Salette Tavares
Salette Tavares | |
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Nascimento | 31 de março de 1922 Lourenço Marques |
Morte | 30 de maio de 1994 (30 anos) Lisboa |
Residência | Mouraria, Lisboa |
Nacionalidade | Português |
Ocupação | Escritora |
Prémios | Prémio P.E.N. Clube Português de Poesia (1993) |
Magnum opus | Obra Poética – 1957/1973 |
Salette Tavares (Lourenço Marques, 1922 - Lisboa, 1994) foi uma escritora, poeta e ensaísta portuguesa.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Salette Tavares nasceu a 31 de Março de 1922, em Moçambique, na cidade de Lourenço Marques (hoje em dia Maputo). Aos onze anos mudou-se para Sintra (Portugal) e viveu em Lisboa até 1994, ano em que morreu, a 30 de Maio, aos 72 anos.[1][2]
Fez o curso de Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade de Lisboa, licenciando-se em 1948 com a tese Aproximação ao pensamento concreto de Gabriel Marcel, que seria publicada nesse mesmo ano, em Lisboa.[3][4]
Na década de 1950, lecionou História no ensino liceal e iniciou investigações com barro e olaria, experiências que viriam a traduzir-se na criação dos primeiros objetos de poesia espacial. Em 1957, publicou o primeiro volume de poesia, intitulado Espelho Cego. Foi também durante este período que obteve uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, através da qual fez uma especialização emEstética (em França e Itália, com Mikel Dufrenne, Étienne Souriau e Gillo Dorfles).[5]
Em 1959, traduziu e prefaciou a edição portuguesa de Pensamentos de Pascal. No mesmo ano, traduziu As maravilhas do cinema de Georges Sadoul.[6][7] Uma tradução de Fuenteovejuna, de Lope de Vega, permanece, até hoje, inédita.[8]
Em 1964, a par de ter colaborado com “Brin Cadeiras” no primeiro número da revista Poesia Experimental (António Aragão e Herberto Helder orgs.,Cadernos de Hoje), viajou para os Estados Unidos, onde visitou as cidades de Nova Iorque, Chicago e Filadélfia. Durante esse período, estabeleceu contacto com Philip Johnson, Frank Lloyd Wright e Mies Van der Rohe, tendo visitado vários museus e coleções particulares.[2]
É considerada uma das figuras incontornáveis da Poesia Experimental Portuguesa, tendo participado em diversas atividades promovidas no decorrer dos anos 1960-1980. Integrou a exposição coletiva Visopoemas (1965), participou no happening Concerto e Audição Pictórica (realizado na Galeria Divulgação, com Jorge Peixinho, António Aragão, E. M. de Melo e Castro, Mário Falcão, Clotilde Rosa e Manuel Baptista) e, em 1966, voltou a colaborar no segundo número da revista Poesia Experimental, apresentando “Brincade Iras / irras / B irras”.
Durante os anos 1960, escreveu Poemas do Soporífero, obra que permaneceu inédita até à sua inclusão em Obra Poética 1957-1971, e publicou as obras Concerto em Mi Maior para Clarinete e Bateria (1964), 14563 Letras de Pedro Sete (1965) e Quadrada (1967).[9]
Após o regresso a Portugal, lecionou Estética na Sociedade Nacional de Belas Artes, tendo publicado as lições correspondentes, sem ilustrações, na revista Brotéria.[10] Um livro intitulado A Dialética das Formas, que constitui uma versão mais completa dessas mesmas lições, esteve composto em 1972, mas permanece inédito.
No ano de 1971, publicou Lex Icon, obra cuja edição italiana (1977) conta com um prefácio da autoria de Gillo Dorfles. Em 2024, a obra foi traduzida para inglês por Isabel Sobral Campos e Kristofer J. Petersen-Overton, tendo sido publicada pela editora norte-americana Ugly Duckling Presse.
Durante os anos 1970, Salette Tavares foi presidente da AICA portuguesa, tendo também dado a conhecer a sua obra em diversas exposições, em Portugal e no estrangeiro. Em 1979, apresentou a exposição retrospetiva Brincar, na Galeria Quadrum[11].
Foi responsável pela divulgação, em Portugal, da Teoria da Informação de Abraham Moles, da análise estruturalista da arquitetura e da Estética Nova de Wilhelm Worringer.
Exposições
[editar | editar código-fonte]- 1979 - Retrospectiva da sua poesia visual na Galeria Quadrum, numa exposição chamada Brincar [10]
- 2010 - Exposição "Desalinho das Linhas" no Centro Cultural de Belém (CCB).
- 2013 - Exposição "Poesia Experimental Portuguesa" em Serralves no Centro de Ovar
- 2014 - Exposição no CAM - Fundação Calouste Gulbenkian, onde foram reunidos diversos trabalhos seus, abarcando a produção literária e a prática artística, estendendo-se à poesia visual, à sua exploração tridimensional, e à produção de objectos.
Obras Seleccionadas
[editar | editar código-fonte]Obras publicadas em vida[12]
[editar | editar código-fonte]- 1957 - Espelho cego, Lisboa, editora Ática [3]
- 1961 - Concerto em Mi Maior para Clarinete e Bateria, Lisboa, s.n.
- 1965 - 14 563 letras de Pedro Sete, Lisboa, Livraria Fomento de Cultura
- 1967 - Quadrada, Lisboa, Moraes Editores.
