Maria Lúcia Vassalo Namorado
Maria Lúcia Vassalo Namorado | |
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Nome completo | Maria Lúcia Vassalo Namorado Silva e Rosa |
Pseudônimo(s) | Milú, Maria Lúcia, Tricana, Marianela, Dona Experiência, Qui-Quiriqui, Telma, Tia Luísa e Tião |
Nascimento | 1 de junho de 1909 São Pedro, Torres Novas, Portugal |
Morte | 9 de fevereiro de 2000 (90 anos) Lisboa, Portugal |
Nacionalidade | portuguesa |
Ocupação | Escritora, poeta, jornalista e activista |
Prémios | Cruz de Mérito da Cruz Vermelha Portuguesa (1947) |
Maria Lúcia Vassalo Namorado Silva Rosa (São Pedro, Torres Novas, 1 de Junho de 1909 - Lisboa, 9 de Fevereiro de 2000) foi uma escritora, poetisa, jornalista, activista e directora da revista Os Nossos Filhos.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Primeiros Anos de Vida
[editar | editar código-fonte]Nascida a 1 de Junho de 1909, em São Pedro, Torres Novas, Maria Lúcia Vassalo Namorado era filha de António Florentino Namorado, um comerciante republicano e maçon, natural de Cano, Sousel, Portalegre, e de Ana Perpétua Vassalo, natural de Alcanena, Torres Novas, oriunda de uma família burguesa. Era prima de Manuel António Vassalo e Silva, último Governador da Índia Portuguesa, e das escritoras Maria Lamas e Alice Vieira.
Viveu os primeiros anos de vida na sua terra natal, onde estudou na escola oficial, por insistência do seu pai que era republicano anticlerical. Após revelar gosto e talento pela escrita, foi incentivada pelo pai a prosseguir os seus estudos, mudando-se com a família para Lisboa aos dez anos de idade. Frequentou o Liceu Maria Pia [1], que funcionava no Palácio Valadares, no Largo do Carmo, passando mais tarde a chamar-se de Liceu Almeida Garrett. [2] Anos mais tarde, após ter perdido um ano devido a uma doença pulmonar, regressou às aulas no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, onde foi a melhor aluna da turma, prosseguindo os seus estudos no agrupamento de Ciências, contudo, não concluiu o último ano, tendo abandonado os estudos, novamente por motivos de doença, desta vez com febre tifóide, e regressado a Torres Novas em 1928.
Durante esses anos, colheu diversos ensinamentos que a iriam moldar tanto a sua vida pessoal como profissional, nomeadamente sobre a importância da educação, a luta pelos direitos das mulheres e outros ideais republicanos. Magalhães Lima, Maria Amália Vaz de Carvalho, Alice Pestana e Ana de Castro Osório foram algumas das personalidades que mais a marcaram, adoptando algumas das suas ideologias sobre o papel fundamental que a mulher deveria ter na sociedade de então.
Anos 30
[editar | editar código-fonte]Em 1930, enquanto passava férias no Luso com a mãe e Maria Cândida Caeiro, filha mais nova da sua prima Maria Lamas, conheceu Joaquim Jerónimo da Silva Rosa, um escrivão, natural de Lorvão, Penacova, Coimbra, com o qual se casou numa cerimónia civil em Torres Novas, e outra religiosa em Coimbra. Três anos mais tarde, teve um filho, o primeiro de três, em Penacova, onde passou a residir.[1]
Até então, Maria Lúcia tinha apenas publicado pequenos contos e poemas em alguns periódicos, como A Renascença, A Mocidade: semanário da Liga da Mocidade Republicana e Portugal Feminino, iniciando em 1929 a sua maior colaboração, a convite de Maria Lamas, no suplemento d'O Século, a revista Modas e Bordados. [3] Durante treze anos, assinaria os seus artigos com os pseudónimos "Milú", "Maria Lúcia", "Tricana", "Marianela" e "Dona Experiência"[4], cada um criado para abordar as diferentes temáticas da revista, fossem estes receitas de culinária, dicas de puericultura, conselhos para adolescentes ou até soluções para problemas domésticos.
Iniciando a sua carreira jornalística de forma mais activa em 1932, começou a escrever quinzenalmente na secção infantil e secção feminina do jornal Notícias de Penacova,[5] juntamente com o seu marido, que ocupava o cargo de redactor principal e administrador do jornal. Entre Março de 1932 e Julho de 1933, Maria Lúcia assinou os seus artigos sob o seu nome de solteira e com o pseudónimo "Qui-Quiriqui", abordando acontecimentos mundiais, como o direito ao voto da mulher na Argentina, a eventos locais, como as exposições de Sarah Afonso e Eduarda Lapa, em Lisboa.
Em 1937, mudou-se para a Golegã com a família, onde publicou o seu primeiro livro "Negro e Cor de Rosa". Três anos depois, partiu novamente para Lisboa e escreveu "A Mulher dona de casa" (1943) e "Joaninha quer casar: conselhos às raparigas" (1944) nos seguintes anos.
