Alfred Krings
Alfred Krings (Neuss, 22 de outubro de 1924 — Colônia, 11 de abril de 1987) foi um musicólogo, professor e produtor musical alemão de destacada atuação no movimento de revivalismo da música antiga.
Carreira
[editar | editar código-fonte]Estudou na Universidade de Colônia com Karl Gustav Fellerer, o que abriu seu caminho até a rádio estatal Westdeutscher Rundfunk (WDR) de Colônia, para a qual passou a trabalhar como produtor de programas radiofônicos e gravações. Seu interesse por compositores esquecidos, e sua habilidade como comunicador ao fazer a apresentação dos programas, chamaram a atenção dos diretores da rádio, assumindo crescentes responsabilidades.[1]
Como produtor e gerente-geral da WDR, foi um dos pioneiros no movimento de reconstrução da música antiga, estimulando os músicos a experimentar em estilos históricos, produzindo discografia e transmissões radiofônicas.[2] Desde antes de 1951 organizava workshops de interpretação e produzia programas onde apresentava ao público músicos interessados no revivalismo.[3] Fundou a orquestra Capella Coloniensis em 1954 e pouco depois o Collegium Musicum e o Collegium Aureum. Participou da criação da gravadora Harmonia Mundi, da qual foi produtor e diretor artístico. Recrutou para as orquestras da rádio intérpretes talentosos como Franzjosef Maier, Bob van Asperen, Gustav Leonhardt, Hans-Martin Linde, Reinhard Goebel e os irmãos Kuijken, foi responsável pelas primeiras gravações de muitos artistas que se tornaram referências na música antiga, além de patrocinar diversos outros grupos de câmara.[2] Sob sua atuação a WDR se tornou em 1976 a primeira emissora do mundo a estabelecer um departamento permanente voltado para a música antiga,[4] assumindo a chefia da programação.[5]
Ao mesmo tempo, procurou divulgar a música folclórica alemã e internacional, expandindo suas atividades de forma notável ao assumir o Departamento de Música Folclórica da WDR em 1968. Essa iniciativa tinha um lado empresarial, sendo lançada como uma maneira de diversificar a programação, mas também um importante lado cultural, entendendo a necessidade de recuperar a história dos povos e mantê-la viva. Os programas que organizou neste departamento resgataram muitas composições antigas e estimularam gravações e a pesquisa especializada, exercendo um impacto positivo em países do Mediterrâneo e na União Soviética. Também procurou fazer com que a WDR expandisse suas atividades para fora dos estúdios, organizando concertos ao vivo em Colônia e várias outras cidades, onde incluiu música contemporânea. Além disso, dirigiu o festival Dias da Nova Música de Câmara em Witten, ressuscitou a Festa Musical do Reno de Düsseldorf, fundou os Dias da Música Antiga em Herne e o abrangente Festival Shostakovich, que foi acompanhado por um simpósio científico, e com Hugo Borger foi um dos idealizadores da Filarmônica de Colônia, embasando-a no conceito de união entre o passado e o presente.[1]
Professor na Escola de Música do Reno, ministrou o Curso de Música Antiga a partir de 1964, introduzindo na Escola os conceitos de reconstrução histórica, combinando teoria e prática. A resposta do público foi tão positiva que em 1966 foi criado um novo departamento na Escola, o Instituto de Música Antiga,[6] quando Krings assumiu sua chefia.[7]