- 1971 - Lex Icon, Lisboa, Moraes Editores [13]
- 1977 - Lex Icon, edição italiana, Milano, Scheiwiller
- 1979 - Brincar [Catálogo], Lisboa, Galeria Quadrum [14]
- 1984 - Inéditos, Milano, Vanni Scheiwiller
- 1992 - Obra poética (1957-1971), Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, com introdução de Luciana Stegagno Picchio
Edições póstumas
[editar | editar código-fonte]- 1995 - Poesia Gráfica, Lisboa, Casa Fernando Pessoa [15]
- 2014 - Poesia Espacial, Lisboa, CAM - Fundação Calouste Gulbenkian, ISBN 978-972-635-292-1 [16]
- 2017 - Lex Icon, edição fac-similada, Lisboa, Tigre de Papel
- 2019 - Irrar, Lisboa, Tigre de Papel, com prefácio de Catherine Dumas.[17]
- 2019 - O Kágado, Baile Mececânico, Anonimatógrafo, Lisboa, Tigre de Papel, com prefácio de Manuel Portela[18]
- 2019 - Outro Outro, Lisboa, Tigre de Papel, com prefácio de Rui Torres[19]
- 2020 - Lex Icon, 2ª ed., Lisboa, Tigre de Papel[20]
- 2022 - Obra Poética: 1957-1994, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda[21]
- 2022 - Sintra no Jardim da Esmeralda, Lisboa, Tigre de Papel
- 2024 - Antologia. Poesia, Lisboa, Tigre de Papel[22]
- 2024 - Cartas e Letras de Pedro Sete, Lisboa, Tigre de Papel, com posfácio de Rui Lopo[23]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Infopédia. «Salette Tavares - Infopédia». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 9 de julho de 2021
- ↑ a b «Tavares, Salette». Ulyssei@s, uma enciclopédia digital sobre Escritores e outros Criadores em Deslocação
- ↑ a b «Salette Tavares». MUSEU NACIONAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA DO CHIADO. Consultado em 9 de julho de 2021
- ↑ «Aproximação do pensamento concreto de Gabriel Marcel». Metro Boston Library Network (em inglês). Consultado em 9 de julho de 2021
- ↑ «Salette Tavares - Ulyssei@s»
- ↑ «Pensamentos / Blaise Pascal, trad. e pref. de Salette Tavares». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 9 de julho de 2021
- ↑ «As maravilhas do cinema / Georges Sadoul, trad. de Salette Tavares». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 9 de julho de 2021
- ↑ «Curriculum Vitae – Arquivo Digital da PO.EX». 10 de maio de 1985. Consultado em 18 de outubro de 2024
- ↑ «Tavares, Salette – Ulyssei@s». Consultado em 18 de outubro de 2024
- ↑ a b Alves, Margarida Brito (31 de julho de 2017). «Entre a casa, o mar e a galeria. Os objetos animados de Salette Tavares». MIDAS. Museus e estudos interdisciplinares (8). ISSN 2182-9543. doi:10.4000/midas.1251. Consultado em 9 de julho de 2021
- ↑ «Brincar [Introdução e catálogo das obras expostas] – Arquivo Digital da PO.EX». 3 de março de 1979. Consultado em 18 de outubro de 2024
- ↑ «Obras de Salette Tavares no catálogo da Biblioteca Nacional de Portugal». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 9 de julho de 2021
- ↑ «Lex icon / Salette Tavares». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 9 de julho de 2021
- ↑ «Brincar: brincadeiras / Salette Tavares». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 9 de julho de 2021
- ↑ «Poesia gráfica [ Visual gráfico] : Salette Tavares». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 9 de julho de 2021
- ↑ «Salette Tavares : poesia especial». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 9 de julho de 2021
- ↑ Tavares, Salette (2019). «Irrar». Arquivo Digital da PO.EX
- ↑ Portela, Manuel (2019). «Prefácio de Manuel Portela ao livro «O Kágado» de Salette Tavares.». Arquivo Digital da PO.EX
- ↑ Torres, Rui (2019). «"Outra Outra" - Prefácio de Rui Torres ao livro «Outro Outro», de Salette Tavares.». Arquivo Digital da PO.EX
- ↑ Tavares, Salette. «Lex Icon (2ª ed.)». Arquivo Digital da PO.EX
- ↑ Tavares, Salette. «Obra Poética 1957-1994». Arquivo Digital da PO.EX
- ↑ «Antologia. Poesia». Arquivo Digital da PO.EX
- ↑ «Cartas e Letras de Pedro Sete». Arquivo Digital da PO.EX
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Dorfles, Gillo (1992) "Prefácio à Edição Italiana" in: Tavares, Salette- Obra Poética 1957-1971. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.
- Hatherly, Ana (1995) "Salette Tavares e a Poesia Experimental" in Poesia Gráfica. Lisboa: Casa Fernando Pessoa.[1]
- Hatherly, Ana; de Melo e Castro, E.M. (1981) "PO-EX, Textos Teóricos e Documentos da Poesia Experimental Portuguesa". Lisboa: Moraes Editores.
Ligações Externas
[editar | editar código-fonte]- Salette Tavares declama um poema do livro "Espelho Cego" no programa Perfil da RTP em 1978 - Arquivos RTP
- ArtsandCulture (Google) - Salette Tavares
- Arquivo Digital da PO.EX
- ↑ «Salette Tavares e a Poesia Experimental – Arquivo Digital da PO.EX». 9 de março de 1995. Consultado em 18 de outubro de 2024