Reconhecimento internacional da independência de Artsaque
A autoproclamda República de Artsaque foi uma nação de facto independente situada na região do Cáucaso do Sul. O território é e era reconhecido internacionalmente como de jure parte do Azerbaijão, o qual não exercia o poder sobre a maior parte da região desde 1991.[1] Desde o fim da Guerra de Nagorno-Karabakh, em 1994, os representantes dos Governos da Armênia e Azerbaijão tinham realizado conversações de paz mediadas pelo Grupo de Minsk da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa (CSCE) sobre o estado disputado da região.Apenas três Estados reconheciam a independência de Artsaque, mas nenhum deles era membro da Organização das Nações Unidas (ONU): Abecásia, Ossétia do Sul e Transnístria.[2] Recentemente, a França tinha passado a reconhecer a independência do Artsaque, tornando-se o primeiro membro da ONU a fazê-lo.[3]
Laços políticos com a Armênia
[editar | editar código-fonte]A política da Armênia e da república de facto de Artsaque estão tão misturadas que um ex-presidente da então República de Nagorno-Karabakh (atual Artsaque), Robert Kocharian, tornou-se o primeiro-ministro (1997) e, em seguida, o presidente da Armênia (1998 – 2008).[4]
De acordo com o Human Rights Watch, desde o início do conflito em Nagorno-Karabakh, a Armênia fornecia ajuda, armas e voluntários. O envolvimento armênio em Nagorno-Karabakh intensificou-se depois de dezembro de 1993, com a ofensiva do Azerbaijão. A República da Armênia começou a enviar recrutas e soldados regulares do Ministério do Exército e Interior para lutar em Nagorno-Karabakh.[4]
Posições sobre a declaração de independência
[editar | editar código-fonte]Assembleia Geral das Nações Unidas
[editar | editar código-fonte]Em 14 de março de 2008, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou uma resolução não vinculativa por uma votação de 39–7, com cem abstenções, reafirmando a integridade territorial do Azerbaijão, expressando apoio às fronteiras internacionalmente reconhecidas daquele país e exigindo a retirada imediata de todas as forças armênias de todos os territórios ocupados lá. A resolução foi apoiada principalmente por membros da Organização para a Cooperação Islâmica (OIC) e da Organização para a Democracia e o Desenvolvimento Econômico (GUAM), dos quais o Azerbaijão é um país-membro, bem como outras nações que enfrentam regiões separatistas. A resolução foi criticada por todos os três membros do Grupo de Minsk da CSCE.[5]
Parlamento Europeu
[editar | editar código-fonte]Em 20 de maio de 2010, o Parlamento Europeu adotou uma resolução "sobre a necessidade de uma estratégia da União Europeia (UE) para o Cáucaso do Sul", onde afirma que a UE deve desenvolver uma estratégia para promover a estabilidade, a prosperidade e resolução de conflitos no Cáucaso do Sul.[6] A resolução "apela às partes para que intensifiquem os seus esforços em negociar a paz com o propósito de um acordo, para mostrar uma atitude mais construtiva e abandonar preferências para perpetuar o status quo criado pela força e sem legitimidade internacional, criando desta maneira instabilidade e prolongando o sofrimento das populações afetadas pela guerra; condena a ideia de uma solução militar e as pesadas consequências da força militar já utilizada, e exorta ambas as partes a evitarem mais violações do cessar-fogo de 1994". A resolução também pede a retirada das forças armênias de todos os territórios ocupados do Azerbaijão, acompanhadas do envio de forças internacionais a ser organizado com respeito da Carta das Nações Unidas, a fim de fornecer as garantias de segurança necessárias em um período de transição, preservando a segurança da população de Nagorno-Karabakh e garantindo que as pessoas deslocadas regressem às suas casas. A resolução afirma, ainda, que a UE considera que a posição segundo a qual Nagorno-Karabakh inclui todos os territórios azeris ocupados em torno de Nagorno-Karabakh deve ser rapidamente abandonada. Também observa "que um estatuto provisório de Nagorno-Karabakh poderia oferecer uma solução até que o status final seja determinado, e que poderia criar um quadro transitório para a coexistência pacífica e a cooperação das comunidades da Armênia e do Azerbaijão na região."[7]
