Sambalanço
Sambalanço | |
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Waldir Calmon em 1957. | |
Origens estilísticas | Samba (especialmente o samba-exaltação), jazz e ritmos latinos |
Contexto cultural | Urbanização pós-Segunda Guerra Mundial no Brasil |
Instrumentos típicos | Piano, órgão e/ou teclados elétricos precursores; instrumentos de sopro; contrabaixo; e Bateria |
Popularidade | Brasil, de meados da década de 1950 até meados da década de 1960 |
Formas derivadas | Samba jazz e samba-rock |
Formas regionais | |
São Paulo e Rio de Janeiro | |
Outros tópicos | |
Pilantragem, samba-funk |
O Sambalanço (samba de balanço) é um gênero musical derivado do samba que se desenvolveu do início da década de 1950 até meados da década de 1960 no Brasil, especialmente nos seus dois maiores centros, São Paulo e Rio de Janeiro, refletindo as mudanças pelas quais esse gênero passou após a Segunda Guerra Mundial para responder a novas exigências culturais que a urbanização do país trouxe. Tendo como raízes o samba, especialmente o samba-exaltação, modificado através da infusão de novos elementos vindos do jazz estadunidense e de ritmos caribenhos - esses últimos especialmente no papel desempenhado pelos instrumentos de sopro -, os artistas de sambalanço desenvolveram um som extremamente ritmado e dançante, com temáticas extrovertidas e bem-humoradas.
Características
[editar | editar código-fonte]O sambalanço é um gênero musical difuso, no sentido de que diversos artistas lançaram canções utilizando-se de sua linguagem e de suas temáticas, mas a sua teorização por estudiosos e mesmo pela crítica musical da época é pouco densa, ficando o estilo à sombra de outras manifestações musicais da época, especialmente da bossa nova.[1]
Linguagem musical
[editar | editar código-fonte]Desse modo, o sambalanço apresenta algumas características bem constantes: a utilização de órgãos e teclados elétricos precursores - como o Sonovox - para conduzir o ritmo; e instrumentos de sopro de marcação rítmica acentuada, com inclinação percussiva e, às vezes, mostrando influências de ritmos caribenhos.[1][2]
Temática
[editar | editar código-fonte]A temática do sambalanço é variada: contém temas urbanos, com letras extrovertidas e quase sempre bem-humoradas, além de algumas incursões em temas próximos do samba-exaltação. Uma característica marcante é o apelo a onomatopeias - como "esquindô", "teleco-teco" ou "ziriguidum" - para se referir ao suingue, ao balanço do ritmo.[3][4]
Etimologia
[editar | editar código-fonte]No Brasil, acredita-se que o termo "samba" foi uma corruptela de "semba" (umbigada), palavra de origem africana - possivelmente oriunda de Angola[5] ou Congo, de onde vieram a maior parte dos escravos para o Brasil. O registro mais antigo da palavra samba ocorreu no Diario de Pernambuco de 4 de agosto de 1830, em matéria combatendo o envio de soldados para o interior como medida disciplinar, já que lá descambariam na ociosidade, entretendo-se “nas pescarias de currais [armadilhas de apanhar peixe], e trepações de coqueiros, em cujos passatempos será recebida com agrado a viola, e o samba”.[6] De acordo com Hiram da Costa Araújo, ao longo dos séculos, as festas de danças dos negros escravos na Bahia eram chamadas de "samba". No Rio de Janeiro, no entanto, a palavra só passou a ser conhecida ao final do século XIX, quando era ligada aos festejos rurais, ao universo do negro e ao "norte" do país, ou seja, a Bahia.[7]
Assim, a palavra sambalanço é uma união da palavra "samba" - o ritmo originário - com a palavra "balanço" - representando o suingue adicional que este gênero tem, já que destinado a ser dançado em casas de bailes, em pistas de dança de boates.[8]
História
[editar | editar código-fonte]Origens
[editar | editar código-fonte]Este gênero musical faz parte das inovações pelas quais o samba passou após a Segunda Guerra Mundial, devido à crescente urbanização do país - especialmente na efervescência cultural verificada nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro - que mudou o eixo da produção, do consumo, e a própria temática da música popular.[9] Assim, surgiu no início da década de 1950 em boates de São Paulo e do Rio de Janeiro a partir da necessidade de dar mais impacto rítmico e nova estruturação instrumental ao samba, de modo a permitir a evolução de pares de dançarinos em pistas de dança. Assim, já apresenta influência do jazz.[1]
