Mosteiro de Lingshed
Mosteiro de Lingshed | |
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Informações gerais | |
Nomes alternativos | • Gompa de Lingshed • Mosteiro de Kumbum |
Tipo | gompa |
Estilo dominante | tibetano |
Construção | c. 1440 |
Aberto ao público | |
Religião | Budismo tibetano, seita Gelugpa |
Geografia | |
País | Índia |
Cidade | Lé |
Território da União | Ladaque |
Distrito | Lé |
Região | Zanskar |
Coordenadas | 33° 54′ 26″ N, 76° 49′ 45″ L |
Localização do Mosteiro de Lingshed no Ladaque |
O Mosteiro de Lingshed, Gompa de Lingshed ou Mosteiro de Kumbum é um mosteiro budista tibetano (gompa) do Zanskar, no Território da União do Ladaque, noroeste da Índia. Situa-se nas montanhas da cordilheira de Zanskar, junto à rota tradicional entre Lamayuru e o centro do Zanskar, que passa por Photoskar e Lingshed e segue para Padum, a principal aldeia do Zanskar.[1]
Foi fundado na década de 1440 por Changsems Sherabs Zangpo, um discípulo de Tsongkhapa, o fundador da seita Gelugpa, à qual o mosteiro pertence, no local onde já existia um mosteiro fundado pelo lotsawa (tradutor para tibetano das escrituras sagradas budistas) Rinchen Zangpo (958–1055). Desde 1779 que está sob a alçada do Ngari Rinpoche, o lama superior do Mosteiro de Rangdum. Em 1994, foi fundado no mosteiro o Centro Jangchub Tensung Dorje por iniciativa de Kyabje Dagom Rinpoche.[2] Em meados da década de 1990 residiam no mosteiro cerca de 60 monges.[3]
Localização e descrição
[editar | editar código-fonte]Segundo o Google Maps, o mosteiro situa-se a 3 950 metros de altitude, numa encosta acima do lado nordeste da pequena aldeia de Lingshed, 11 km a sudeste da aldeia marcada com o nome de Lingshet, 11 km a noroeste do leito do rio Zanskar, 19 km a sul de Photoskar, 32 km a noroeste de Zangla, 50 km a norte de Padum e 41 km a sul de Lamayuru (distâncias em linha reta; sobre o terreno são certamente muito maiores).[4] Em 2009, a estrada mais próxima passava a 92 km da aldeia, o que se traduzia em pelo menos três dias de marcha. Quando a pomposamente chamada autoestrada do Zanskar, cuja conclusão provavelmente demorará várias décadas ao ritmo atual das obras, chegar a Lingshed a aldeia ficará a 55 km por estrada de Photoskar, que por sua vez ficará a 42 km de dsitância do principal eixo rodoviário mais próximo, a estrada Serinagar–Lé.[5]
O mosteiro é o centro da vida religiosa da aldeia de Lingshed e das aldeias vizinhas de Skyumpata, Yulchung, Nyeraks, Dibling e Gongma, de onde provêm todos os monges. Em cada uma dessas aldeias, o mosteiro mantém um gonlak (templo menor).[6]
O complexo, com três andares, é composto por seis santuários, cozinhas, armazéns e o zimchung, um apartamento residencial para o Ngari Rinpoche ou outros lamas visitantes, este último situado na parte mais alta. Abaixo do complexo central, alinham-se as casas onde residem os monges.[7] Praticamente todos os edifícios são de adobe com estrutura de madeira e caiados de branco, como é tradicional na área. Para os monges, só os templos, salas de oração, cozinhas e armazéns associados constituem a gompa. Esta distinção não é apenas ua designação, pois o zimchung e os alojamentos dos monges têm uma gestão económica separada do resto do complexo.[8]
A gompa propriamente dita tem quatro templos principais: o Dukhang, o santuário Tashi Od' Bar, o Chamba Khang e o Kanjur Lakhang, estes dois últimos situados acima do Dukhang. Este é o maior templo do complexo.[9] O seu nome pode ser traduzido por "sala de assembleia"[10] e é nele que são realizadas a maior parte das orações e ritos diários. O Tashi Od' Bar é dedicado a Chenresig, o Buda da compaixão, mais conhecido por Avalokiteshvara|Avalokiteśvara. O Chamba Khang é um templo recente, construído em 1993 e dedicado a Chamba (Maitreya), o Buda do futuro. O Kanjur Lakhang é onde são guardadas as escritura sagradas,[9] que incluem mais de 200 do Tanjur, uma coleção de comentários aos ensinamentos de Buda.[7]
História
