Paralisia obstétrica
Paralisia Obstétrica é uma lesão neuronal nas fibras do plexo braquial - nervos responsáveis pelo movimento e sensibilidade das mãos, dos braços e dos dedos, resultante de dificuldades no parto, quando manobras do obstetra tracionam a coluna cervical. Ocorre em cerca de 25 a cada 10.000 nascidos.
História
[editar | editar código-fonte]Foi primeiramente relatada por Smelie[1] em 1764.
Em 1872, Duchene de Boulogne [2] descreve quatro casos de crianças com paralisia do plexo braquial resultante de dificuldades no parto e, em 1874, Erb[3] descreve paralisias em adultos com as mesmas características.
A médica Augusta Klumpke,[4] em 1885, sugere uma explicação para o sinal de Horner neste tipo de lesão: avulsão das raízes C8-T1 com envolvimento do sistema nervoso simpático cervical homolateral.
Thorburn,[5] em seu trabalho de 1903, assume que a lesão devia-se a rupura ou estiramento excessivo do plexo braquial. No mesmo ano, Kennedy[6] descreve um tratamento cirúrgico para a paralisia obstétrica.
Taylor[7] e Clark et al.[8] descrevem casos de intervenção cirúrgica como tratamento, porém sem resultados e com alta taxa de mortalidade nos pacientes.
Classificação
[editar | editar código-fonte]Manifesta-se em três formas clínicas distintas, determinadas pela localização e gravidade da lesão.
Tipo | Raízes | Manifestações |
---|---|---|
Erb-Duchenne(paralisia alta) | C5 a C7 | Braço acometido sem movimento, ao lado do corpo, com o ombro rodado internamente, cotovelo estendido e punho ligeiramente fletido.
Perda da abdução e da rotação externa do braço. Incapacidade para a flexão do cotovelo e supinação do antebraço. Ausência do reflexo bicipital e de Moro no lado acometido. Preservação da força do antebraço e da capacidade de preensão da mão. Possibilidade de deficiência sensorial na face externa do braço, antebraço, polegar e indicador |
Klumpke(paralisia baixa) | C8 e T1 | Flexão do cotovelo e supinação do antebraço.
Acometimento dos músculos da mão com ausência do reflexo de preensão palmar. Reflexo bicipital e radial presentes. Síndrome de Horner (ptose palpebral, enoftalmia, miose, e anidrose facial) quando há envolvimento das fibras simpáticas cervicais e dos primeiros nervos espinhais torácicos |
Completa | C5 a T1 | Membro superior acometido flácido com todos os reflexos ausentes |
O tipo Erb-Duchene é mais comum, correspondendo a 75% dos casos. Nesta forma, o reflexo de Moro é assimétrico, o reflexo de preensão palmar está presente e o de flexão do cotovelo ausente. A sensibilidade táctil é normal no antebraço e mão e não se observam alterações vasomotoras. Em até 40% dos casos ocorre recuperação espontânea até o 18° mês de vida, se isto não ocorrer, surgem então deformidades musculares e nas articulações, causando limitação de movimentos: abdução e rotação do braço e flexão do cotovelo.
O segundo tipo mais comum de paralisia obstétrica é a Completa, com cerca de 24% dos casos. Nesta forma, os reflexos estão ausentes, assim como a sensibilidade táctil, e são observadas alterações vasomotoras (palidez ou vermelhidão da pele). Pode ocorrer ainda a síndrome de Claude-Bernard-Horner: pálpebra caída, olho pequeno e pupila pequena. Em alguns casos esta forma evolui para a Erb-Duchene.
A forma mais rara é o tipo Klumpke; seu prognóstico é pior, não havendo melhora espontânea e sobrevindo atrofia muscular e crescimento prejudicado do membro afetado. Encontram-se presentes o reflexo de Moro e o de flexão do cotovelo, e ausente o de preensão palmar. A sensibildade táctil está ausente na mão e antebraço. Também é comum nesta forma a síndrome de Claude-Bernard-Horner.
Classificação CID-10
[editar | editar código-fonte]Fonte: DATASUS
CID-10 P14.0 Paralisia de Erb-Duchene devida a traumatismo de parto
CID-10 P14.1 Paralisia de Klumpke devida a traumatismo de parto
Métodos de Diagnóstico
[editar | editar código-fonte]E muitos casos, é a própria mãe que sinaliza ao médico sobre a "fraqueza" e imobilidade do braço do recén-nascido, além do choro quando o mesmo é manipulado.
O diagnóstico é clínico, combinando o histórico do parto a uma avaliação neurológica: motricidade; sensibilidade; sistema nervoso autônomo.
Podem ser solicitados exames de apoio ao diagnóstico, como radiografia simples; ultrassonografia e eletroneuromiografia.
Exames como a tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética permitem a determinação clara da lesão.
Referências
- ↑ Smellie, W. A collecyion of preternaural cases and observations in Midwifery. London: Wilson and Durham. vol III, 504-05, 1764
- ↑ Duchene, G. De l 'electrisation localisée et de son application à la pathologie et à la therapeutique. Paris: JB Baillière et fils. pp. 357-62, 1872
- ↑ Erb, W. Uher eine eipentümliche lokalisation von Lähmungen im Plexus- brachialis, Verhandl Naturhisl Med Vereins. Carl Winter's Universitats Heidelberg: Buchlandlung. vol 2, pp. 130-36, 1874.
- ↑ Klumpke, A. Contribution à l'etude des paralysies radiculaires du plexus brachil. Rev. Med. (Paris) 5: 591-616, 1885.
- ↑ Thorburn, W. Obstetrical paralysis. J. Obstet. Gynaecol. Br. Europ., 3:545-48, 1903
- ↑ Kennedy, B. Sature of the brachial plexus in birth paralysis of the upper extremity. British Medicai Journal, 1: 298-301, 1903.
- ↑ Taylor, A.S. Braquial birth palsy and injuries of similar type in adults. Surg. Gynecol. Obstet., 30: 494, 1920.
- ↑ Clark, L.P.; Taylor, A.S. & Prout, T.P. Study on braquial birth palsy. Am.J. Med. Sci., 130: 670, 1950