Como musicólogo editou vários volumes de partituras, incluindo madrigais italianos, chansons francesas e corais alemães,[8][9][10] escreveu a apresentação dos anais do IV Congresso Internacional de Música de Igreja,[11] e publicou estudos sobre Heinrich Isaac (Zu Heinrich Isaacs Missa Virgo Prudentissima 6 voces), o Codex de Chantilly (Zur Rhythmik einiger Balladen der Handschrift Chantilly 1047),[12] o papel do canto gregoriano na composição de missas entre o período de Johannes Ockeghem até Josquin des Prez (Die Bearbeitung der gregorianischen Melodien in der Messkompositionen vom Ockeghem bis Josquin des Prez, 1951),[13] e as práticas de música sacra da Idade Média e do Renascimento (Zur Aufführung von Kirchenmusik des Mittelalters und der Renaissance).[14] Divulgou a obra de compositores antigos e recentes então pouco conhecidos, como Frescobaldi, Hugo Distler, Ernst Pepping e outros.[15]
Reconhecimento
[editar | editar código-fonte]As orquestras que fundou se tornaram referência de qualidade e deixaram extensa discografia, e segundo a musicóloga Dorottya Fabian, sua influência no campo da música antiga foi enorme.[2] O crítico James Oestreich o chamou de figura "carismática" e "lendária",[4] e Barthold Kuijken confirmou seu papel de inspirador e sua contribuição inestimável para o movimento.[2] Recebeu o título de professor emérito do governo da Renânia do Norte-Vestfália.[1]
No obituário que escreveu em 1987, Manfred Jenke disse que ele tinha um profundo conhecimento da literatura musical e um senso infalível de autenticidade no que dizia respeito aos padrões sonoros e aos conjuntos que promovia, e seus programas radiofônicos conseguiam combinar educação para a música e educação para a mídia de uma forma muito clara, despretensiosa e compreensível para todos que ouvissem com atenção e não apenas ouvissem. "A proximidade com o público, que Krings sempre buscou, nunca se tornou bajulação ou falsa popularização. Ele sempre se certificou de que as exigências fossem atendidas: tanto sobre os músicos que tocavam quanto o público que ouvia. [...] Alfred Krings, ao mesmo tempo publicitário e músico, aproveitou a oportunidade para criar uma rádio com sabedoria e inteligência. Ele contribuiu para melhorar este mundo — não apenas para embelezá-lo —, e não poupou suas forças neste trabalho".[1]
Referências
- ↑ a b c d Jenke, Manfred. "Alfred Krings (1924-1987)". In: Studienkreis Rundfunk und Geschichte Mitteilungen, 1987; 13 (2): 118-120
- ↑ a b c d Fabian, Dorottya. Bach Performance Practice, 1945-1975: A Comprehensive Review of Sound Recordings and Literature. Routledge, 2017, pp. 36-40
- ↑ Tingaud, Jean-Luc. Alfred Deller: le contre-ténor. Editions J. Lyon, 1996, p. 55
- ↑ a b Oestreich, James R. "The New Sound of Early Music". The New York Times, 21/07/1996
- ↑ "Entwicklungen im Hörfunk 1956-1985: in Verantwortung für alle". WDR, 11/09/2015, p. 80
- ↑ Eickelberg, Antonie; Lachmund, Peter; Herrenbrück, Erika. Historie der Rheinischen Musikschule, vol. 2. Stadt Köln, 2012, p. 6
- ↑ Fellerer, Karl Gustav. Rheinische Musiker, Volume 9. Volk, 1981, p. 84
- ↑ Powley, Edward Harrison. Il Trionfo Di Dori: Commentary. Eastman School of Music, 1974, p. 6
- ↑ Hiltmann, Torsten. Les 'autres' rois: Études sur la royauté comme notion hiérarchique dans la société au bas Moyen Âge et au début de l'époque moderne. Walter de Gruyter, 2013, p. 129
- ↑ Hawkins, Margaret. An Annotated Inventory of Distinctive Choral Literature for Performance at the High School Level. American Choral Directors Association, 1976, p. 56
- ↑ Overath, Johannes. IV. Internationaler Kongress Für Kirchenmusik. Bachem, 1962, p. 120
- ↑ Directory of Music Research Libraries, Parte 3. Bärenreiter, 1975, p. 78
- ↑ Finscher, Ludwig. Die Musik des 15. und 16. Jahrhunderts, Parte 1. Laaber-Verlag, 1989, p. 274
- ↑ Cowdery, James R. et al. Speaking of Music: Music Conferences, 1835-1966. Répertoire international de la littérature musicale, 2004, p. 88
- ↑ Der Kirchenmusiker: Mitteilungen der Zentralstelle für evangelische Kirchenmusik. Merseburger, 1982, p. 191