[editar | editar código-fonte]Lingshed situa-se no coração duma região de transição entre o Ladaque e o Zanskar, a sudoeste de um dos passos de montanha mais altos que separa as duas regiões, Sengge-La (5 060 m de altitude), que fica a cerca de oito horas de marcha da aldeia. Essa região é habitada desde aproximadamente o início do 2.º milénio d.C. O nome da aldeia está relacionado com a fama da região como zona de caça. Além do mosteiro existente atualmente, há vestígios de outras estruturas monásticas mais antigas, nomeadamente de um construído em cavernas e duas paredes com pinturas dedicadas ao lotsawa Rinchen Zangpo, que viveu no século XI. O folclore local fala também na existência no vale de antigos mosteiros das seitas Kadampa e Drukpa Kagyu.[7][11]
O Mosteiro de Lingshed (ou Kumbum, que signfica "cem mil imagens") foi fundado como um mosteiro da seita Gelug na década de 1440. Segundo a lenda, o fundador Sherabs Zangpo passou pelos mosteiros de Karsha e de Phugtal, situados a sul de Lingshed, e viajou através do passo Hanuma-La, também a sul da aldeia, e de lá avistou uma "luz brilhante auspiciosa" que brilhava numa rocha duma encosta. Em volta dessa rocha construiu um chorten e foi essa rocha que se tornou a base do santuário central de Kumbum, o Tashi 'Od Bar ("Santuário da Luz Brilhante Auspiciosa").[12]
A aldeia de Lingshed é referida nas “Crónicas do Ladaque”, praticamente a única fonte histórica para grande parte da história do Ladaque entre a Idade Média e o século XVIII. Essas crónicas relatam que o filho mais novo de La-chen-Bha-gan (r. ca. 1470–1500), terceiro rei da segunda dinastia tibetana ocidental arrancou os olhos ao irmão mais velho, Lha-chen-Lha-dbaṅ-rnam-rgyal, e destronou-o. Contudo, "para dar continuidade à sua raça", o rei deposto e a sua esposa foram mandados para Lingshed (chamada Liṅ-sñed nas crónicas), onde tiveram três filhos.[13]
Em 1779, o rei do Ladaque Tsewang Namgyal doou as terras de Lingshed e das aldeias em volta, juntamente com os mosteiros zanskares e aldeias de Karsha, Mune, Phugtal e Rangdum a Lobsang Gelek Yeshe Dragpa, a terceira emanação de Ngari Rinpoche. Em 1783, Ngari Rinpoche fundou o Mosteiro de Rangdum dos limites do vale de Karsha, como a sua sede eclesiástica e ao qual está subordinado o mosteiro de Lingshed.[14] Em 2016, o Ngari Rinpoche era o irmão mais novo do Dalai Lama.[7]
Notas e referências
[editar | editar código-fonte]- Parte do texto foi incialmente baseado na tradução do artigo «Lingshed Monastery» na Wikipédia em inglês (acessado nesta versão).
- ↑ Demenge 2013, p. 54.
- ↑ «Teachers: Kyabje Dagom Rinpoche» (em inglês). Dagom Gaden Tensung Ling Buddhist Monastery. www.dgtlmonastery.org. Consultado em 26 de novembro de 2016
- ↑ Rizvi 1996, pp. 250–251.
- ↑ «33°54'26.0"N 76°49'45.0"E». www.google.com/maps. Consultado em 26 de novembro de 2016
- ↑ Demenge 2013, p. 52.
- ↑ Mills 2003, p. 30.
- ↑ a b c d «Lingshed Monastery» (em inglês). www.india.com. Consultado em 26 de novembro de 2016
- ↑ Mills 2003, pp. 30–31.
- ↑ a b Mills 2003, p. 31.
- ↑ «Glossary: Monastery, Residence & Retreat Terminology» (em inglês). Himalayan Art Resources. www.himalayanart.org. Consultado em 26 de novembro de 2016
- ↑ Mills 1996.
- ↑ Mills 2003, p. 20.
- ↑ Francke 1914, pp. 102–103.
- ↑ Mills 2003, p. 21.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Demenge, Jonathan P. (2013), «The Road to Lingshed: Manufactured Isolation and Experienced Mobility in Ladakh» (PDF), Association for Nepal and Himalayan Studies, Himalaya (em inglês), 32 (1), consultado em 26 de novembro de 2016
- Francke, August Hermann (1914), Thomas, Frederick William, ed., Antiquities of Indian Tibet: Personal narrative (em inglês), Nova Deli: S. Chand (publicado em 1972), consultado em 26 de novembro de 2016
- Mills, Martin A. (1996), «Notes on the history of Lingshed Monastery, Ladakh», International Association for Ladakh Studies, Ladakh Studies, ISSN 1356-3491 (em inglês) (8)
- Mills, Martin A. (2003), Identity, Ritual and State in Tibetan Buddhism: The Foundations of Authority in Gelukpa Monasticism, ISBN 9780700714704 (em inglês), Psychology Press, Routledge, consultado em 26 de novembro de 2016
- Rizvi, Janet (1996), Ladakh: Crossroads of High Asia, ISBN 9780195645460 (em inglês) 2.ª ed. , Deli: Oxford University Press India