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Caliban and the Witch

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Caliban and the Witch
Women, the Body and Primitive Accumulation
Autor Silvia Federici
Tema feminismo, marxismo
Gênero ensaio
Data de publicação 2004

Caliban and the Witch : Women, the Body and Primitive Accumulation (em português: Calibã e a Bruxa : As mulheres, o corpo e a acumulação original) é um livro da autoria de Silvia Federici de 2004. Escrito em resposta às tradições feministas e marxistas, o livro oferece uma crítica alternativa à teoria da acumulação primitiva de Karl Marx, através da análise histórica do papel de gênero, da família e da sociedade patriarcal ao longo dos séculos até à ascensão do capitalismo.[1]

O título do livro faz referência à obra A Tempestade de William Shakespeare e às personagens Caliban e a sua mãe, a bruxa Sycorax.[2]

Mulheres condenadas à forca pelo crime de bruxaria em Inglaterra (gravura da autoria de Ralph Gardiner, 1655)

O livro aborda diferentes períodos da história começando por, logo no primeiro capítulo, analisar o período medieval como o berço da história da luta entre a plebe, a nobreza e o clero - incluindo como em certos países, a nobreza intensificou a misoginia para destronar qualquer hipótese de rebelião das classes mais pobres ao longo do eixo do sexo, para além de ter criado e aprofundado a estigmatização de outras religiões ou seitas, consideradas então heréticas, que pudessem proporcionar uma maior autonomia feminina e liberdade sexual.

Através dessa análise são abordados conceitos como a divisão do trabalho, o papel das mulheres nos regimes feudais e o impacto das tentativas de resistência e revolta dos servos contra os proprietários de terras, tais como a Revolta dos Camponeses Ingleses de 1381 ou ainda a Guerra dos Camponeses Alemães entre 1524 e 1525,[3] para além de construir um racíocinio lógico entre o papel dos servos revoltosos com o surgimento de novos cultos, seitas ou movimentos político-religiosos, como o Bogomilismo, Cátarismo, Valdenses e Taboritas.[4]

São ainda apontadas como algumas políticas discriminatórias foram legalizadas, prejudicando e atrasando cada vez mais a luta pela igualdade de género, como quando em 1300, tanto em França como em Veneza, foi legalizada a violação de mulheres proletárias, e de 1350 a 1450, foram criados bordéis financiados por impostos públicos. A autora propõe que a nobreza usava estas medidas para que os homens proletários descarregassem as suas frustrações sobre as mulheres em vez dos seus opressores, com o consentimento da Igreja.[5]

A Grande Caça às Bruxas na Europa

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Durante o século XV, o conceito de caça às bruxas era novo no discurso europeu, não existindo, até meados desse século, leis ou códigos que declassem a bruxaria punível com a morte, surgindo concomitantemente com a Revolução Científica. Silvia Federici observa que a perseguição ao misticismo ou paganismo foi criada originalmente como uma preocupação das classes altas e intelectuais, regidas pelos clérigos e magistrados, que buscavam eliminar pensamentos não científicos ou de origem pagã, sendo disseminada às pessoas comuns pelos panfletos, livros, leis e cânones religiosos criados pela sua classe.[6] Posteriormente, a sua mensagem tornou-se cada vez mais deturpada e influenciada pelo fervor religioso.[7]

A autora afirma que “Se considerarmos o contexto histórico em que ocorreu a caça às bruxas, o género e a classe dos acusados, e os efeitos da perseguição, (...) então a conclusão inevitável é que se tratou de um ataque (premeditado ou não) às mulheres, à resistência à propagação das relações capitalistas e ao poder que as mulheres ganharam em virtude da sua sexualidade, do seu controlo sobre a reprodução e da sua capacidade de curar".[8] As pessoas perseguidas pelo crime de bruxaria eram tipicamente mulheres pobres com mais de 40 anos, quase todas mendigas; na Irlanda e nas Terras Altas da Escócia, onde a posse colectiva da terra e os laços de parentesco proporcionavam uma rede de segurança social desconhecida para os trabalhadores em terras cercadas, não há registo de caça às bruxas. [9][10]

  1. 李虹睿. «World Book Day: Ten books you cannot miss». www.chinadaily.com.cn. Consultado em 18 de julho de 2024 
  2. Federici, Silvia (29 de julho de 2021). Caliban and the Witch: Women, the Body and Primitive Accumulation (em inglês). [S.l.]: Penguin Books Limited 
  3. Federici, Silvia (2004). Caliban and the Witch. USA: Autonomedia. ISBN 1570270597 
  4. Federici, Silvia (2004). Caliban and the Witch. USA: Autonomedia. ISBN 1570270597 
  5. Federici, Silvia (2004). Caliban and the Witch. USA: Autonomedia. pp. 47–49. ISBN 1570270597 
  6. «The Past as Prologue: Caliban & the Witch - a Review». REBEL (em inglês). 30 de outubro de 2020. Consultado em 18 de julho de 2024 
  7. Federici, Silvia (2004). Caliban and the Witch. USA: Autonomedia. pp. 163–169. ISBN 1570270597 
  8. Federici, Silvia (2004). Caliban and the Witch. USA: Autonomedia. ISBN 1570270597 
  9. Federici, Silvia (2004). Caliban and the Witch. USA: Autonomedia. pp. 171–173. ISBN 1570270597 
  10. «Ecologies of Care Screening and conversation with Silvia Federici and Angela Anderson - Events - e-flux». www.e-flux.com (em inglês). Consultado em 18 de julho de 2024