Anos 40 e 50
[editar | editar código-fonte]Na década de 40, revelou a sua veia associativa e interventiva. Tornou-se membro da Liga Portuguesa de Profilaxia Social do Porto, onde propôs a criação de uma Liga Protectora da Infância (apesar de nunca se ter concretizado), e do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), onde foi secretária da assembleia-geral, presidente da comissão de Propaganda (1945) [6] e participante na "Exposição de Livros escritos por Mulheres", que impulsionou o fecho da organização feminina pelo Estado Novo, em 1947. Alistou-se na Associação Feminina Portuguesa para a Paz (AFPP) e na Liga Portuguesa Abolicionista, esta última a convite da escritora e amiga Fernanda Tasso de Figueiredo, chegando ao cargo de vice-presidente, em 1948 [7]. Foi também subscritora das listas do Movimento de Unidade Democrática (MUD).[8]
Em Junho de 1942, constantemente preocupada com a intervenção social, sob um ambiente cada vez mais repressivo e em crise económica, deu início ao maior projecto da sua vida, a revista Os Nossos Filhos, que dirigiu e editou com o apoio financeiro de António Júlio Vassalo, seu primo, e angariações de António Emílio de Magalhães, médico do Porto, amigo da família.[2]
Mensalmente, Maria Lúcia Vassalo Namorado publicava uma colectânea de artigos, crónicas, teses, conferências, concursos didácticos ou pedagógicos dirigida aos pais, com a colaboração de inúmeras mulheres e homens ligados ao regime e à oposição, como Maria Palmira Tito de Morais, Lília da Fonseca, Maria da Luz Albuquerque, Alice Vieira e Mário Castrim, entre outros.[9] Como temas, a revista mencionava alguns dos maiores problemas que as mulheres mães enfrentavam no seu quotidiano: a falta de instrução, a inexistência de um planeamento familiar ou apoio à mulher trabalhadora, assim como a violência doméstica ou as altas taxas de mortalidade infantil. Outro tema recorrente era a defesa e a criação de bibliotecas escolares como forma de combate à iliteracia, assim como várias campanhas de ajuda e apoio a crianças desfavorecidas, com deficiências ou ainda vítimas da Segunda Guerra Mundial, sendo neste último caso, condecorada pelos seus esforços com a Cruz de Mérito da Cruz Vermelha Portuguesa em Novembro de 1947.[10]
Para além da revista, criou também a editora e distribuidora com o mesmo nome Os Nossos Filhos, sediada em Lisboa, onde publicou obras da sua autoria e de escritores infantis, como Matilde Rosa Araújo, Virgínia Lopes de Mendonça, Maria Elisa Nery de Oliveira e Maria Isabel César Anjo, e três anos depois, orientou o programa radiofónico quinzenal, com 15 minutos de duração, "Programa para as Mães", no então Rádio Clube Português.[11]
Durante a seguinte década, encontrando-se visada pela Comissão de Censura e consciente dos problemas que a resistência enfrentava, sobretudo após a criação da Comissão Feminina de Apoio à Candidatura de Norton de Matos (1949), acompanhada da forte participação política de muitas das suas colaboradoras, que procuravam a igualdade salarial e jurídica para ambos os sexos, o sufrágio universal e a assistência social para todas as mulheres, e já sofrendo a perda de inúmeras subscrições que ameaçavam o fecho da revista, Maria Lúcia Vassalo Namorado apela ao uso de pseudónimos e da "autocensura". Este facto, apesar de não ter agradado a todas as suas colaboradoras, assegurou a subsistência de vários autores que estavam proibidos de trabalhar pelo estado, como era o caso de Maria Palmira Tito de Morais e Maria Lamas, assim como manteve as portas abertas da sua redacção até 1958, ano em que suspendeu a publicação mensal da revista, passando a emitir apenas um número anual até 1964, quando cessou actividade devido a muitas dificuldades financeiras e a repressão do regime.[3]
Obrigada a procurar um novo sustento, perto dos cinquenta anos de idade e separada do seu marido, Maria Lúcia Vassalo Namorado regressa aos estudos para obter os diplomas de professora do ensino pré-escolar e primário, assim como começa a aprender Inglês e Francês na Escola Berlitz, conseguindo em 1959 um cargo na Fundação Sain, o primeiro centro de ajuda e apoio à reintegração de cegos em Portugal, a convite da sua amiga Maria Amália Harberts Borges de Medeiros. Aí, travou amizade com Bernardo Santareno e Fernanda Lapa, e começou a corresponder com Hellen Keller.(http://www.fundacao-sain.pt/museu-virtual/)
Anos 60
[editar | editar código-fonte]Dando continuidade ao seu activismo, integrou a Associação Portuguesa de Surdos, a Liga Portuguesa de Protecção aos Perturbados Motores, a Associação Portuguesa para a Educação pela Arte, o Conselho Internacional de Livros para Jovens (IBBY), a Cooperativa LUDUS - círculo de realizações para a Infância e Juventude e foi aprovada como sócia na Sociedade Portuguesa de Escritores.