A primeira gravação do gênero foi um compacto com Samba Que Eu Quero Ver, no lado A, e Bicharada, no lado B, feita por Djalma Ferreira e seus Milionários do Ritmo para a gravadora Gravações Elétricas S.A., selo Continental, em 1951.[10][11][12]
Discografia principal
[editar | editar código-fonte]Discografia dada por Tárik de Souza.[13]
- 1953 - Parada de Dança Nº 1 - Djalma Ferreira e seus Milionários do Ritmo (Musidisc)
- 1956 - Samba... Alegria do Brasil - Waldir Calmon e sua Orquestra (Discos Rádio)
- 1958 - Drink - Djalma Ferreira e seus Milionários do Ritmo (Drink Discos)
- 1959 - Drink no Rio de Janeiro - Djalma Ferreira e seus Milionários do Ritmo (Drink Discos)
- 1960 - Convite ao Drink - Djalma Ferreira e seus Milionários do Ritmo (Drink Discos)
- 1960 - Um Novo Astro - Miltinho (Rozenblit, selo Sideral)
- 1960 - Se Acaso Você Chegasse - Elza Soares (Odeon Records)
- 1960 - A Bossa Negra - Elza Soares (Odeon Records)
- 1961 - Samba em Tu - Miltinho (RCA Victor)
- 1961 - Ed Lincoln, seu Piano, seu Órgão Espetacular - Ed Lincoln (Musidisc)
- 1961 - Samba é Samba - Walter Wanderley (Odeon Records)
- 1961 - João Roberto Kelly e os Garotos da Bossa - João Roberto Kelly (Rozenblit, selo Mocambo)
- 1961 - Os Grandes Sucessos de Miltinho - Miltinho (RGE)
- 1962 - Novo Feito para Dançar "D" – Waldir Calmon e seu Conjunto (Copacabana)
- 1962 - Tem que Balançar – Pedrinho Rodrigues (Musidisc)
- 1962 - Jadir no Samba – Jadir de Castro (CID Entertainment, selo Pawal)
- 1962 - Samba de Balanço – Luís Reis e seu Ritmo Contagiante (Philips)
- 1962 - A Chave do Sucesso – Orlandivo (Musidisc)
- 1963 - Ed Lincoln, seu Piano, seu Órgão Espetacular - Ed Lincoln (Musidisc)
- 1963 - Orlann Divo - Orlandivo (Musidisc)
- 1963 - Eu... Miltinho - Miltinho (RGE)
- 1963 - Bossa & Balanço – Miltinho (RGE)
- 1963 - Gostoso É Sambar – Dóris Monteiro (Philips)
- 1963 - Na Roda do Samba – Elza Soares (Odeon)
- 1963 - Amor Demais – Silvio Cesar (Musidisc)
- 1964 - Sem Carinho, Não – Sílvio César (Musidisc)
- 1964 - A Volta – Ed Lincoln (Musidisc)
- 1964 - Samba a 4 Mãos – João Roberto Kelly e Luís Reis (RCA)
- 1964 - Lição de Balanço – Ed Maciel, Zé Bodega, Tenório Jr., Copinha, Dom Um Romão, Rubens Bassini, Cipó, Humberto Garin, Jorginho, Dálgio e Julinho Barbosa (RGE)
- 1965 - Samba em Paralelo – Orlandivo (Musidisc)
- 1966 - Ed Lincoln - Ed Lincoln (Musidisc)
- 1968 - Ed Lincoln - Ed Lincoln (Savoya Discos)
- 1977 - Orlandivo - Orlandivo (Copacabana)
- 2005 - Samba Flex – Orlandivo (Deckdisc)
Compositores
[editar | editar código-fonte]São importantes, também, os compositores Haroldo Barbosa, Luís Antônio e Luís Bandeira.[14]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c Souza, 2010, p. 31.
- ↑ Júlio Maria (4 de janeiro de 2017). «Sambalanço, o gênero que colocou o Rio de Janeiro na pista, é tema de livro». Estado de S.Paulo. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ Souza, 2010, p. 35.
- ↑ Nahima Maciel (27 de fevereiro de 2017). «Livro conta a história do sambalanço, movimento musical esquecido pelo Brasil». Uai. Consultado em 7 de dezembro de 2018
- ↑ «Artistas nacionais à conquista do mundo». O País Online. Consultado em 18 de outubro de 2017
- ↑ Lira Neto, 2017.
- ↑ Diniz, 2006, p.16.
- ↑ «Sambalanço». Michaelis On-line. N.d. Consultado em 11 de dezembro de 2018
- ↑ Souza, 2010, p. 32.
- ↑ Souza, 2010, p. 33.
- ↑ Joaquim Ferreira dos Santos (29 de março de 2017). «Samba Que Eu Quero Ver». Rádio Batuta. Consultado em 17 de outubro de 2023
- ↑ «78 RPM». Instituto Memória Musical Brasileira. N.d. Consultado em 10 de dezembro de 2018
- ↑ Souza, 2010, p. 39.
- ↑ Souza, 2010, p. 31-39.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- André Diniz da Silva. Almanaque do samba. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 2006. ISBN 8571108978.
- LIRA NETO. Uma história do samba: as origens. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. ISBN 9788535928563.
- SOUZA, Tárik de. Tem mais samba: das raízes à eletrônica. São Paulo: Editora 34, 2003. ISBN 9788573262872.
- SOUZA, Tárik de. A bossa dançante do sambalanço. Revista USP, n. 87, set-nov de 2010, pp. 28-39. ISSN 0103-9989.
- SOUZA, Tárik de. Sambalanço, a bossa que dança - um mosaico. São Paulo: Karup editora, 2017. ISBN 9788568494103.