Em outubro de 2013, o Parlamento Europeu aprovou a resolução sobre a Política Europeia de Vizinhança, em que se afirma que a ocupação por um país da Parceria Oriental (que inclui a Armênia e Azerbaijão) do território de outro "viola os princípios e objetivos fundamentais da proposta, e que a resolução do conflito do Nagorno-Karabakh deve cumprir as resoluções do Conselho de Segurança da ONU de n.ºs 822, 853, 874 e 884 de 1993, além dos princípios básicos do Grupo de Minsk da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), consagrados na Declaração conjunta de 10 de julho de 2009.[8]
Grupo de Minsk da CSCE
[editar | editar código-fonte]Em 26 de junho de 2010, os presidentes dos países copresidentes do Grupo de Minsk da CSCE — França, Federação Russa e Estados Unidos — apresentaram uma declaração conjunta, reafirmando o seu "compromisso em apoiar os líderes da Armênia e do Azerbaijão no cumprimento dos princípios básicos para a resolução pacífica do conflito de Nagorno-Karabakh".[9]
Rússia
[editar | editar código-fonte]Em 2006, a Rússia publicou o seu 63.º volume da Grande Enciclopédia da Rússia, onde descrevia o Nagorno-Karabakh, na sua introdução para a região, como uma entidade independente que pertencia aos armênios historicamente.[10] O Azerbaijão tem protestado contra esta passagem na enciclopédia russa. O governo azeri entregou uma carta de protesto ao embaixador russo no Azerbaijão exigindo que a enciclopédia fosse confiscada e alterada.[10]
Estados Unidos
[editar | editar código-fonte]Nos Estados Unidos, sete estados aprovaram leis reconhecendo Artsaque: Rhode Island (2012),[11] Massachusetts (2012),[12] Maine (2013),[13] Louisiana (2013),[14] Califórnia (2014),[15][16] Havaí (2016)[17] e Geórgia (2016).[18]
Em contrapartida, os estados de Arizona e Novo México aprovaram leis reconhecendo a integridade territorial total do Azerbaijão, em 2014.[19][20]
Referências
- ↑ «Statement of the Co-Chairs of the OSCE Minsk Group». OSCE. Consultado em 25 de junho de 2011
- ↑ http://www.newsru.com/russia/17nov2006/aup.html
- ↑ Ozcan, Yusuf (4 de dezembro de 2020). «French National Assembly approves decision on Karabakh». Anadolu agency. Consultado em 19 de dezembro de 2020
- ↑ a b «Human Rights Watch World Report 1995». Hrw.org. Consultado em 6 de maio de 2012
- ↑ «UNO Department of Public Information. General Assembly adopts resolution reaffirming territorial integrity of Azerbaijan, demanding withdrawal of all Armenian forces». Un.org. Consultado em 6 de maio de 2012
- ↑ cs - čeština (20 de maio de 2010). «South Caucasus: EU must help stabilise the region, say MEPs». Europarl.europa.eu. Consultado em 6 de maio de 2012
- ↑ cs - čeština. «Texts adopted – Thursday, 20 May 2010 – The need for an EU strategy for the South Caucasus – P7_TA-PROV(2010)0193». Europarl.europa.eu. Consultado em 6 de maio de 2012
- ↑ European Neighbourhood Policy, working towards a stronger partnership: EP's position on the 2012 progress reports. 23 October 2013.
- ↑ «G8 Summit: Joint Statement On The Nagorno-Karabakh Conflict by Dmitry Medvedev, President Of The Russian Federation, Barack Obama, President Of The United States Of America, and Nicolas Sarkozy, President Of The French Republic». Whitehouse.gov. 26 de junho de 2010. Consultado em 6 de maio de 2012
- ↑ a b «APA». En.apa.az. Consultado em 6 de maio de 2012. Arquivado do original em 25 de março de 2012
- ↑ Rhode Island Legislature Calls For Nagorno-Karabakh Recognition, RFE/RL, 2012
- ↑ Massachusetts State Legislature Calls For Recognition Of Nagorno-Karabakh, RFE/RL, 2012
- ↑ [1]
- ↑ [2]
- ↑ White, Jeremy B. (8 de maio de 2014). «Capitol Alert: California Assembly calls for Nagorno-Karabakh Republic». Fresno Bee. Arquivado do original em 8 de maio de 2014
- ↑ Mason, Melanie (5 de maio de 2014). «Calif. lawmakers to weigh in on dispute between Armenia, Azerbaijan». LA Times
- ↑ «State of Hawaii Recognizes Independence of Nagorno Karabakh Republic». Massis Post. 29 de março de 2016
- ↑ «Georgia House Recognizes Independence of Nagorno-Karabakh Republic». Asbarez. 3 de março de 2016. Consultado em 4 de março de 2016
- ↑ «Arizona Legislature supports Azerbaijan's territorial integrity». Consulate General of the Republic of Azerbaijan in Los Angeles. 30 de janeiro de 2014. Consultado em 4 de abril de 2016
- ↑ Sabina Ahmadova (14 de fevereiro de 2014). «Senate of U.S. State of New Mexico adopts resolution on Azerbaijan». Trend News Agency. Consultado em 4 de abril de 2016