Dedicada às suas causas, continuou a colaborar ocasionalmente em periódicos e revistas, como o Jornal Magazine da Mulher, revista Nova Augusta, de Torres Novas, e o semanário Rádio e Televisão, e mais frequentemente, no Diário de Lisboa e o Comércio do Porto, com contos e histórias na página infantil, não deixando no entanto de dar conselhos sobre leituras para os pais, alimentação para as crianças e outros assuntos, sob nome próprio e os pseudónimos de "Telma", "Tia Luísa" e "Tião", este último quando escrevia com Mário Castrim.
Publica ainda "A História do Pintainho Amarelo" (1966), um dos primeiros livros de histórias infantis sobre a reabilitação de cegos em Portugal, com ilustrações de Maria Keil, "A História de um Bago de Milho" (1968), "O Segredo da Serra Azul" (1971), e a colecção de livros "Os Livros da Grande Roda", com contos de outros autores.
Pós 25 de Abril
[editar | editar código-fonte]Depois de 1974, Maria Lúcia Vassalo Namorado ganha uma nova liberdade e não abranda nas suas acções.
Trabalha como professora de Literatura Infantil na escola João de Deus e na Escola do Magistério Primário de Lisboa. Frequenta o curso de Introdução à Musicoterapia, na Fundação Calouste Gulbenkian, Teoria Política por H. Valdês, no Hotel Vitória, e Preparação Política do Movimento Democrático das Mulheres. Participa na Campanha de Alfabetização de Adultos, no 1º e 2º Congresso das Escritoras Portuguesas, e em várias iniciativas do Partido Comunista Português, apesar de não ter filiação. Pertenceu à Comissão Unitária de Mulheres do Alto do Pina, foi sócia do CEFEPE - Centro de Formação e Educação Permanente e uma das fundadora do Instituto de Apoio à Criança.
Faleceu a 9 de Fevereiro de 2000, em sua casa, na Rua Abade Faria, em Lisboa.
O seu espólio foi doado à Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. [12]
Homenagens
[editar | editar código-fonte]- A 27 de Outubro de 1987, foi lhe prestada homenagem pela Sociedade de Língua Portuguesa.
Lista de Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ Barreira, Cecília (1992). História das nossas avós: retrato da burguesa em Lisboa, 1890-1930. [S.l.]: Colibrí
- ↑ Pessoa, Ana Maria (2006). A educação das mães e das crianças no Estado Novo: a proposta de Maria Lúcia Vassalo Namorado. Lisboa: Universidade de Lisboa. 1748 páginas
- ↑ Guimarães, Maria Alice Pinto (2008). Saberes, modas & pó-de-arroz. [S.l.]: Livros Horizonte. ISBN 9789722415422
- ↑ Andrade, Adriano da Guerra (1999). Dicionário de pseudónimos e iniciais de escritores portugueses. [S.l.]: Biblioteca Nacional Portugal. ISBN 9789725652626
- ↑ Penacovaonline, Blogue (31 de julho de 2015). «Penacova Online: Leituras para férias: Penacova paisagem de sonho e beleza». Penacova Online. Consultado em 13 de março de 2019
- ↑ Esteves, João (2003). Falar de Mulheres: Silêncios e Memórias. Lisboa: Livros Horizonte
- ↑ «IPHI». www.fcsh.unl.pt. Consultado em 13 de março de 2019
- ↑ Pimentel, Irene Flunser (2001). História das organizações femininas do Estado Novo. [S.l.]: Temas e Debates. ISBN 9789727594498
- ↑ Pereira, Sara Marques; Manso, Maria de Deus; Favinha, Marília; Sociedades, Universidade de Évora Centro Interdisciplinar de História, Culturas e (2008). Feminino ao sul: história e historiografia da mulher. [S.l.]: Livros Horizonte. ISBN 9789722416139
- ↑ Pessoa, Ana Maria (2005). «A Educação das Mães e das Crianças no Estado Novo: a proposta de Maria Lúcia Vassalo Namorado»
- ↑ Castilho, Clara (26 de abril de 2012). «PEDAGOGOS PORTUGUESES – MARIA LÚCIA NAMORADO por clara castilho». A Viagem dos Argonautas. Consultado em 13 de março de 2019
- ↑ dir., Abreu, Ilda Soares de, dir. Castro, Zília Osório de, dir. Esteves, João, dir. Sousa, António Ferreira de, dir. Stone, Maria Emília, (2005). Dicionário no feminino (séculos XIX-XX). [S.l.]: Livros Horizonte. ISBN 9722413686. OCLC 1025564151