Concílio de Sárdica
O Concílio de Sárdica foi um de uma série de concílios regionais (ou sínodos) reunidos para ajustar a doutrina e resolver as dificuldades da controvérsia ariana, realizado provavelmente em 343. Os imperadores romanos Constante I e Constâncio II chamaram este concílio[1]. Outro concílio foi realizado em 347.
História
[editar | editar código-fonte]O concílio
[editar | editar código-fonte]Ósio de Córdoba e outros bispos do Império Romano do Ocidente desejavam a paz e um julgamento final no caso de Atanásio de Alexandria e outros bispos que estavam sendo alternadamente condenados e reabilitados por diversos concílios no ocidente e no oriente. Eles também desejavam resolver definitivamente a confusão surgida das muitas fórmulas doutrinárias (credos) em circulação e sugeriram que todos estes assuntos deveriam ser tratados num concílio geral. Para que ele tivesse representação ampla, Sárdica, na Dácia Mediterrânea (hoje Sófia, capital da Bulgária), foi escolhida para se o local do encontro. Atanásio, expulso de Alexandria pelo prefeito romano Filádrio em 339, foi convocado pelo imperador Constante de Roma. Lá ele encontrou Ósio, designado pelo imperador e pelo papa para presidir o concílio e o acompanhou até Sárdica. O Papa Júlio I foi representado pelos padres Arquídamo e Filóxeno e pelo diácono Leão. Noventa e seis bispos ocidentais foram até Sárdica, já os orientais vieram em número menor.[2]
Cisma
[editar | editar código-fonte]Estando em minoria, os bispos orientais - liderados por Estêvão de Antioquia e pelo discípulo de Eusébio de Nicomédia, Acácio de Cesareia.[3] - decidiram agir em bloco e, temendo deserções, eles todos se alojaram no mesmo local. Alegando não quererem reconhecer Atanásio, Marcelo de Ancira e Asclepas de Gaza - todos excomungados pelos sínodos orientais - eles se recusaram a sentar no concílio com os bispos ocidentais. Ósio tentou um acordo convidando-os a apresentaram-lhe privadamente as reclamações contra Atanásio e prometendo que, caso Atanásio fosse inocentado, levá-lo para a Hispânia com ele. A tentativa falhou. Os bispos orientais - embora o concílio tenha sido reunido expressamente com o objetivo de reabrir o caso dos que foram excomungados - defenderam sua conduta alegando que um concílio não poderia revisar as decisões de outros. Temendo que o concílio fosse dominado pelos bispos ocidentais, muitos dos bispos do oriente deixaram o concílio para realizar outro na cidade de Filipópolis, onde compuseram uma encíclica e um novo credo. Este cisma de fato perpetuou a questão ariana ao invés de resolvê-la, intenção original do concílio[2]
Desfecho
[editar | editar código-fonte]Os bispos ocidentais, abandonados, examinaram os casos de Atanásio, Marcelo e Asclepas. Nenhuma nova investigação das acusações contra Atanásio foi considerada necessária, pois elas já tinham sido rejeitadas, e ele e os outros dois bispos, a quem foram permitidas a apresentação de documentos de defesa, foram declarados inocentes. Adicionalmente, uma censura foi aprovada sobre os bispos orientais por terem abandonado o concílio, sendo que diversos deles foram depostos e excomungados.[2] O concílio falhou totalmente no seu objetivo principal. A pacificação da Igreja não foi assegurada e, como resultado, o concílio de Sárdica falhou em representar a Igreja de maneira universal e não é considerado um dos Concílios Ecumênicos.
Cânones
[editar | editar código-fonte]Antes da separação, os bispos aprovaram diversos importantes cânones, especialmente sobre transferências e julgamentos de bispos, e também apelações. Estes cânones, juntamente com outros documentos do concílio, foram enviados para o Papa Júlio I com uma carta assinada pela maioria dos bispos presentes.[4]
Sárdica produziu 21 Cânones. Além da questão ariana, outros pontos principais foram [5]:
- Bispos não deveriam tentar recrutar em dioceses diferentes da sua;
- Bispos deveriam morar permanentemente na sua diocese;
- Bispos deveriam passar a maior parte do seu tempo na sua diocese (e não na corte, em Roma);
- Bispos não devem ser transferidos para outras dioceses;
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Sócrates Escolástico. «20». História Eclesiástica. Of the Council at Sardica. (em inglês). II. [S.l.: s.n.]
- ↑ a b c "Council of Sardica" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
- ↑ Henry Melvill Gwatkin. «The Arian Controversy» (em inglês). Aolib.com. Consultado em 26 de dezembro de 2011. Arquivado do original em 26 de abril de 2012
- ↑ "Sardica" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
- ↑ «Cânones de Sárdica» (em inglês). Fordham University, Medieval Sourcebook. Consultado em 17 de outubro de 2010
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Council of Sardica» (em inglês). Encyclopædia Britannica (11ª edição). Consultado em 17 de outubro de 2010
- «Early Church Fathers - Chapter XX Of the Council at Sardica» (em inglês). Sacred Texts. Consultado em 17 de outubro de 2010
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Hefele, tradução francesa, "Histoire des conciles", II, pt. II, 737-42 (em francês)
- Duchesne, "Hist. ancienne de l'Eglise", II, 215 (em francês)
- Carl Mirbt, Quellen zur Geschichte des Papsttums (Tübingen, 1901), p. 46 f. (em alemão)
- J. Friedrich, Die Unechtheit der Canones von Sardika (Vienna, 1902) (em alemão)
- F. X. Funk, "Die Echtheit der Canones von Sardica," Historisches Jahrbuch der Gorresgesellschaft, xxiii. (1902), pp. 497–5 16; ibid. xxvi. (1905), pp. 1–18, 255-274 (em alemão)
- C. H. Turner, "The Genuineness of the Sardican Canons," The Journal of Theological Studies, iii. (London, 1902), PP. 37 0 -397. (C. M.) (em inglês)
Concílio de Sárdica