumental praça, de forma circular e dotada de janelas de arcos de ferradura e ameias, tem quatro torreões nos quatro pontos cardeais com cúpulas aceboladas. A superfície do edifício é integralmente revestida com tijolos vermelhos, dando-lhe uma aparência típica da arquitetura mudéjar ibérica. Outras praças de touros portuguesas, como a de Setúbal, foram construídas no mesmo estilo.

Pavilhão Mourisco, sede da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.

No Brasil, o estilo mourisco foi também utilizado, ainda que muitos edifícios tenham sido perdidos. Talvez o mais importante existente seja o Pavilhão Mourisco, sede da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.[1] O palácio, desenhado pelo arquiteto português Luiz de Moraes Jr., foi construído entre 1904[1] e 1918. Os quatro andares são dotados de arcadas de feição arabizante e a fachada é flanqueada por duas torres com cúpulas aceboladas. O interior acompanha o exterior e foi ricamente decorado com azulejos, mosaicos, estuques e vitrais em estilo mourisco.

Outro exemplo importante no Rio de Janeiro é o chamado Salão Mourisco do Palácio do Catete, construído cerca de 1865 como residência do Barão de Nova Friburgo e que serviu de residência presidencial. O salão, inserido num palácio de arquitetura neoclássica, é integralmente decorado com arcadas, móveis, pinturas e até um lustre em estilo mourisco e era utilizado para atividades lúdicas, como o jogo e o fumo.

Curiosa é também a Igreja do Imaculado Coração de Maria, também localizada no Rio, levantada entre 1909 e 1929 segundo um projeto do arquiteto espanhol Adolfo Morales de los Ríos. A igreja é de estilo marcadamente moçárabe, inspirada na arquitetura mudéjar medieval ainda existente na Espanha atual, coberta de tijolos e ricamente decorada. Outro edifício notável em estilo neoislâmico no Rio foi um café-restaurante construído cerca de 1909 na praia de Botafogo, conhecido como Pavilhão Mourisco e projetado por Alfredo Burnier. O pavilhão, de estrutura metálica com cinco chamativas cúpulas, foi finalmente demolido na década de 1950 para a construção de um túnel, mas o nome "mourisco" persiste na toponímia local, por exemplo no Centro Empresarial Mourisco, levantado recentemente perto do local do antigo palacete. Em Salvador, a Igreja de Nossa Senhora da Lapinha, na Liberdade (Salvador), tem seu interior totalmente mourisco

Em outros lugares do Brasil, também há exemplos esparsos de arquitetura neoislâmica. Em São Paulo, destaca-se o Palacete Rosa, construído pela próspera família Jafet, imigrantes libaneses. O Mercado Municipal de Campinas, projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo e inaugurado em 1908, é outro exemplo desse estilo.

Referências

  1. a b c «Pavilhão Mourisco é a única edificação neo-mourisca do Rio de Janeiro». Portal Fiocruz. 24 de fevereiro de 2007. Consultado em 22 de maio de 2020. Arquivado do original em 24 de fevereiro de 2007 
  • COSTA, R. G. Arquitetura Neo-mourisca no Rio de Janeiro. In: COSTA, R. G. Caminhos da Arquitetura em Manguinhos. Rio de Janeiro: Fiocruz, Casa Oswaldo Cruz, FAPERJ, 2003, p. 77-87.
  • CRISTOFI, R. B. O orientalismo arquitetônico em São Paulo - 1895 - 1937. 2016. Dissertação (Mestrado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, University of São Paulo, São Paulo, 2016. link.