Ajuricaba (indígena)
Ajuricaba | |
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Nascimento | Barcelos |
Morte | 1728 rio Amazonas |
Cidadania | Brasil |
Etnia | Manaós |
Ajuricaba foi líder da nação indígena dos manaós, no início do século XVIII. Revoltou-se contra os colonizadores portugueses, negando-se a servir como escravo. Deste modo, se tornou um símbolo de resistência e liberdade,[1] além de ser considerado uma figura heroica para os cidadãos manauaras.
História
[editar | editar código-fonte]Ajuricaba nasceu em território do atual estado do Amazonas. Passou muitos anos afastado de sua aldeia mas, foi obrigado a retornar ao convívio dos demais após o assassinato do seu pai, cacique dos manáos, pelas mãos dos invasores portugueses. [1] Os manáos tinham um acordo com as lideranças portuguesas, onde a etnia permitiria o comércio de membros de outras tribos como escravos para os portugueses. Ajuricaba seria contra tal acordo de comércio de escravos. Desentendimentos posteriores, levaram à morte do cacique.[2]
Assumindo o posto que foi de seu pai, Ajuricaba, observando a "traição" portuguesa, procurou os holandeses, que viviam mais ao norte, onde hoje é o atual Suriname. Os holandeses eram inimigos de Portugal e logo se associaram ao plano manauara.[2] Bem armados, os manaós enfrentavam os portugueses, atacando as missões do rio Negro, resistindo e impedindo a ação das "tropas de resgate" (tropas portuguesas em busca de escravos indígenas) dentro de sua área de influência. Os portugueses temiam que outros povos indígenas da região seguissem o exemplo dos Manaós, abrindo o caminho para uma invasão no vale do Rio Negro. Após negociações de paz, que não duraram, os portugueses começaram uma "guerra justa" contra os manaós em 1727.
A morte
[editar | editar código-fonte]Maia da Gama, após organizar uma força de ataque contra os manáos, assim descreve a morte de Ajuricaba[3]:
(...) buscando-o os nossos na sua Aldeya se pos em defensa antes de se fechar o serco, porem com os tiros de hua pessa de Artelharia que nos nossos levavão, se resolverão a fogir, e a desemparar a Aldeya com outros principaes, que com elle se achavão na mesma Aldeya para o defenderem, e seguidos dos nossos nesta ocazião, e nos dias seguintes buscando-o nas Aldeyas dos seus alliados, foi ultimamente prezo o dito barbaro, regullo, e infiel Ajuricaba e seis ou sete principallotes dos seus aliados, e que com elle se acharão e se fizerão duzentas ou trezentas prezas (...)
Enviado a Belém onde seria vendido como escravo, durante a viagem, preso em ferros, Ajuricaba e seus homens tentaram matar os soldados da canoa onde estavam. Falhada a tentativa, Ajuricaba atirou-se à água com outro chefe, preferindo o suicídio à escravidão.[3]
Legado
[editar | editar código-fonte]O suicídio de Ajuricaba foi considerado heroico tanto por seu próprio povo quanto pelos portugueses[1] e sua figura ficou na memória popular repercutindo em diversas rebeliões e enfrentamentos de líderes indígenas contra os colonizadores.[4]
A Amazônia, ao longo dos anos 70, foi cenário para diversas produções cinematográficas e teatrais, tanto nacionais quanto estrangeiras. Em 1974, Ajuricaba foi personagem central da peça A Paixão de Ajuricaba, poema dramático que narra a resistência dos povos indígenas ao colonialismo, tendo, como personagem principal, Ajuricaba. Oswaldo Caldeira, em 1977, produz o longa metragem dramático Ajuricaba, o Rebelde da Amazônia.[5] O filme, filmado na própria floresta amazônica, narra a resistência do cacique Ajuricaba à presença do colonizador português na região. A narrativa de Ajuricaba é construída de maneira não linear, intercalando alguns momentos da segunda década do século XVIII ao tempo presente, dinâmica que realça uma certa continuidade histórica. [6]
Homenagens
[editar | editar código-fonte]- Em 1965, o município de Ajuricaba, no estado do Rio Grande do Sul, inspirou-se na história de Ajuricaba para emancipar-se de Ijuí.[7]
- Em 2013, Foi fundado um Moto Clube na cidade de Manaus, estado do Amazonas com o nome de Ajuricabas Moto Clube (AMC17) em homenagem a Ajuricaba.
- Em 2019, a Rede Amazônica promoveu um especial para o público escolher sabores, costumes, lugares e personalidades em homenagem aos 350 anos da cidade de Manaus. Houve uma votação online para escolher "a personalidade que é a cara de Manaus", sendo Ajuricaba o vencedor, com 46% dos votos.[8]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Manaós (povo indígena de Ajuricaba)
- Ajuricaba, o Rebelde da Amazônia (Filme)
Referências
- ↑ a b c «A luta do indígena brasileiro que preferiu a morte à escravidão». Observatório do Terceiro Setor. 21 de janeiro de 2019. Consultado em 29 de outubro de 2019
- ↑ a b Adalto Gouveia (26 de setembro de 2017). «História Hoje: Saiba mais sobre o índio guerreiro Ajuricaba, morto há 290 anos». Agência Brasil. Consultado em 21 de fevereiro de 2024
- ↑ a b «[Carta de João da Maia da Gama ao rei D. João V referindo o castigo dos Manaós, a prisão e morte de Ajuricaba] | Impressões Rebeldes»
- ↑ Souza, Márcio (2019). História de Amazônia: do período pré-colombiano aos desafios do século XXI 1a edição ed. Rio de Janeiro: Record. p. 145. OCLC 1112673034
- ↑ Ajuricaba, o rebelde da Amazônia | Cine Nacional | TV Brasil | Cultura, 19 de dezembro de 2012, consultado em 30 de agosto de 2023
- ↑ Leonardo Araújo, Naiara (17 de dezembro de 2021). «Paisagens da Amazônia e representações indígenas na produção cinematográfica brasileira "Ajuricaba: o rebelde da Amazônia" (1977)». Cinema & Território: 135–150 Páginas. doi:10.34640/UNIVERSIDADEMADEIRA2021ARAUJO. Consultado em 30 de agosto de 2023
- ↑ «Dados Históricos». Município de Ajuricaba. Consultado em 29 de outubro de 2019
- ↑ «Ajuricaba é a personalidade que é a cara de Manaus». Rede Amazônica. 7 de setembro de 2019. Consultado em 29 de outubro de 2019
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Nádia Farage 1991: As Muralhas dos Sertões. Os povos indígenas no rio Branco e a colonização. Rio de Janeiro, Paz e Terra; ANPOCS, pp. 62-63.
- David Graham Sweet 1974: A Rich Realm of Nature Destroyed: The Middle Amazon Valley, 1640-1750. PhD thesis, University of Wisconsin, pp. 538-546.
- Décio de Alencar Guzmán 1997. Historias de brancos: memória, historiografia dos índios Manao do rio Negro (séculos XVIII-XX). Dissertação (mestrado), Universidade Estadual de Campinas . Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,1997. Link: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000129151
- Márcio Souza 2019: História da Amazônia: Do período pré-colombiano aos desafios do século XXI. Rio de Janeiro: Record. pp. 141-145